O que a elite midiática ainda não entendeu
Essa elite ainda não entendeu nada. Os que se manifestaram diante do shopping Higienópolis e na avenida Angélica no último sábado, não foram às ruas para que seja construída uma estação de metro e tampouco são diferentes dos cidadãos do bairro de Higienópolis.
Parece que a brincadeira que levou dezenas de milhares de jovens a dizerem no Facebook que pretendiam fazer um churrascão diante do shopping daqueles que acham que quem não mora ali é “diferenciado”, foi levada ao pé da letra. A maioria, porém, só estava brincando.
Todavia, alguns acharam boa uma idéia que, inicialmente, foi apenas uma brincadeira de um rapaz de 24 anos, Danilo Saraiva, jornalista, que não tem qualquer militância política, como vem fazendo questão de frisar nos últimos dias. É tão neófito em militância política que chegou a ficar assustado com a dimensão que sua brincadeira tomou.
Há, também, outros que parece que não entenderam a razão do protesto ou quem são os que decidiram protestar.
Vários colunistas da grande imprensa – coincidentemente, os que residem em Higienópolis – estão se esforçando para mostrar que, naquele bairro, vige uma mentalidade que pode até não ser de todos, mas é de boa parte dos que ali vivem.
Colunistas da Folha e da Veja, por exemplo, como Sergio Malbergier e Fernando de Barros e Silva, do primeiro veículo, ou Reinaldo Azevedo, do segundo. Todos, entre outros, foram ao churrascão e depois “denunciaram” que não viram gente miserável, mas de classe média.
Juram? Quer dizer que não havia esfomeados e maltrapilhos entre aqueles que viram o protesto no Facebook, que tem sido identificada como a rede social para qual a classe média migrou, fugindo da popularização do Orkut?
Deixem de ser ridículos, meus caros colunistas. É óbvio que havia gente das classes B e C, apenas, entre os que foram para diante da Folha. Havia gente que mora até em bairros ditos “nobres”, como este primário blogueiro, mas também havia gente de Perus, Itaquera…
O colunismo paulista também tenta desviar a questão lembrando que há lugares mais importantes para se construir metrô do que na avenida Angélica. Aliás, concordo. Estações de metrô têm que ir até a periferia para transportar para o centro a massa que se espreme desumanamente em ônibus e lotações diariamente.
O protesto, porém, não foi convocado por isso e, sim, porque estação de metrô que seria construída em Higienópolis deixou de ter projeto por ordem do governador Geraldo Alckmin só para atender aos interesses de um número ínfimo de pessoas. E, também, devido ao preconceito de quem se acha mais igual…
Os colunistas também implicam com o número de manifestantes, fugindo da conclusão óbvia de que a maioria não levou o protesto a sério, achando que era só uma brincadeira. E depois que o autor do protesto manifestou medo de “violência”, tudo ficou ainda mais difícil, apesar de ele ter voltado atrás e mantido a convocação.
O que se está combatendo, então, é a velha prática de governantes se elegerem com o voto da maioria e governarem para a minoria – pois a estação que se pretendia construir certamente desafogaria o tráfego no centro e facilitaria a vida de quem ali trabalha – e um direito que os ricos brasileiros julgam ter que é incompatível com a cidadania.
De qualquer forma, não importa o que essa gente pensa ou escreve em seus jornalões e revistões, ou o que omite em suas redes de televisão. O fato é que esse episódio do “churrascão da gente diferenciada” mostra que as redes sociais estão mudando o mundo e que podem, agora, desmentir a imprensa.
No fim da tarde de sábado, por exemplo, a imprensa falava em 200, 300 manifestantes. Então, as redes sociais foram tomadas por fotos e vídeos do ato e em questão de 30, 40 minutos os veículos começaram a corrigir a informação, ainda que teimem em reduzir o número de manifestantes que fechou, literalmente, toda uma região.
A partir de agora, e cada vez mais, as pessoas pararão de depender dos meios de comunicação de massa tradicionais para que sua opinião seja formada e as informações que antes lhes eram “proibidas” serão difundidas como nunca antes.
A possibilidade de “tribos” se interconectarem é um fenômeno que permitirá alteração jamais vista na formação da opinião pública. Nada mais pode ser escondido por qualquer jornal, revista, rádio, tevê ou portal de internet. É isso o que estes ainda não entenderam.