A Procura da Felicidade
Da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América:
“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”.
Foi sob o espírito de tão eminente tratado dos direitos dos homens que o diretor italiano Gabriele Muccino dirigiu The Pursuit of Happyness, em português À Procura da Felicidade.
O ator negro Will Smith estrelou a produção norte-americana de 2006 vivendo Chris Gardner, pessoa real da qual contou uma das histórias mais verdadeiras sobre a realidade que ameaça o homem comum no capitalismo, realidade que este que relata viveu de forma praticamente idêntica no início de sua vida de casado, no início da penúltima década do século passado.
O personagem central da trama é um pai de família que enfrenta dificuldades financeiras vendendo aparelhos médicos que ninguém compra por serem caros. Gardner fica obstinado na luta pela sobrevivência e sustento da família. Contudo, em sua escalada, a mulher o abandona pela situação econômica que proporciona e ele fica com o filho.
Uma curiosidade: o ator-mirim que interpreta o filho de Gardner é filho de Will Smith na vida real.
Mas, como disse, o início da vida de pai de família do personagem do drama estadunidense é praticamente idêntico ao da minha, mas não é igual. Minha mulher, ao contrário da dele, sempre foi uma companheira fiel em todas as horas, sob quaisquer condições.
Gardner consegue vaga de estagiário em uma grande corretora de valores, enfrenta dificuldades imensas, acaba tendo que morar até em estações de metrô, em abrigos públicos, tudo com o filho pequeno que deixava durante o dia em uma creche pública enquanto trabalhava.
Nesse ponto, a situação de meu congênere de luta norte-americano foi melhor do que a minha porque, com minha mulher, vivi situação tal que tivemos que deixar a então única filha com os avós maternos por um ano, aos quais, apesar de serem pessoas de confortável situação financeira à época, jamais pedimos um grão de arroz. Por orgulho.
Moramos em habitações precárias, também. E, mais do que o homem que Smith interpretou, passamos fome, até.
Como Gardner, porém, Cristina e eu vencemos. Sempre juntos. Eu e ela. Tornei-me empresário como ele. Criei três filhos e dei a eles e a ela o que mereciam, que não era luxo e sim conforto necessário para a companheira se dedicar à criação dos filhos.
A história (real) do estadunidense Chris Gardner e a minha, porém, são exceções. Essa não é a realidade da maioria.
Muitos jamais vencem, e não vencem como eu ou meu congênere ianque vencemos, na juventude, porque a maioria não tem, em si, elementos que nos fizeram sobrepujar dificuldades extremadas. Muitos passam a vida sem encontrar a felicidade que a foto abaixo exibe.
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Talvez, ao Brasil, falte o que o senador senador Cristovam Buarque (PDT-DF) protocolou no Senado em meados do ano passado, Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para incluir o “direito à busca da felicidade” na Constituição.
O que o senador pedetista quer é reproduzir em nossa Carta Constitucional o mesmo direito “À vida, à liberdade e à procura da felicidade” que consta da Constituição dos Estados Unidos e que inspirou o título do filme em questão.
Talvez nos falte esse conceito, ao ideário nacional. Não a busca da felicidade financeira, apenas, mas o conceito de que sonhar com aquilo que talvez nunca se alcance plenamente, mas que se deve buscar incessantemente, é, acima de tudo, um direito fundamental do homem.
A partir do próximo domingo, tal qual Chris Gardner arrastarei pelos Andes volume como o “scanner de densidade óssea” que o personagem tentava empurrar a médicos relutantes – uma valise de caixeiro-viajante igual àquelas dos vendedores de medicamentos.
É a minha profissão. Paguei os estudos de três filhos com ela. Como para Gardner, neste momento as coisas estão difíceis para mim com o Brasil tendo a sua moeda tão valorizada. Mas, como meu congênere de Hollywood, sou obcecado pelo direito do homem à felicidade.
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The Pursuit of Hapyness
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