Cuidado com a Bolha!

Análise

Se você é medianamente informado sobre economia e negócios, já sabe que, durante a semana passada, ressurgiu um fantasma que vem assombrando os analistas econômicos há algum tempo, a bolha de consumo que estaria se formando no Brasil e que já teria atingido proporção preocupante.

O ritmo renitente de expansão da economia nacional, que começou a crescer com ímpeto impressionante após a crise financeira mundial de 2008, estaria para gerar estouros de bolhas que levariam a uma considerável desaceleração.

“As pessoas estão subestimando os problemas na economia brasileira”, adverte o analista Neil Shearing, economista sênior para mercados emergentes da conceituada consultoria britânica Capital Economics.

Entre os problemas estariam a expansão do crédito com juros altos, a incessante valorização do real, a inflação, a valorização das commodities no mercado internacional e a valorização descontrolada dos imóveis nas grandes cidades.

Como se sabe, a crise de 2008 eclodiu após a valorização dos imóveis nos EUA. Era uma quimera, pois não apenas os tomadores de empréstimos para comprá-los não teriam condições de pagar como os imóveis não valiam o preço pelo qual foram comprados.

Outro profeta do apocalipse é Amit Rajpal, gerente do fundo de investimentos Marshall Wace, de Hong Kong. Em artigo publicado no Financial Times, Rajpal e Paul Marhsall, diretor do Marshall Wace, vislumbram crise no setor de crédito do Brasil que se deveria ao aumento do endividamento das famílias, contraído com juros altos.

“O peso no fluxo de caixa das famílias é astronômico e está crescendo”, escreveram.

Já a consultoria britânica Capital Economics, que tem feito previsões otimistas sobre a economia brasileira no curto prazo, advertiu que, mais adiante, haverá “risco de que a economia superaqueça ou que bolhas comecem a inflar”.

A consultoria Capital Economics diz que a vulnerabilidade da economia brasileira reside “na força do fluxo de capitais para o país e o aumento rápido do crédito para o consumo interno”.

Como foi dito aqui há algum tempo, o excesso de divisas em países com grandes superávits comerciais como a China vai se manter, o que significa que os fluxos de capital para o Brasil também se manterão altos, já que buscam países com altas taxas de juros.

Trocando em miúdos: a China nos enche de dólares, valoriza a nossa moeda e depois nos entope com as suas exportações.

Depois de tantas más notícias, um refresco: os analistas dizem que essas bolhas devem estourar até 2013, mas descartam que venham a provocar uma recessão. A previsão é de um crescimento de 2% a 3%. Tal redução do crescimento, porém, aumentaria o desemprego.

Contudo, as vozes que consideram que a bolha vem aí para nos pegar, ainda são minoria. A maioria ainda enxerga muitas virtudes em nossa economia.

O economista americano John Williamson, do Institute for International Economics, de Washington, diz que não existem sinais de bolhas tão graves e que o maior problema para a economia brasileira é a sobrevalorização do real.

Outro otimista é Simon Knapp, da consultoria Oxford Economics. Ele diz que o aumento do crédito no Brasil não preocupa e não vê sinais de bolhas no setor. Segundo ele, a alta taxa de juros mantém o nível de expansão do crédito dentro de limites aceitáveis.

Particularmente, estou com a maioria. Não vejo possibilidade de estouro de todas essas bolhas e, sim, de desindustrialização do país devido ao câmbio, que está fazendo com que industriais de menor porte já substituam a produção própria por importações.

Escrevo de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, primeira parada de um giro que farei por países andinos nas próximas semanas. Venho a trabalho, para tentar fechar contratos de exportação para indústrias brasileiras que represento.

Neste périplo comercial, poderei mensurar o estrago que a nova onda de valorização do real fez em nosso comércio exterior de produtos industrializados. Não nutro esperanças de grandes negócios, mas imagino que ainda não tenhamos atingido o fundo do poço…

De qualquer forma, a postura do governo federal diante dessas e de outras questões, é preocupante.

O governo Dilma vai mal na política – já perdeu dois ministros de Estado e ontem a colunista da Folha Eliane Cantanhêde, que sabe todos os movimentos da oposição porque faz parte dela, já avisa que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, é o próximo.

A péssima comunicação deste governo ainda conseguiu um desastre: deve jogar o setor supermercadista nas mãos da gigante americana Walmart. A mídia conseguiu vender até para a esquerda que o Estado não deve se imiscuir na economia.

A fusão seria a única chance de não desnacionalizar totalmente esse mercado, mas, além do autismo na economia, parece haver problema ainda maior na política e, acima de tudo, na comunicação. Medroso, o governo deve deixar os gringos se apropriarem do setor.

Se fosse você, leitor, colocaria as barbas de molho. Ninguém sabe se o governo acordará antes que seja tarde. A bolha econômica talvez nem exista, mas a capacidade deste governo de se enrolar nas próprias pernas não deve ser subestimada.