O caso Dominique Strauss-Kahn
Publicado, originalmente, em 16 de maio de 2011
Leia, abaixo, matéria publicada hoje pela Folha de São Paulo e, em seguida, o post que escrevi quando o caso foi noticiado pela primeira vez. Evitem os comentários. Alguns me chamaram até de defensor de estuprador, naquela época.
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FOLHA DE SÃO PAULO
1 de julho de 2011
Caso Strauss-Kahn pode ter reviravolta
Camareira que acusa ex-diretor-gerente do FMI estaria envolvida com tráfico de drogas; promotoria vai se reunir hoje com defesa
Novas informações sobre o caso podem levar à revisão da fiança e da prisão domiciliar do francês
DE SÃO PAULO
O caso de abuso sexual de que é acusado o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn está a ponto de sofrer uma completa reviravolta, segundo notícia do jornal “New York Times”.
Strauss-Kahn foi acusado por uma camareira de um hotel em Nova York de tê-la estuprado quando ela foi limpar seu quarto. Ele nega.
Os testes forenses haviam confirmado o encontro sexual entre o político e a autora da acusação. Promotores, porém, desconfiam do que a camareira relatou sobre as circunstâncias do ato.
ACUSAÇÕES SUSPENSAS
A promotoria se reuniu ontem com os advogados de Strauss-Kahn. Eles detalharam os achados contra a camareira, para discutir a possível suspensão das acusações. Entre as descobertas está a de que a camareira pode estar ligada a crimes -incluindo tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Promotoria, defesa e juiz devem se encontrar hoje de manhã, em Nova York, e há a possibilidade de que a fiança anteriormente imposta a Strauss-Kahn -de US$ 1 milhão- seja atenuada.
Também há a perspectiva de que a prisão domiciliar do político seja flexibilizada. Hoje, ele passa 24 horas por dia vigiado por guardas armados, além de ser monitorado por equipamentos eletrônicos.
Apesar das possíveis atenuações no caso, o passaporte de Strauss-Kahn deve continuar retido, mas ele passará a poder viajar pelos EUA.
Após o escândalo, Strauss-Kahn renunciou ao seu cargo no FMI. A ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, assumiu o posto na terça-feira passada.
A promotoria, que a princípio enfatizava a robustez dos indícios contra Strauss-Kahn, deve dizer hoje no tribunal que há “problemas” com o caso, a partir das informações recém-descobertas. Eles farão exposição dos achados para a defesa.
De acordo com os agentes ouvidos pelo jornal, a camareira havia conversado por telefone com um homem encarcerado na época em que se encontrou com Strauss-Kahn.
Ela discutiu com ele os possíveis benefícios de acusá-lo, e a conversa foi gravada.
O homem em questão foi preso por carregar grandes quantidades de maconha. Ele faz, também, parte de um grupo de pessoas que realizou diversos depósitos na conta da camareira, totalizando US$ 100 mil, durante os dois últimos anos. Ela diz não saber do dinheiro.
A defesa de Strauss-Kahn já deixara claro que exploraria a credibilidade da mulher a favor do caso. A revisão deve contentar seus defensores, que alegavam ter havido precipitação no acolhimento das acusações da camareira.
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O francês Dominique Strauss-Kahn (62) é diretor-gerente do FMI. Além disso, é – ou era – o pré-candidato do Partido Socialista nas próximas eleições presidenciais em seu país. E está – ou estava – à frente em todas as pesquisas de opinião.
Em 14 de maio, foi detido no aeroporto John F. Kennedy, em Nova Iorque, pouco antes de embarcar para Paris. A acusação: abuso sexual contra a camareira do hotel em que estava hospedado naquela cidade, e que teria ocorrido horas antes.
Estupro é um crime que as sociedades começam a tratar com seriedade porque, por muito tempo, mulheres de toda parte suportaram caladas a essa agressão inominável devido a que sempre foi difícil provar a culpa dos agressores.
Segundo relatos, a camareira do hotel entrou na suíte de Strauss-kahn, ele saiu nu do banheiro e tentou estuprá-la. O testemunho dessa mulher, em um mundo em que se pratica o estupro impunemente, deve ser levado muito a sério.
Todavia, há facetas desse caso que chamam atenção.
O candidato a presidente do PS francês, que também ostenta grandes chances de se eleger e que é diretor de uma instituição do porte do Fundo Monetário Internacional, cometeria um crime tão grosseiro, sem se importar com nada?
Dirão que poderia estar drogado ou bêbado. Mas será que um homem que chegou aonde chegou Strauss-Kahn cometeria erro tão absurdo? Quantos candidatos a presidente de uma superpotência, e com tantas chances de vitória, já fizeram coisa parecida?
A mulher do acusado também saiu veementemente em sua defesa. Suas declarações parecem convictas de que a acusação que sofreu não tem o menor fundamento. Seria ela capaz de fazer defesa incondicional do marido só por medo do constrangimento?
É verdade que surgiram relatos de que Strauss-kahn sofreu acusação anterior de conduta reprovável com uma colega de trabalho, mas foi absolvido. E, além disso, não se pode esquecer de que é um político e políticos costumam ser alvo de armações.
Se armação houver, será possível identificá-la investigando a vítima da suposta tentativa de estupro. E se estava drogado ou alcoolizado, será igualmente fácil saber e certamente, a esta altura, já passou por exames toxicológicos.
Haverá que provar que houve violência contra a vítima e que não se tratou de extorsão ou armação política contra um homem proeminente. Mas, mesmo se for considerado inocente, as eleições já terão passado e o concorrente de Sarkosy terá sido anulado.