Com fusão dos supermercados

Análise

ATENÇÃO:

Por erro do blogueiro, o post original com este título foi apagado. Perderam-se os mais de 80 comentários. O texto foi republicado tal qual o original. O tema: fusão das redes de supermercados Carrefour e Pão de Açúcar.

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O país foi surpreendido por uma notícia no mínimo inexplicável: duas grandes redes de supermercados pretendem se unir e se tornar uma só, que deteria um terço do mercado. Como as demais redes seriam diminutas perto da gigantesca rede a ser formada, fica fácil prever o resultado. Por exemplo, os muitos que perderiam o emprego.

São facilmente inteligíveis as razões de qualquer um para discordar dessa fusão entre Carrefour e Pão de Açúcar. Sobretudo porque dizem que seria feita com dinheiro do BNDES. Ora, o que é que o governo quer com isso? Como colocar dinheiro público em um negócio que certamente seria ruim para o consumidor?

E, tal como está posto, não há dúvida de que o negócio seria ruim para todos. O poder de compra de uma empresa com um terço de um mercado em que se vende comida a quase 200 milhões de pessoas esmagaria os fornecedores e, com o passar do tempo, quebraria a concorrência, gerando mais oligopólio no setor supermercadista.

E o Cade, órgão que deveria fiscalizar e impedir a formação desse oligopólio com pretensões monopolistas, o que diz? Até agora, nada. Estão dizendo que nem começou a analisar nada, ao menos oficialmente.

Bem, então o governo enlouqueceu, porque, segundo se leu na grande imprensa, pretenderia financiar essa barbaridade. Sindicatos, partidos, imprensa, oposição, direita e esquerda, todos contra. Então me perguntei: mas e o governo, o que diz? E o BNDES, como explica dar financiamento a um processo tão aparentemente nefasto?

Começaram a surgir explicações. Aliados do governo explicam que se essa fusão não ocorrer metade do mercado supermercadista brasileiro cairá nas mãos do capital estrangeiro, pois o grupo francês que comprou metade do Pão de Açúcar irá assumir seu controle no ano que vem e a outra grande rede de supermercados que atua no Brasil, o Carrefour, também é francesa.

Aos poucos, surge a explicação de que o BNDES não iria financiar nada. Tem uma divisão de investimentos que gere capital privado e que iria investir e não financiar. Seria sócia do empreendimento em que se converteriam Carrefour e Pão de Açúcar. Ou seja: os recursos que seriam investidos na fusão, se não fosse realizada não iriam para Educação ou Saúde, mas para outros negócios privados.

É um pouco diferente do que o noticiário e as reações estão dando a entender. Ainda assim, é preciso identificar quais seriam o mal ou o bem em o mercado supermercadista brasileiro ser controlado por franceses.

Os defensores da fusão dizem que ficaria mais fácil para o Brasil colocar seus produtos para supermercados no exterior, o que a questão cambial põe em dúvida. Parece bem mais fácil que venha uma invasão de importados de todas as partes do mundo, onde o câmbio os torna muito mais baratos do que os similares nacionais.

Mas se o negócio não for feito, haverá desnacionalização do mercado supermercadista brasileiro. Estrategicamente, para o país não é bom ter os lucros de metade dos nossos supermercados voando para o exterior todo ano. Por outro lado, haveria investimento porque o setor está crescendo. Só tem um problema: no Brasil não falta dinheiro para investir, sobretudo com o governo apoiando…

Ou seja: a iniciativa do negócio é puramente estratégica. Contam com que o mercado absorva facilmente os desempregados que se prevê que resultariam da fusão. E os que, no governo, parecem pender para o lado desse negócio julgam que não se pode entregar tanto lucro do setor a estrangeiros se as baixas desse movimento podem ser facilmente recuperadas.

Resta, porém, a questão do controle do mercado e do possível aumento de preços para o consumidor. A tal possibilidade pode-se contrapor a argumentação de que o objetivo da fusão seria conseguir preços mais baixos para ganhar competitividade diante da concorrência, pois não teria sentido conseguir preços mais baixos na compra e aumentar o preço de venda.

Seria muito mais provável que a mega rede de supermercados conseguisse maior poder de barganha e forçasse os preços para baixo para ganhar mercado. Uma rede não vai se formar para se tornar menos competitiva.

Todavia, o poder desse novo grupo seria muito grande e, assim, terminaria por inviabilizar a concorrência, que lhe venderia suas lojas, o que aumentaria o oligopólio. No entanto, a lei brasileira não permitiria. Políticas públicas de fomento ou de investimento na concorrência fragilizada do mega supermercado resolveriam o problema.

Tudo isso, porém, é apenas especulação e foi por isso que escrevi, o tempo todo, no condicional. Baixinho, baixinho, pois não sabe se comunicar, o governo explica que tudo isso ainda é uma hipótese em estudo.

Seja como for, o debate é positivo. Mas se for para ser travado assim, com gritaria de um lado e sussurros do outro, será melhor o BNDES pular fora logo desse negócio e o Cade tratar de vetá-lo de uma vez, porque a grande maioria não entenderá a intrincada explicação acima, que, além de tímida, ainda parece bastante confusa.