Supermercados se fundem e você…
Apesar da provocação do título, não se vai bradar aqui também contra essa nova terrível praga que se agiganta no horizonte depois da praga da inflação, a penúltima que destruiria o país após oito anos de pragas terríveis caindo todos os dias sobre as nossas cabeças, como a febre amarela, a gripe suína, a crise econômica internacional etc., etc., etc.
A ex-futura, provável e hipotética fusão das redes de supermercados Pão de Açúcar e Carrefour está criando mais um surto de pânico. As redes de supermercados, ao se fundirem, como disse um dos nossos leitores mais assíduos – um dos que mais discordam do que aqui se escreve – farão com que um rolo de papel higiênico passe a custar 10 reais.
Deixe-me ver se entendi… Duas grandes redes, uma franco-brasileira e outra exclusivamente francesa que disputam palmo a palmo entre si, com uma rede americana de supermercados e com milhares de supermercados menores a oferta de melhores condições aos clientes, como conforto e preços baixos, querem se unir para subir preços?
E agora vem o pior: o governo Dilma quer ajudar os supermercados a ferrarem o consumidor. Afinal, a presidente está esbanjando popularidade e resolveu perder um pouquinho. Assim, quer tirar dinheiro da Saúde, da Educação, da Segurança, da Banda Larga etc. e doar a alguns milionários para que tornem a dura vida do brasileiro um pouquinho mais dura.
Se não é isso o que você pensa, nas próprias cantilenas dos que assustam o povão com a disparada nos preços dos supermercados a gente vê a sugestão de que uma eventual – e ainda incerta – fusão das redes Carrefour e Pão de Açúcar iria, isso sim, esmagar a concorrência reduzindo muito os seus preços graças ao seu agora maior poder de barganha.
O consumidor perderia? De início, não. Ganharia preços mais baixos. Com o tempo, porém, segundo as teorias alarmistas seria reduzida a rede de lojas, tanto pelas que seriam fechadas na fusão quanto pela concorrência que iria quebrar por “perder competitividade”, ainda que não se entenda por que a concorrência da nova mega rede quebraria tendo melhores preços.
Ora, se a nova mega rede de supermercados vai aumentar preços, a concorrência pode simplesmente não aumentar, certo? E, se não aumenta, ganha mercado, correto? A menos que a nova rede use o seu maior poder de compra para forçar preços para baixo. Aliás, as teorias alarmistas dizem uma contradição mais ou menos assim:
“A fusão das redes de supermercados Pão de Açúcar e Carrefour forçará preços de compra para baixo e preços de venda para cima”.
Não entendo. Por que a população iria comprar na mega rede pagando mais caro em vez de ir à rede Walmart, por exemplo, pagar mais barato? Ou a potência mundial Walmart subiria seus preços também, apesar de ser concorrente feroz das redes internacionais Carrefour e Casino?
Uma carta de leitor em um jornal sugere exatamente isso, que a fusão das redes de supermercados iria aumentar preços, mas também iria quebrar a concorrência por diminuir preços. Tudo no mesmo texto. Quer ver?
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Com a provável unificação dos grupos Pão de Açúcar e Carrefour (…) mais uma tendência comercial vai se confirmar num futuro próximo: o fim da concorrência.
Isto é péssimo para o consumidor, para o microempreendedor e para o trabalhador brasileiro.
Além de termos de aceitar os preços dos produtos estabelecidos por uma única rede, estaremos implodindo os pequenos comerciantes por falta de competitividade no mercado.
É triste pensar que tudo isso vai acontecer com a aprovação e o incentivo dos cofres públicos brasileiros.
EDILSON BROCHINE (São Carlos, SP)
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Captou, leitor? “Aceitar os preços dos produtos estabelecidos por uma única rede” só pode ser ruim se os preços aumentarem, é óbvio. E os “pequenos comerciantes” só perderão “competitividade” se não conseguirem empatar com os preços dos grandes.
Nem adianta mais dizer que com o incentivo do BNDESPar não haveria dinheiro público sendo tirado da Saúde ou da Educação ou da Banda Larga e sendo doado a milionários donos de supermercados, pois conseguiram transformar o investimento dos fundos de dinheiro privado administrado por aquela divisão do BNDES em dinheiro dos impostos, o que é mentira.
O fato é que há uma situação a solucionar que não está sendo informada à sociedade. Cabe explicar exatamente o que está acontecendo.
Antes, porém, quero deixar claro que não vou receber um centavo do Abílio Diniz ou do Carrefour ou do governo, se essa fusão se materializar. Como você, leitor, ou pagarei mais caro ou mais barato nos novos supermercados da praça. Por isso, é claro que não defendo essa fusão sem um amplo debate público. Só que quero um debate de verdade…
O filão supermercadista do Brasil está hoje nas mãos de três grandes redes. Uma é francesa (Carrefour), a outra é americana (Walmart) e a terceira é franco-brasileira (Pão de Açúcar e rede Casino, francesa). O Pão de Açúcar, porém, é gerido pela parte brasileira da sociedade. Ano que vem, no entanto, por contrato social a parte francesa deve assumir o negócio.
O resultado será o seguinte: o grosso do mercado supermercadista brasileiro será gerido por franceses e americanos. Os brasileiros cairão fora.
Se o governo brasileiro entrar na sociedade entre Pão de Açúcar e Carrefour, porém, aumentará a participação de brasileiros no mercado (Pão de Açúcar e governo) e os lucros desse mercado não irão todos para o exterior, ano após ano. Boa parte do que as redes de supermercados estrangeiras remeteriam às matrizes no exterior, ficaria no país.
Repito, mais uma vez, que não há, aqui, defesa da fusão, mas do debate sobre a fusão, pois o que está se vendo é um monte de meias verdades e mentiras inteiras que parece pretender impedir que o assunto seja discutido serenamente, analisando-se os prós e contras reais e não esses fictícios que lhe estão sendo empurrados, leitor.