Minha posição política
Cumpre-me pagar uma dívida que julgo que tenho para com os leitores desta página. Desde a posse de Dilma Rousseff que, por mais que tente, não consigo enxergar com bons olhos os rumos de seu governo. E apesar de as razões para isso estarem sendo exaustivamente explicadas post após post, vale considerar um pouco mais sobre elas e também deixar absolutamente clara a posição política deste blog.
Antes, porém, julgo importante reafirmar que quem escreve sobre política não deve deixar dúvidas sobre suas preferências ou negar que as tenha, sobretudo se for em nome do ofício jornalístico, porque exercê-lo não torna o indivíduo um robô capaz de simplesmente desligar as idiossincrasias humanas. Como sempre digo, portanto, nem todo isento é canalha, mas todo canalha se diz “isento”.
Sobre as razões do descontentamento com o governo Dilma, são simples de resumir: sua aproximação com a mídia e com setores do PSDB se faz acompanhar do anúncio oficioso de que não se promoverá a regulação e a democratização da comunicação no Brasil. Só isso já bastaria, mas não é só.
Até este momento, não se vê propostas ambiciosas. Acenam com uma erradicação da miséria que não se sabe como ou quando será detalhada. Trata-se, ainda, de uma miragem. O governo não faz outra coisa além de gerir crises políticas. Ministérios vitais são desarticulados por manchetes de jornal e, no oitavo mês dos 48 meses de duração desta administração, ela ainda age como se tivesse começado ontem.
Continuo não acreditando em ficar em cima do muro, em não tomar posição, em não defender um projeto, seja no governo ou na oposição. Entre a oposição ao governo Dilma, não há nada que valha a pena. Ou temos reacionários tradicionais e neo reacionários como José Serra e Fernando Henrique Cardoso ou temos extremistas de esquerda com discursos e propostas albaneses.
Do lado oposto, porém, não posso deixar de reconhecer que não me sinto representado por este governo, ainda que o PT continue sendo o que mais se aproxima de minhas convicções sobre uma agremiação política que pode fazer o país avançar. Hoje, porém, em medida muito menor. Diria que a parcela do PT com a qual me identifico está perdendo poder e influência a passos largos, neste governo.
Em tal situação, penso que me cabe observar e esperar mais e agir menos. Não vejo sentido em, por exemplo, fazer um ato público para combater o bombardeio eticamente seletivo da mídia enquanto o governo prejudicado confraterniza com aqueles que o fustigam e até adota a sua agenda, recuando de projetos e medidas que a direita não aceita e que boicota em seus jornais, revistas, rádios, tevês e portais de internet.
Posso me dar ao luxo, portanto, de sentar e assistir serenamente ao espetáculo, aplaudindo ou vaiando, mas na platéia. Sempre marcando posição, sempre deixando registradas as minhas opiniões, além de difundir o que julgar que não está sendo devidamente difundido. Mais, contudo, não farei. Ao menos neste momento. Até porque, do jeito que as coisas vão, provavelmente não adiantaria.
Faço votos, porém, que o governo Dilma encontre seu rumo. Quem sabe não estou enganado e conseguimos fazer o país avançar mesmo com quatro famílias controlando a comunicação e exercendo influência tão imensa sobre o Estado. Seremos, porém, um caso único se chegarmos lá com um sistema de comunicação do século XX enquanto o século XXI abre as asas sobre a humanidade.