A Duquesa Rebelde

Crônica

Os filhos de Cayetana nunca a miravam diretamente. Seu rosto os incomodava, desfigurado pelas criminosas intervenções de cirurgiões plásticos que continuaram acontecendo mesmo quando quem as fez sabia que a cada uma a paciente se tornaria mais grotesca, pois a pele fina como papel que lhe recobria os ossos já não tinha mais como continuar sendo esticada.

Dona María del Rosario Cayetana Alfonsa Victoria Eugenia Francisca Fitz-James Stuart y Silva, a 18ª e atual Duquesa de Alba de Tormes, porém, não se importava. As cirurgias a renovavam e o que enxergava no espelho, após cada uma, não era o que lhe diziam os parentes mais próximos e o que sugeriam os olhares de todo o resto. Então, que se danassem.

Enfrentou a família gananciosa, a mídia carnívora e até o Rei de Espanha – sim, até ele opinou sobre a vida da rebelde Duqueza de Alba. E no quinto dia de outubro, finalmente a nobre de 85 anos, detentora do maior número de títulos de nobreza em todo o mundo e da maior fortuna pessoal em seu país, casou-se com um funcionário público, Alfonso Díez, 25 anos mais jovem.

Apaixonara-se pelo bem-apessoado Díez há mais de trinta anos, antes de seu segundo casamento (dela), mas a vida os fez trilhar caminhos distintos. Caminhos que, no entanto, acabaram se cruzando.

Os seis filhos, sem exceção, julgando Cayetana ingênua e atordoados pela hipótese de um caça-dotes se apoderar da herança que esperavam pacientemente e que agora, com os sucessivos problemas de saúde da matriarca, parecia mais próxima do que nunca, tentaram, inutilmente, convencê-la de que estava sendo usada por alguém que só queria seu dinheiro.

Intimamente, divertia-se. Sentia até vontade de lhes contar sobre “o pacto”. Naquele jantar, na varanda, à luz de velas, Cayetana mirou o bem-apessoado pretendente a consorte enquanto ele se esforçava para manter o olhar apaixonado diante do que ela sabia que todos consideravam uma carranca. Imperturbável, propôs:

— Se me der sexo suficiente e fingir paixão sempre assim, como faz agora, terá o que quer de mim e eu terei o que quero de você.

Assim, Cayetana e Alfonso selaram um pacto nupcial mutuamente satisfatório. E, sobretudo, honesto.

Os filhos, obviamente que não compareceram à cerimônia matrimonial. Até porque, para apaziguar-lhes o medo quanto à herança lhes entregou, em vida mesmo, a parte que cabia a cada um. Não teriam mais que contar os dias para que partisse na derradeira viagem.

Fingiu tristeza pela ausência dos filhos na cerimônia. O constrangimento era palpável. Mídia, amigos, nobreza, todos a viam como uma velhinha ingênua prestes a ser depenada por um espertalhão. Resolveu, assim, jogar carne às feras incorporando a personagem. Mas, em verdade, o tempo todo só pensava em como desfrutaria do belo Alfonso naquela noite.

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Cerimônia matrimonial de Cayetana De Alba e Alfonso Díez