Devolvam à mulher o seu corpo
Ao longo da história, a mulher sempre foi tratada como objeto de prazer e, mais além, de idiossincrasias políticas, religiosas e morais. Sempre quiseram legislar não só sobre seu corpo, mas até sobre a sua alma. O que vestir, dizer ou pensar sempre foi objeto da vontade não só dos homens, mas da sociedade.
Homens e mulheres pensaram meios, conceitos e preconceitos para controlar do corpo à própria alma da mulher porque as civilizações ocidentais e orientais sempre viram o gênero feminino através da lenda bíblica do pecado original, lenda essa que a mulher protagoniza como a vilã responsável por não vivermos todos no paraíso celestial.
Por uma ótica puramente científica e racional, sem influência religiosa, torna-se ridícula a lei que determina o que uma mulher deve fazer com as próprias funções biológicas caso engravide. Todavia, lendas religiosas sem base científica mantêm seu corpo como propriedade pública.
A maioria dos adultos já conheceu uma mulher que esteve diante do dilema de uma gravidez que poderia aniquilar seu futuro, seus sonhos e possibilidades e que, assim, optou por interrompê-la. Quem viu a dor e o medo pelo qual passa aquela que optou pelo aborto deveria saber que chegar àquela decisão foi uma tortura.
Só as mulheres deveriam opinar sobre a legalização ou a proibição do aborto. Como dar a um homem o direito de decidir o que elas devem fazer consigo mesmas? Um homem passa por nove meses de desconfortos físicos que podem até ser fatais? Sente a dor, a ansiedade ou o medo que elas sentem ao dar à luz? Se não sente, como pode opinar?
Como o que uma mulher faz, sente ou diz ainda não é considerado um direito inalienável em sociedades menos desenvolvidas como a nossa, como esta sociedade ainda discrimina o direito da mulher de decidir se deve ou não ter um filho, tal decisão jamais deve se tornar pública, caso ela não queira.
É sob tais premissas que este blog manifesta serena discordância da medida provisória do governo federal que permitirá tornar públicos os nomes de mulheres que fizerem aborto. A sociedade brasileira não pode mais manter seqüestrado o corpo da mulher. E muito menos a sua alma, como quer a MP 557.