A primeira investigação sobre a imprensa na história do Brasil
CPI do Cachoeira, CPI da empreiteira Delta, CPI do Agnelo… A mídia passou dias e dias construindo versões sobre o foco que terá a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que ela mesma disse que não sairia porque, pasme-se, “o governo” teria “medo” da investigação.
As ameaças dos meios de comunicação de inverterem o foco da CPMI e de jogá-lo contra os partidos da base aliada e contra o governo Dilma de fato surtiram algum efeito. Parlamentares de todos os partidos se preocuparam. Mas a preocupação decorreu da campanha midiática. Ponto.
Todavia, essa investigação tem tanta chance de se voltar para a relação da Veja com o esquema Cachoeira quanto contra qualquer outro alvo.
Jornalistas de alguns grandes meios de comunicação, sobretudo os da Folha de São Paulo, começaram a tocar no assunto como este blog previu que fariam. Ao tratarem das relações da Veja com Cachoeira, dizem o óbvio: criminosos podem, sim, ser fontes da imprensa.
Alguns desses jornalistas reconhecem que tiveram contato com Cachoeira e explicam que foram contatos fortuitos, o que os torna explicáveis. Agora, no caso da Veja, não. São CENTENAS de ligações e sabe-se lá quantos encontros presenciais.
Quando um jornalista fala com uma fonte criminosa uma vez, cinco vezes, dez vezes, é uma coisa. Quando fala CENTENAS de vezes, é casamento.
Eis, aí, o potencial da CPMI que transpareceu da clara resposta que, ao aprová-la maciçamente, o Congresso deu a uma imprensa que dizia que o Poder Legislativo abafaria o caso. E esse potencial é o de, pela primeira vez na história, a imprensa sentar-se no banco dos réus.
Uma fonte muitíssimo bem informada me diz que anda por volta de mais de duas centenas de parlamentares o contingente deles que tem a imprensa atravessada na garganta. E claro que dirão que isso ocorre porque são todos corruptos que temem o trabalho da imprensa livre, blábláblá.
O fato, porém, é o de que as gravações da Operação Monte Carlo revelam que ao menos no caso da Veja não se trataram de relações fortuitas com uma fonte, mas de um crime continuado.
Não há mera relação entre imprensa e uma fonte que possa assim ser caracterizada diante da descoberta de que aquele veículo falava várias vezes por semana, durante anos, com um criminoso, e de que a quadrilha desse criminoso deu TODAS as matérias que o veículo publicou contra o PT.
A Veja argumenta, literalmente, que a relação que mantinha com Cachoeira era a mesma que os criminosos mantêm com a Justiça quando optam pela “delação premiada”. Ora, então a pergunta é uma só: se a delação é premiada, que prêmio a revista ofereceu a Cachoeira em troca de suas denúncias contra o PT?
Parlamentares petistas, peemedebistas, comunistas, pedetistas e de quantos partidos se possa imaginar não assinaram essa CPI à toa. Há um clima no Congresso para que venham à tona os métodos que setores da imprensa brasileira usam.
Isso porque todos têm muito claro que uma imprensa que se alia a determinado grupo político e usa seu poder e até concessões e dinheiro público para fazer luta política, é uma imprensa que não serve a ninguém além de seus proprietários e aos políticos amigos deles.
A CPMI aprovada pela esmagadora maioria do Congresso terá um viés inédito na história da República. Será a primeira vez que o país irá esmiuçar o comportamento do dito “quarto Poder”. E já fará isso tarde. Depois dessa investigação, o Brasil nunca mais será o mesmo.
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PS: o blog esteve fora do ar desde o fim da manhã até o começo da tarde desta quarta-feira porque a empresa que o hospeda teve que trocar de servidor devido ao acúmulo de tráfego, que sempre cresce muito quando a política esquenta.
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Do leitor que se assina André:
Coluna Esplanada
CPI já vira caso de polícia dentro da Câmara
Por Leandro Mazzini
A CPI mista do Cachoeira nem começou mas já pega fogo nos bastidores – em especial, nos corredores da Câmara. Um roteiro com ingredientes de cena policial ganhou o sétimo andar do Anexo 4 da Casa. Indignados com um cartaz pró-CPI na porta do gabinete do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), ex-delegado da PF e entusiasta da instalação, dois deputados tucanos o arrancaram da porta e jogaram no chão, irados. Tratam-se de ninguém menos que o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Protógenes só soube quando pediu à Polícia Legislativa o vídeo do circuito interno de TV do corredor. Mas não prestou queixa à Mesa Diretora.
Constrangido e incrédulo, Protógenes não procurara, até ontem à noite, os parlamentares para pedir explicações. Um assessor acompanhava os deputados na hora do ‘ataque’.
Pelo vídeo e sequência de fotos, fica clara a atuação do trio na porta fechada do gabinete do deputado, durante o dia. Guerra indica e Marinho puxa o cartaz…”
Incrível o potencial dessa gente no cinísmo!!