Mídia oculta negócios de Serra e Kassab com esquema Cachoeira
Esta matéria precisa ser lida não apenas pelos parlamentares membros da CPI do Cachoeira, mas por toda a classe política, sobretudo por aqueles políticos que estão do lado oposto ao que estão os grandes meios de comunicação, o lado governista.
De sexta-feira para cá, falei ao telefone com dois políticos governistas de grande expressão. Ambos, sem combinarem nada entre si, relataram-me que enxergam risco concreto de parte dos governistas na CPI se unir à oposição para aliviar a barra da mídia nas investigações.
Um político governista que integra a CPI (como suplente) e que pode agir nesse sentido é o senador Delcídio Amaral (PT-MS), outro é o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Ambos trabalham, junto à oposição, para blindar a mídia.
Mas não são apenas os membros governistas da CPI que deveriam atentar para este texto, mas toda a classe política, pois político algum pode ter certeza de que estará sempre do lado que a mídia apóia.
Vejam o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que já foi do PSDB carioca e que esteve entre os mais contundentes acusadores do PT durante o escândalo do “mensalão”. Hoje, está no PMDB, é aliado do governador Sérgio Cabral e deixou de receber os favores que a mídia lhe fazia quando estava do lado que ela considera “certo”.
Uma imprensa partidarizada, uma imprensa que escolhe um lado e trabalha por ele não é ruim apenas para a classe política, mas, também, para a democracia e para a sociedade como um todo.
Nesse aspecto, fato recentíssimo comprova, sem deixar dúvidas, que a grande imprensa não passa de um poder discricionário que não hesita até em cometer crimes, como é bem provável que fique caracterizado na televisão neste domingo (6/5) à noite… Mas essa é outra história.
Vamos aos fatos. Matéria da revista IstoÉ desta semana se constitui em uma bomba atômica jornalística, política e institucional, apesar de que boa parte do que a revista revela não é novidade. Matéria da jornalista Conceição Lemes, do site Viomundo, antecipara que a empreiteira Delta fez a festa também em São Paulo.
Todavia, a matéria da IstoÉ vai ainda mais longe. Além de mostrar os contratos suspeitos da empreiteira com o governo do Estado e com a prefeitura de São Paulo durante as gestões José Serra e Gilberto Kassab, mostra escutas da Operação Monte Carlo que incriminam os dois políticos.
Por muito, muito, mas muito menos do que aparece na matéria da IstoÉ contra Serra e Kassab, o governador de Brasília, Agnelo Queiróz, esteve sob bombardeio de toda grande mídia ao longo de semanas. A matéria da revista, que saiu neste fim de semana, até agora não teve destaque em lugar algum da grande mídia, e foi citada de passagem e discretamente em alguns raros veículos.
O Jornal Nacional, por exemplo, um dos que mais atacaram e continuam atacando Agnelo, não disse uma vírgula sobre os gravíssimos indícios que pesam contra os dois políticos paulistas. Não apareceu nada na televisão ou nos jornais impressos neste fim de semana.
A exceção foi uma notinha curta na versão do jornal O Estado de São Paulo na internet e uma matéria mais completa no portal IG. Ambas, porém, publicadas com grande discrição.
A despeito disso, o envolvimento dos políticos paulistas no caso é tão grave que já está sob escrutínio da CPI do Cachoeira e do Ministério Público. Leia, abaixo, a nota da Agência Estado.
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Laço de Cachoeira com Serra é investigado pelo MP, diz revista
Gravações apontariam que a Delta foi favorecida nas obras de ampliação da Marginal do Tietê
Agência Estado
O Ministério Público de São Paulo e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o contraventor Carlinhos Cachoeira investigam um possível favorecimento do grupo do bicheiro em São Paulo, na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e durante o mandato de José Serra (PSDB) no governo do Estado (2007-2010) e na prefeitura paulistana (2004-2006).
De acordo com reportagem da revista IstoÉ na edição desta semana, a suspeita é que a construtora Delta, que seria o braço operacional de Cachoeira, teria sido favorecida com a ampliação do número de contratos durante essas administrações.
A IstoÉ afirma que os parlamentares que compõem a CPI tiveram acesso a conversas telefônicas gravadas com autorização judicial entre junho de 2011 e janeiro deste ano. Segundo a revista, as gravações apontam que a construtora Delta foi favorecida em contratos de obras de ampliação da Marginal do Tietê, na cidade de São Paulo, e na prestação de serviços de varredura de lixo na capital, que somariam mais de R$ 2 bilhões.
Nas gravações, às quais a revista afirma ter tido acesso, pessoas próximas de Cachoeira fazem referências a adequações de editais e contratos para que a Delta fosse beneficiada.
Na última quarta-feira, o Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil para apurar a existência de irregularidades nas licitações, superfaturamento e conluio entre
Em depoimento para a revista, o deputado estadual João Paulo Rillo (PT) diz que a apuração sobre os contratos da Delta pode revelar um “caixa 2” do PSDB em São Paulo. Já o líder tucano, Álvaro Dias, argumenta que os contratos devem ser verificados com o intuito de apontar se os valores pagos foram justos.
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Estou certo de que boa parte dos leitores se surpreendeu, pois a discrição midiática em torno do caso deve estar mantendo muita gente absolutamente alheia a um escândalo dessa proporção apesar de que o procedimento investigativo do Ministério Público não é de hoje.
Tudo o que há contra os governadores Agnelo Queiróz, Sergio Cabral e Marconi Perillo está presente contra Serra e Kassab nas escutas da Operação Monte Carlo. Não existe justificativa para a mídia não citar os dois ao relacionar políticos envolvidos, mas há uma explicação que nem precisa ser escrita.
Apesar disso, no sábado à tarde surgiu a esperança de que pode estar chegando o Waterloo desse comportamento criminoso da mídia. Este blogueiro e alguns outros fizeram bombar no Twitter a hashtag #VejaPodreNoAr, que, em questão de uma hora, foi parar nos Trending Topics Brasil.
Sugere-se que o leitor fique atento à televisão neste domingo à noite, e não me refiro à Globo. É só o que posso dizer neste momento.
Só digo aos políticos que estão sendo beneficiados por essa máfia midiática que deveriam refletir que nenhum deles sabe quando poderá não estar mais do lado que goza da simpatia midiática. Aos prejudicados que ainda ajudam essa máfia, não adianta dizer nada.