Quando quem grita mais alto, leva
É bom que os setores da sociedade que controlam a grande imprensa reflitam bem sobre o que estão trabalhando para impor no país, porque correm o risco de “as massas” começarem a fazer exigências que tais setores podem vir a não gostar.
O Poder Judiciário, por exemplo, acaba de ser posto contra a parede por uma pesquisa de opinião. Ou, ao menos, quem fez a pesquisa pretende que esse Poder seja coagido por ela.
O instituto Datafolha afirma que mais de setenta por cento de seus entrevistados sobre o destino dos réus do mensalão quereriam vê-los na cadeia sem direito a recursos previstos em lei.
Não há dúvida de que em meio a um clima político passional como o que vige no Brasil a massa catártica pode estar cobrando sangue de políticos. Resta saber se interessa ao país um Judiciário que se deixa governar por pesquisas de opinião.
Se o STF de hoje fosse o mesmo que condenou os réus do mensalão no ano passado sob “provas tênues”, não haveria dúvida de que naquela Corte voltaria a prevalecer o clamor das ruas independentemente do que recomenda o Direito.
Mas como, de lá para cá, as coisas mudaram, pois vários ministros que se dobraram ao clamor da mídia foram substituídos, há, ainda, esperança de que a presidente Dilma tenha feito nomeações de juízes de verdade, capazes de decidir com base na lei e não na intensidade da pressão a que forem submetidos.
Todavia, Dilma não tem bola de cristal e a alma humana é indevassável. Quem nunca experimentou pressão como a que só a mídia oligopolizada do Brasil sabe fazer, não é capaz de imaginar que estrutura emocional tem que ter um magistrado para decidir com independência, por aqui.
Eis que se descortina um grande teste para a nossa jovem democracia: temos, agora, uma cúpula do Judiciário capaz de se pautar somente pela lei e de se arriscar a enfrentar, por exemplo, uma imensa manifestação exigindo que essa lei seja violada?
A lei manda prender já os réus do mensalão? Se manda e eles ainda não foram presos, essa lei foi violada e o STF atuou, até aqui, na ilegalidade. Se não houve violação da lei, nem que 140% dos entrevistados pelo Datafolha queiram será possível pôr essas pessoas na cadeia ignorando seus direitos civis.
A passionalidade que está regendo o país nos dias que correm certamente não deixará espaço para que seja avaliado se é bom para ele que linchamentos sejam levados a cabo toda vez que uma maioria se formar. Infelizmente esses são os fatos.
Só o que se pode fazer, pois, é torcer para que a presidente da República tenha conseguido a façanha de encontrar novos ministros do STF capazes de se manter fieis ao Direito mesmo diante de turbas eventuais e supostamente majoritárias.
Todavia, não se acha em qualquer esquina homens e mulheres com tal estatura moral e intelectual. Na verdade, pessoas capazes de desafiar uma Onda de insensatez como a que se abate sobre o Brasil se tornaram raridades no tempo que vivemos.
Perdoem, porém, a este escriba se não consegue se animar com o esfacelamento e a desmoralização de nossas instituições sem que ao menos se tenha noção do que poderá advir de um processo no qual quem grita mais alto, leva.
Movimento dos Sem Mídia
Caros amigos,
Quero cumprimentá-los pelo apoio decidido que emprestaram ao chamamento do Blog para que se organizem com o Movimento dos Sem Mídia.
Informo que o cadastro e a lista de e-mails a serem enviados aos que querem se integrar à Organização estão sendo preparados.
Estou coordenando esse trabalho, mas, até aqui, não me foi possível fazê-lo andar mais rápido porque minha filha Victoria adoeceu e não dei a ele o ritmo necessário, mas em questão de poucos dias você, que propôs apoiar o chamamento, receberá mensagem informando os próximos passos.
Após essa etapa, convidarei os que aderiram à proposta a opinarem sobre a data da assembleia que a ONG fará em São Paulo.
Devo informar que em várias outras partes do Brasil já há um número expressivo de pessoas interessadas em apoiar o MSM. Assim, poderemos marcar reuniões nesses locais em breve.
Assim que a lista de e-mails estiver pronta – terá mais de mil pessoas – publicarei um post informando que as mensagens foram enviadas.
Grato pelo apoio e parabéns pelo engajamento. Nos comunicaremos em breve.
Eduardo Guimarães