Se o Brasil estivesse em crise a sua vida já teria piorado
Quem melhor definiu a atual conjuntura política do país foi, de forma surpreendentemente, o correspondente do diário espanhol El País no Brasil, Juan Arias, em meados do mês passado. Antes de abordar o que ele disse, vale explicar que a opinião desse jornalista chega a surpreender porque há anos ele vem sendo um dos grandes críticos dos governos Lula e Dilma.
Abaixo, alguns trechos do artigo de Arias em questão, publicado no diário espanhol.
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” (…) Por enquanto, o que existe é um consenso de que o Brasil, invejado internacionalmente até agora, vive uma espécie de esquizofrenia ou paradoxo que ainda deve ser analisado ou explicado.
(…)
Agora surge um movimento de protesto quando, ao longo dos últimos dez anos, o Brasil viveu como que anestesiado por seu êxito compartilhado e aplaudido mundialmente.
(…)
O Brasil está pior do que há dez anos? Não, está melhor. Está mais rico, tem menos pobres e testemunha o crescimento do seu número de milionários. É mais democrático e menos desigual.
(…)
Por que então saem às ruas para protestar contra a alta dos preços dos transportes públicos jovens que normalmente não usam esses meios porque já têm carros, algo impensável há dez anos?
(…)
Por que protestam estudantes de famílias que até pouco tempo não tinham sonhado em ver seus filhos pisarem na universidade? (…)”
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Quando se analisa a situação do país até ao menos o mês de maio, ganha sentido o uso do termo “esquizofrenia” pelo jornalista espanhol, de forma a caracterizar o sentimento que se formou entre grande parte dos brasileiros.
As pessoas parecem acreditar que as suas vidas estão piorando, daí as manifestações de insatisfação, ainda que restritas a um setor minoritário da sociedade, a classe média. Contudo, o mero olhar para indicadores sobre os setores que mais afetam a vida do cidadão comum mostra que o país vem melhorando, sim, e muito.
Vejamos os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE sobre o índice de desemprego no país de 2002 (quando foi adotada a atual metodologia de mensuração do problema) até hoje.
O gráfico abaixo foi extraído do site do IBGE e mostra que em um mundo em que a falta de postos de trabalho se tornou uma epidemia, no nosso país o nível de emprego caminha no sentido inverso, com geração de cada vez mais postos de trabalho e de salários mais altos.
Alguns dizem que a inflação teria parte da responsabilidade pelo aumento da insatisfação com o país. Contudo, ao analisarmos um dos indicadores mais usados para mensurar o impacto dos preços sobre a vida das pessoas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), percebe-se que tampouco o aumento de preços chegou a um nível que possa explicar alguma coisa.
Abaixo, os índices anuais do IPCA entre 1998 a 2012 e os dos meses de 2013.
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Quadro inflacionário medido pelo IPCA cheio, no período 1998-2013:
1998 = 1,95%
1999 = 9,52%
2000 = 6,59%
2001 = 8,23%
2002 = 12,53%
2003 = 9,3%
2004 = 7,6%
2005 = 5,69%
2006 = 3,14%
2007 = 4,46%
2008 = 5,90%
2009 = 4,31%
2010 = 5,91%
2011 = 6,5%
2012 = 5,84%
2013 = 3,15% no ano e acumulado em 12 meses (entre janeiro e junho deste ano) é de 6,7%.
Fonte IBGE
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Como se vê, não há nenhum estouro da inflação. O nível de inflação atual permanece no patamar histórico. Contudo, o que se vê na mídia sobre o assunto induz à crença de que estaríamos à beira de uma crise de hiperinflação.
Em relação aos salários, o valor deles nunca foi tão alto. Abaixo, dados da última PME do IBGE, que mostra que, em relação a 2012, os salários continuam crescendo.
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Pessoas Ocupadas (abril 2012) 1.949,81 – (maio 2013) 2.010,69
Empregados no Setor Privado (abril 2012) 1.749,34 – (maio 2013) 1.841,51
Empregados no Setor Público (abril 2012) 2.701,27 – (maio 2013) 2.572,53
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O que mais impressiona é que, em 2002, o salário médio do trabalhador teve declínio de 8,3% em relação a 2001, passando a corresponder a R$ 889, valor 28,3% menor do que o registrado em 1997.
Ou seja: o Brasil de 2013 é um país infinitamente melhor do que o de 2003, quando o PT chegou ao poder.
E além dos ganhos para todos, relatório sobre as cidades latino-americanas feito pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), divulgado no ano passado, mostrou que o Brasil diminuiu a desigualdade social como nenhum outro país ao longo da última década.
Nos anos 1990, o Brasil era o mais desigual na região. Nesta década, foi o país que mais reduziu a desigualdade enquanto em outros países ela cresceu.
Nos últimos anos, a renda dos brasileiros mais pobres cresceu 70% e a dos mais ricos, cerca de 10%. E esses 10% mais pobres tiveram a renda aumentada justamente por causa do trabalho, ou seja, dos novos empregos que estão sendo gerados. E pelos aumentos reais do salário mínimo, claro.
A despeito de tudo isso, o grupo político que promoveu melhora tão expressiva na vida deste povo se encontra diante de um paradoxo que, usando o adequado termo do corresponde do jornal espanhol supracitado, pode ser considerado “esquizofrênico”.
Uma parcela imensa do povo brasileiro está sendo enganada tanto por grandes meios de comunicação quanto por partidos políticos de oposição. As pessoas acham que o país está “indo mal” apesar de estar acontecendo justamente o oposto.
Pesquisa recente do instituto MDA, feita para a Confederação Nacional dos Transportes, mostra que 84% dos brasileiros aprovam protestos de rua que desembocaram em uma imensa queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff.
Essa grande maioria dos brasileiros, que até dois ou três meses atrás dava enorme apoio ao grupo político que fez o país melhorar tanto, de repente passou a achar que vive em um país à beira da ruína.
Tudo isso decorre de um artificialismo que, conforme entrevista de Marcos Coimbra (sociólogo e diretor do instituto Vox Populi) concedida a este Blog na última quinta-feira e conforme a mesma pesquisa MDA citada acima, implantou na cabeça das pessoas uma sensação de mal-estar.
Ora, como o país pode estar indo bem se vemos cenas de guerra como as que vimos recentemente na zona Sul do Rio de Janeiro? São cenas que só se explicam por um grave descontentamento social que só poderia decorrer de o país, de fato, estar “indo mal”. É isso que o povo pensa.
Contudo, você, leitor, tem visto muita gente reclamando de ter perdido o emprego ou de seu salário não estar comprando mais o que comprava antes? A sua própria vida piorou? Muito pelo contrário. O Brasil vive uma febre de consumo porque as pessoas têm dinheiro no bolso.
As ruas estão cada vez mais entupidas de carros zero quilômetro. As residências mais humildes, hoje, estão sendo reformadas e entupidas de bens de consumo como televisões, computadores, novos móveis etc. E, hoje, só não encontra emprego quem não quer trabalhar.
O que é preciso, portanto, é fazer os brasileiros refletirem que quando um país vai mal a vida das pessoas piora. Entretanto, quem pode dizer que sua vida tem piorado? Só o que tem piorado é a percepção sobre o futuro.
Essa percepção se fundamenta, basicamente, na informação. As pessoas vêm sendo bombardeadas pelos meios de comunicação de massa com cenas de guerra e previsões catastrofistas e, juntando umas e outras, construíram essa percepção pessimista.
Urge, portanto, que seja levada a cabo uma campanha de comunicação governamental que faça os brasileiros refletirem sobre a realidade. O povo brasileiro foi posto em pânico por ação de concessões públicas de rádio e televisão que estão sendo usadas com fins políticos.
É mais simples do que parece desmontar a campanha insidiosa que foi construída na mídia e nas ruas para apavorar a sociedade. Há fartura de dados que comprovam que o país vai bem. Mas se uma campanha em sentido contrário não for feita, o brasileiro, ano que vem, irá votar por mudança daquilo que, como se vê neste texto, está dando muito certo.
Fica a dica.