Quem decidirá se a lei antiterror será criada serão os black blocs
Vários setores da sociedade civil ficaram contra a proposta surgida no Senado – sob surpreendente consenso entre governistas e oposicionistas – de acelerar a tramitação da lei antiterror. Afinal, lei desse jaez que não seja muito bem cercada por amplos e longos debates poderia se converter em instrumento de repressão a movimentos sociais legítimos.
O próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu calma antes de aprovarem a lei em tela de forma passional, sob a comoção do momento em que um trabalhador perdeu a vida por ação dos que têm realizado protestos cujo nível de violência saiu de controle, se é que se pode atribuir qualquer possibilidade de autocontrole à violência.
Contudo, a necessária reflexão que foi levantada e que ecoou junto ao Congresso e ao governo pode ter vida curta. Ou seja: essa lei que assusta a tantos só não será criada a toque de caixa se o clima de comoção passar.
Esse clima de comoção, aliás, já está passando – em alguns momentos, a “capacidade” do brasileiro de esquecer tão facilmente das coisas pode até ter alguma utilidade. Entretanto, a mesma comoção pode retornar como que por mágica se os protestos violentos continuarem ocorrendo.
Há novas manifestações contra a Copa e contra aumento do preço das passagens sendo agendadas pelos que as vêm empreendendo. Visitando as páginas desses “movimentos” nas redes sociais, não se percebe qualquer clima de reflexão. Muito pelo contrário, parecem decididos a não dar a menor pelota para a grita da sociedade.
Então, neste momento, quero lembrar ao distinto leitor que, infelicidade das infelicidades, estamos em ano eleitoral. O que isso quer dizer? Simplesmente que a classe política, em 2014, estará sensível como nunca ao clamor popular.
Alguém acredita ser preciso fazer alguma pesquisa de opinião para confirmar que essa mesma sociedade está farta desses protestos e que irá exigir alguma medida draconiana para fazê-los cessar?
Estranhamente, até agora não saiu nenhuma pesquisa sobre o que pensam os brasileiros dessa história de os black blocs saírem à rua praticando o que têm praticado. Mas duvido que alguém seja capaz de achar que a maioria está adorando tudo isso e quer que continue.
Se morteiros, rojões, estilingadas, pedradas, pauladas etc., etc. continuarem sendo disparados contra alvos aleatórios em plena via pública, o povo vai exigir a lei antiterror – e, talvez, muito mais em termos de instrumentos de repressão – e a classe política irá obedecer bovinamente.
Aliás, não irá demorar para setores radicais de direita começarem a responsabilizar Dilma Rousseff pelo que irão chamar de “perda de controle”. Daí, se a lei não for criada com o apoio deste governo acabará sendo criada com o apoio dos que o derrotarem nas urnas, caso a catarse desses manifestantes provoque o desenlace político que esses grupos buscam.
Só quem pode impedir que a classe política crie leis específicas para uma situação específica – ou seja, uma lei de exceção – serão os black blocs e os que se valem deles para tornar seus protestos impossíveis de ignorar, pois não há como não dar bola para a transformação das ruas em praças de guerra.
O recuo parcial das autoridades e do Legislativo que pode ocorrer neste momento, portanto, não passa de uma pausa que só irá durar se os que protestam pelas causas citadas criarem juízo e pararem de assustar o país. Um povo amedrontado verá na legislação de exceção a única saída. E, repito, os políticos obedecerão docemente a esse clamor.