CUT suspeita de armação contra petistas em ato do 1º de maio
O 1º de maio de 2014 teve um episódio inédito nas mega comemorações do Dia do Trabalhador que as centrais sindicais promovem anualmente em São Paulo. Neste ano, políticos petistas foram vaiados em ato da Central Única dos Trabalhadores, que apoia o governo Dilma e tem ligações históricas com o PT.
No fim da tarde da última quinta-feira, a militância tucana na internet comemorava matéria do site do jornal O Globo, espécie de bíblia da direita brasileira que faz oposição cerrada ao governo federal e ao PT. A razão: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi vaiado por um grupo incrustado em meio aos trabalhadores.
Confira, abaixo, a matéria de O Globo
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O GLOBO
País
Público vaia petistas e atira latas durante festa da CUT em SP
Prefeito Fernando Haddad foi embora sem discursar
Ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo paulista, Alexandre Padilha fez apenas saudação
Lino Rodrigues (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 1/05/14 – 18h48
Atualizado: 1/05/14 – 19h41
SÃO PAULO – Políticos petistas como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o pré-candidato ao governo do estado Alexandre Padilha (PT) e o ministro Ricardo Berzoini foram impedidos de fazer os discursos programados para a festa do 1º de Maio, liderada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores (CTB) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), na tarde desta quinta-feira, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. O público vaiou e atirou papéis, latas e garrafas em direção ao palco todas as vezes que os nomes de políticos foram anunciados.
Pela programação do evento em comemoração pelo Dia do Trabalho, os discursos políticos deveriam durar uma hora, mas acabaram abreviados em poucos minutos. O primeiro a subir no palanque seria Haddad. Mas tão logo seu nome foi anunciado pelo apresentador do evento, o público, estimado em 3 mil pessoas segundo a Polícia Militar (80 mil pessoas de acordo com a organização), começou a vaiar e a arremessar objetos. Indignado, o prefeito foi embora sem sequer falar com a imprensa.
O apresentador tentou acalmar o público exaltado durante vários momentos, pedindo calma várias vezes, e chegou a dizer que “o ato político era importante”. O ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, também foi recebido com vaias e impedido de discursar.
No momento de anunciar Alexandre Padilha, o locutor não o apresentou como pré-candidato, apenas como ex-ministro. Padilha, ao pegar o microfone, logo lançou uma pergunta: – Quem é contra o racismo?. As pessoas ergueram os braços e Padilha aproveitou o momento e resumiu seu discurso à saudação única “bom dia, boa tarde e boa noite”. E logo deixou o palco e foi embora.
O senador petista Eduardo Suplicy também só agradeceu o público e a festa seguiu com os shows programados.
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A matéria de O Globo forçou a mão. Outro jornal inimigo do PT, o Estadão, relatou que só Haddad foi vaiado e sem estar no palco. Abaixo, a matéria do jornal paulista.
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O ESTADO DE SÃO PAULO
Ato político da CUT é marcado por vaias a Haddad
CARLA ARAÚJO – Agência Estado
01 de maio de 2014 | 18h 37
O prefeito Fernando Haddad foi alvo de vaias por boa parte da plateia do evento promovido pela CUT por conta do Dia do trabalho, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Ao ter seu nome anunciado, e mesmo sem estar presente no momento, o público vaiou fortemente Haddad. A presença do prefeito era aguardada, constava em sua agenda oficial, porém, ele não compareceu ao palco. O Broadcast apurou, entretanto, que Haddad estava no local, mas preferiu não subir.
Além das vaias, assim que se iniciou o ato político, algumas pessoas levantaram faixas de protesto cobrando Haddad. “Prefeito Fernando Hadad: atenda a nossas reivindicações!”
Petistas
Apesar da ausência de Haddad, o ex-ministro da saúde e provável candidato ao governo de São Paulo Alexandra Padilha esteve no evento e praticamente encerrou o ato político, ao lado do senador Eduardo Suplicy.
Por conta da impaciência do público, que claramente queria continuar assistindo aos shows musicais, os políticos decidiram falar pouco. Em sua breve saudação, Padilha desejou “bom dia, boa tarde e boa noite” e questionou a plateia “quem era contra o racismo: levanta a mão”.
O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, também esteve no palco representando a presidente Dilma Rousseff. Ao ser anunciado, Berzoini, no entanto, fez apenas uma rápida saudação e preferiu não discursar.
O ministro do Trabalho, Manoel dias, também fez apenas uma rápida saudação gritando “viva o trabalhador”.
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Como se vê, O Globo forçou a mão. Estendeu vaias a Haddad a todos os outros petistas. Contudo, segundo relatos de liderança da CUT presente ao ato as vaias de fato aconteceram, mas, à diferença do que relatam os jornais, não partiram “do público”, mas de um grupo infiltrado em meio à manifestação e que não tinha relação com o movimento sindical.
Atos públicos como os de 1º de maio são perfeitos para esse tipo de ação. Como a rua é pública, qualquer um que esteja passando pode participar. Assim, seria fácil, por exemplo, a Força Sindical infiltrar pessoas no ato da CUT – Força e CUT travam batalhas políticas todo 1º de maio em São Paulo, disputando quem reúne o maior público.
Mas o mais interessante é que a CUT já suspeitava de que aconteceria o que aconteceu. O Blog recebeu email de membro da CUT no fim da tarde do dia 30 alertando para o que poderia acontecer. 24 horas antes do ato da central sindical, Paulo Salvador, diretor da Rede Brasil Atual, enviou e-mail a blogueiros que o leitor pode conferir abaixo.
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“(…) Até o final da tarde desta quarta-feira, um batalhão de repórteres havia se credenciado para cobrir o ato da CUT, CTB E CSB no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. A Globo credenciou 49 pessoas. Todos os veículos estão lá: CQC, Pânico, TV Fama etc.
Opa, a Globo credenciou meia centena de profissionais quando não há nenhum interesse em cobrir qualquer coisa desse grupo de centrais?! Há algo fora do comum nisso aí.
É uma mídia que não vai cobrir a democratização das comunicações, o eixo do ato, também não vai falar das reivindicações do movimento sindical. Estará interessada em produzir cenas para as eleições ou criminalizar ainda mais a cobertura política.
Antevejo que o cenário será o pior possível (…)”
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Dito e feito. A previsão de Salvador se confirmou. Mas, por via das dúvidas, antes de publicar este post o Blog procurou o diretor da RBA para saber se o alerta que enviou a blogueiros partiu de uma intuição sua ou se a própria CUT compartilhava tais suspeitas de sabotagem de seu ato público.
Segundo Salvador, a direção da CUT já previa o que acabou ocorrendo. Segundo esse interlocutor, ele foi alertado pela própria secretária de Comunicação da CUT-SP, Adriana Magalhães. Mas a entidade sabia que não haveria como impedir a infiltração.
Por sorte, a grande maioria do público presente ao ato – que não participou das vaias a Haddad – aceitou democraticamente a sabotagem dos infiltrados, evitando um confronto que poderia ter desfecho trágico devido à grande quantidade de pessoas presentes.
A maior suspeita sobre a autoria dessa infiltração recai sobre Paulo Pereira da Silva, o “Paulinho da Força”, quem, segundo matéria da Folha de São Paulo publicada nesta sexta-feira (2), estava alcoolizado quando, aos berros, sugeriu que a presidente Dilma Rousseff fosse encarcerada no presídio da Papuda.
Abaixo, a matéria da coluna Painel, da Folha de São Paulo de 2 de maio de 2014
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2 de maio de 2014
Painel
Vera Magalhães
PINGA NI MIM
Paulinho da Força comprou três garrafas de tequila “Revolución” para a festa da central e, às 11 horas, já circulava com um copo à mão. Disse que era para “calibrar o discurso”. Acabou dizendo que Dilma deveria estar na Papuda. A fala preocupou advogados da central.
CONTRA-ATAQUE
Auxiliares de Dilma ficaram indignados: “Isso é linguajar de quem está muito doido, fora do juízo. Esse deputado deve ter enchido a cara antes do ato”, diz o ministro Paulo Bernardo (Comunicações)
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Como se vê, a campanha eleitoral que o Brasil viverá nos próximos meses tem tudo para repetir ou até superar a de 2010. Armações, farsas, calúnias e até crimes eleitorais ou mesmo comuns serão usados fartamente pela oposição.
Aécio Neves, sobretudo, é tão conhecido por suas baixarias quanto José Serra. Mineiros costumam dizer que Aécio é muito pior do que Serra. Capaz de muito mais golpes baixos.
O PT e a própria candidata do partido à reeleição precisam ter em mente que com punhos de renda será difícil enfrentar essa máquina de calúnias, difamações e golpes eleitorais de última hora. Sem o apoio da mídia não seria nada, mas com Globo, Folha, Veja e Estadão apoiando as armações tucanas elas ganham força. Inclusive sindical.