Empresa pergunta a candidatos a emprego o que acham do governo Dilma
Atualizado às 20h45m de 25/03/2015
A leitora carioca Verlaine Pinto contatou o Blog com uma denúncia preocupante, mas que não chega a surpreender em um momento político em que a intolerância e os abusos contra determinada opinião política não param de surgir e de aumentar em termos de gravidade e de ilegalidade.
Veja, abaixo, a troca de mensagens entre Verlaine e o blogueiro
Verlaine está coberta de razão. Na verdade, ela tem mais razão do que imagina. Colocar em uma ficha de pedido de emprego uma pergunta sobre a opinião política do candidato, é ilegal.
A Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1958, ratificada pelo Brasil em 1968, traz um conceito de discriminação especificamente nas relações de trabalho em seu art. 1º, entendendo como discriminação “Qualquer distinção, exclusão ou preferência fundada em raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional, origem social ou outra distinção, exclusão ou preferência especificada pelo Estado-Membro interessado, qualquer que seja sua origem jurídica ou prática e que tenha por fim anular ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento no emprego ou profissão”
O Blog entrou em contato com a assessoria de imprensa da franquia Smart Fit. A funcionária “Rafaela” retornou o contato por telefone e se prontificou a esclarecer a questão. Esclareceu que a rede de academias Smart Fit tem unidades próprias e franqueadas e que não sabe se a unidade no bairro carioca de Botafogo é franqueada ou pertence à rede da empresa.
Então, vejamos: quanto tempo é necessário para uma empresa pedir ao setor de recursos humanos um exemplar de suas fichas de pedido de emprego? Foram dadas algumas horas para a empresa responder e a resposta não veio.
Vale esclarecer que caso a unidade acusada de discriminação seja franqueada Smart Fit, a iniciativa de perguntar a opinião política do candidato a emprego pode não ser uma prática da franquia, mas do franqueado.
Essa não é a primeira denúncia que o Blog recebe sobre constrangimento político de empregados por empregadores. As denúncias vão do constrangimento a trabalhadores já empregados a essa última, sobre constrangimento àqueles que pleiteiam vaga.
Diante disso, o Blog fez uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho para que apure o caso, já que esse tipo de constrangimento ilegal a trabalhadores está atingindo uma proporção inaceitável.
O Blog também sugere aos seus leitores que não se intimidem e que estimulem toda e qualquer pessoa que for alvo desse tipo de constrangimento a que não fique passiva. A opinião política de um cidadão é indevassável e não pode ser objeto de constrangimento.
Confira, abaixo, a denúncia ao MPT
NOTA DE ESCLARECIMENTO DA SMART FIT
A rede de academias de ginástica Smart Fit enviou, às 19 horas de 25/03/2015, e-mail com sua posição sobre o caso.
POSICIONAMENTO
A Smart Fit informa que não aborda o tema política em seus processos seletivos. A rede esclarece que foi um caso pontual, no qual um colaborador da unidade Bambina adotou uma pergunta que envolve cenário político no processo seletivo por ser um tema da atualidade, com o objetivo único e exclusivo de avaliar a habilidade de uma candidata para fazer uma dissertação. A Smart Fit informa que já reforçou a orientação sobre a realização de processos seletivos junto às lideranças das unidades. A rede também reitera que o posicionamento político de seus candidatos não interfere na decisão de contratação, principalmente por respeitarmos e apoiarmos a pluralidade de opiniões.
PS: Em contato telefônico, a empresa explicou que a unidade que colocou a questão em seu formulário de pedido de emprego não é franqueada e, sim, pertencente à rede própria Smart Fit. A explicação de que “um colaborador da unidade Bambina adotou uma pergunta que envolve cenário político no processo seletivo por ser um tema da atualidade, com o objetivo único e exclusivo de avaliar a habilidade de uma candidata para fazer uma dissertação“, não convence. Em primeiro lugar, não é assim que se propõe a um candidato a emprego que faça uma dissertação sobre qualquer assunto. Para que candidatos a emprego não se deixassem intimidar pela questão haveria que pedir uma dissertação sobre o cenário político. Perguntar o que o candidato acha do governo Dilma Rousseff é coisa bem diferente. Tampouco há garantia de que a unidade da Smart Fit em questão é a única a adotar essa prática.