Rogério Correia: “Aécio pôs um pau-mandado para responder meu desafio”
Nesta terça-feira (7/4), jornais de alcance nacional divulgaram diagnóstico que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, divulgou no dia anterior sobre a situação que encontrou. Segundo Pimentel, “faltou gestão” aos governos tucanos que o antecederam.
Confira, abaixo, matéria do jornal Folha de São Paulo
O jornal foi econômico no relato do que Pimentel encontrou. Acessando o site do PT mineiro Minas Sem Censura, descobre-se que o problema é muito maior. Confira, abaixo, trechos do estudo divulgado por esse site.
Dentre os dados alarmantes apresentados, estão as 500 obras paralisadas em Minas Gerais. Cerca de 806 convênios assinados no governo PSDB com cidades do interior foram cancelados após a derrota nas eleições. Dos R$ 76,7 milhões prometidos, apenas R$ 9 milhões foram repassados. Essa prática traz problemas para as finanças do Estado e dos municípios, que iniciaram obras e precisaram paralisá-las.
Foi divulgado também que a Cidade Administrativa, obra faraônica do ex-governador Aécio Neves (PSDB), implica gasto de R$120 milhões por ano e não há nenhum registro que mostre economia de despesas, uma das principais promessas.
Também preocupam os números da Segurança Pública, da Educação e da Saúde. De cerca de 11 mil viaturas do Estado, mais de quatro mil estão quebradas. O sistema prisional está abarrotado: 66 mil detentos ocupam 32 mil vagas. O índice de homicídio também aumentou de 2002 até 2012, passando de 2.977 para 4.535. Das 3.600 escolas, apenas 26% delas estão em boas condições e 45% não possuem refeitório. Na Saúde, os leitos do SUS diminuíram de 37.592 para cerca de 32 mil.
De acordo com o governo de Minas, ainda há um montante maior de contratos e serviços prestados, mas com os empenhos cancelados, de 2013 para trás. A dívida total chega, então, a R$ 1,1 bilhão. Tais manobras de despesas permitiram que a gestão tucana escapasse de ser enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal, que prevê que só se pode gastar o que tem previsto no orçamento.
Diante disso, e da acusação do PSDB de que o governador Pimentel estaria tentando “desviar a atenção” da atual gestão de Minas, o Blog foi ouvir o deputado estadual Rogério Correia (PT), a principal liderança do PT mineiro, para saber como ele responde à acusação tucana. Leia, abaixo, a entrevista.
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Blog da Cidadania – Hoje os jornais – inclusive os de SP – noticiaram, ainda que discretamente, declarações fortes do governador Fernando Pimentel sobre a situação encontrada por ele em MG. Falou em falta de gestão dos antecessores tucanos. O PSDB emitiu nota acusando o governador de tentar “desviar” a atenção dos escândalos do PT e da “inépcia” do novo governo. Como responde a isso?
Rogério Correia – O choque de gestão tomou bomba. Primeiro, nas urnas, onde a população mineira derrotou o candidato tucano em primeiro e segundo turnos – aliás, Aécio perdeu em Minas – e, também, para o governo do Estado. E, agora, tomou bomba também nos dados [sobre seu governo, divulgados pelo governador Fernando Pimentel].
Quando o governo Pimentel fez uma auditoria para saber a situação de Minas, o que nós encontramos foi catastrófico. O “choque de gestão” era apenas uma fantasia, uma peça publicitária de mau gosto feita sob a autoridade monetária da irmã do senador Aécio Neves, aquela que é dona da rádio Arco Íris, que recebia tantos recursos públicos e disponibilizou, em 12 anos de governos tucanos, o equivalente à construção de duas Cidades administrativas, que, aliás, é uma obra de caráter duvidoso, do ponto de vista de utilidade.
Essa história desse “choque de gestão” portanto, não concedeu a Minas Gerais a condição tão propalado déficit zero. Muito pelo contrário: nós tivemos um déficit, ano retrasado, em torno de um bilhão, ano passado em torno de dois bilhões e este ano, se eles estivessem no poder, iríamos para um déficit de orçamento de mais de sete bilhões. Ao desmascarar esse déficit, o governador Pimentel jogou por terra, também, toda a propaganda aecista.
Aliás, esse naufrágio do tal “choque de gestão” dos tucanos é algo que também tem acontecido no Paraná. Por isso, o governador Pimentel tem toda razão.
Hoje (terça-feira, 7/4), na Assembleia Legislativa, nosso bloco, do governo, mas um bloco independente, decidimos solicitar à mesa da Assembleia Legislativa a formação de uma comissão especial que possa aprofundar a investigação dessa herança maldita deixada pelos governos tucanos e do estado que o governo de Minas Gerais foi encontrado e buscar saídas da crise que foi herdada por nós após 12 anos de governos tucanos.
Blog da Cidadania – Recentemente, deputados petistas levaram ao procurador-geral da República uma série de denúncias envolvendo o ex-governador e ex-candidato a presidente pelo PSDB Aécio Neves. Isso já é produto do trabalho do controlador-geral Mário Vinícius Spinelli ou o que foi denunciado foram fatos antigos?
Rogério Correia – Não, esse caso não é do Spinelli, isso já é uma denúncia antiga, que eu mesmo trabalho nela, junto com o grupo Minas Sem Censura, há muito tempo.
Furnas foi um caixa 2 tucano de grande volume que foi feito, como o [doleiro Alberto] Yousseff acabou de revelar, que era “meiada” entre o PP, do [deputado José] Janene e o PSDB do Aécio. Yousseff, agora, revelou que havia [propina] de 120 mil dólares que ia para o PSDB, segundo ele ouviu do próprio Aécio Neves e da irmã do senador, que é a Andrea Neves.
Essa denúncia é antiga, aqui. Nós já conhecíamos através da lista de Furnas. Essa lista foi periciada pela Polícia Federal. E os tucanos, como sempre, ficam com aquele bico grande gritando muito, sempre querendo desmentir as coisas e desqualificar quem denuncia. Mas a lista é autêntica e isso foi provado pela própria Polícia Federal. E também tínhamos essa denúncia feita através da doutora Andreia Baião, procuradora do Rio de Janeiro que denunciou o Dimas Toledo, que é quem detinha a diretoria [de Furnas] que agraciava Aécio Neves para formação de caixa 2 com as empresas relacionadas.
Uma delas era a tal de Bauruense, que é a empresa que Yousseff diz que entregava o dinheiro para Aécio Neves. Só não será aberto inquérito se o [procurador-geral da República] doutor [Rodrigo] Janot tiver bico de tucano; se ele não tiver bico de tucano, vai abrir o inquérito.
Blog da Cidadania – Dentre as linhas de investigação sobre corrupção em governos anteriores ao do governador Pimentel, qual lhe parece a mais promissora?
Rogério Correia – Além de Furnas, que foi um escândalo enorme de caixa 2, nós tivemos superfaturamento na obra do Mineirão, projetos de arquitetura e engenharia que foram feitos sem licitação e sequer foram utilizados, servindo apenas para que a empresa hoje controladora do Mineirão ganhasse a licitação, essa tal de Minas Arenas.
Nós temos o caso da MG-050, que é uma rodovia que foi, também parceria público-privada – aqui eles não faziam nem privatização, era doação mesmo. Doaram para uma outra empresa amiga do Aécio que sequer duplicou a rodovia e cobra um pedágio altíssimo.
Nós temos esse presídio, que também tem uma série de denúncias contra ele; tem a rádio Arco Íris… Aqui em Minas teve até helicóptero cheio de cocaína. Nem o piloto ficou preso. Então aqui, na era Aécio, teve de tudo. Imagina um helicóptero com 445 quilos de cocaína, onde o helicóptero é devolvido aos donos, o piloto foi solto e não há procedimento investigativo algum.
Esse era o quadro que Minas Gerais tinha na época de Aécio Neves e do seu sucessor: uma censura absoluta e uma impunidade aos amigos do rei.
Blog da Cidadania – Recentemente, o senhor desafiou o senador Aécio Neves para um debate sobre corrupção e sobre a gestão dele e do ex-governador Antonio Anastasia. Houve alguma resposta? Se não, por que o senhor acha que não houve resposta? Se sim, quando haverá esse debate?
Rogério Correia – Ah, não houve resposta. Aécio pôs um pau-mandado para responder meu desafio. Finge que o assunto no existe e ainda tenta nos ameaçar. Mas eu não tenho medo de cara feia de Aécio Neves, não.
Aécio Neves tentou cassar meu mandato. Eu fiquei três, quase quatro anos sob investigação do Ministério Público a pedido do PSDB, sugerindo que eu teria forjado a lista de Furnas. Olharam minhas contas todas na Assembleia Legislativa e, ao final, viu-se que não havia absolutamente nada. A promotora mandou arquivar o processo e disse que eu não poderia ter inventado a lista de Furnas se a própria PF disse que ela é verdadeira.
Esse é o modus operandi desse banditismo que ainda existe em Minas, por parte do PSDB.
Blog da Cidadania – O PSDB acusou a gestão do governador Pimentel de “inépcia” após três meses desde a posse. A comunicação do governo está tratando de explicar corretamente à população o quadro que encontrou e que ainda são apenas 3 meses de governo?
Rogério Correia – Essa iniciativa de colocar no site Minas Sem Censura o diagnóstico do que encontramos em Minas foi muito importante, porque precisamos mostrar como vamos evoluir de uma situação de calamidade. Pimentel diz, com muita razão, que nós não tínhamos gestão em Minas; vamos ter que recuperar o Estado.
Blog da Cidadania – Que prioridade terá a comunicação no governo Pimentel? O PT mineiro aprendeu algo com os erros de comunicação do governo federal?
Rogério Correia – Espero que tenha aprendido. O governo federal é que parece que não aprendeu até hoje. Vamos ver se a gente, aqui, melhora.
Nós temos uma imprensa aqui, em Minas, que tem as mesmas características da imprensa conservadora nacional. Notadamente o jornal O Estado de Minas.
É impressionante. Nós fizemos esse diagnóstico todo [da situação de Minas Gerais] e, se você abrir o Estado de Minas, o que se lê é contra o Pimentel, que está fazendo o diagnóstico. Imagine. Se você tem um jornal desse tipo, já dá para saber o que vamos enfrentar. Nós sabemos com o que estamos lidando e saberemos como agir.