Se Brasil não quiser mesmo fim de Grécia e Espanha, fuja do PSDB

Opinião do blog

tucanos

 

Não, este não é um post sobre economia. É sobre política, que é o que orienta a economia. Ninguém gosta de ler sobre economia. Nem sobre a brasileira. E muito menos sobre a internacional. Mas todo mundo deveria ler sobre economia, pois o que nela ocorre é resultado de escolhas políticas.

Seja como for, este é um post sobre política. Sobre o risco que o Brasil corre de cair no mesmo buraco em que Grécia e Espanha pularam.

A saber.

A crise grega começou logo após a quebra do banco dos irmão Lehmann, em 2008. A Grécia era governada pelo partido socialista Pasok, que pilotava uma política econômica de centro-esquerda que, diante da crise internacional, adotou política econômica de austeridade imposta pela chamada “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional).

O governo do Pasok obteve 110 bilhões de euros em 2010 aceitando um certo “ajuste fiscal” inegavelmente necessário diante do surgimento de déficit nas contas públicas.

A tentativa de ajuste obviamente que não foi indolor. Dela decorreu desemprego, queda de produtividade e tudo mais que um ajuste provoca. Aí começaram as manifestações. Assim como no Brasil, a Grécia ganhou seus “black blocs”. Coquetéis Molotov, massas humanas nas ruas.

A piora da situação de um país que chegou a ter o 20º IDH do mundo fomentou protestos de esquerda que terminaram com a demissão do premier socialista George Papandreou, do Pasok, a legenda dominante no pós-Segunda Guerra Mundial.

Papandreou deixou o cargo em novembro de 2011 e assumiu o governo ultraconservador do ex-primeiro-ministro Antonis Samaras, da Nova Democracia. Ou seja, a radicalização à esquerda levou a direita ao poder.

Os conservadores, claro, adotaram reformas ainda mais draconianas para manter a Grécia na Zona do Euro. De repente, os gregos descobriram que eram felizes com o governo de centro-esquerda e não sabiam.

O novo premiê, Samaras, apostou em um programa de austeridade muito mais profundo.

Após anos de mergulho nas taras neoliberais de Samaras, Alexis Tsipras, líder da legenda de ultraesquerda Syriza, venceu as eleições e chegou ao poder neste ano. A prioridade do premier Tsipras era renegociar a dívida com os credores internacionais e pôr um fim à política de austeridade.

O Syriza esteve entre os entusiastas dos protestos que levaram os conservadores ao poder no fim de 2011 e que aplicaram o receituário neoliberal em sua inteireza até o ano passado. Agora, no poder, tem que dar respostas que não tem. Até porque, pegou um país economicamente arrasado pelas taras neoliberais.

Na Grécia, protestos da ultraesquerda contra a centro-esquerda levaram a centro-direita ao poder e ela quebrou o país de vez.

Na Espanha aconteceu algo parecido. No poder desde 2004, o “presidente do governo” (equivalente a primeiro-ministro) José Luis Zapatero, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), colheu os frutos do movimento de protestos que mais se identificou com o que ocorreu no Brasil.

Os protestos de 2011 na Espanha, chamados por alguns meios espanhóis de Movimiento 15-M, Indignados e Spanish revolution, foram organizados pelas redes sociais Começaram em 15 de maio de 2011 com uma convocação em cinquenta e oito cidades espanholas e usaram os mesmos métodos que no Brasil e na Grécia.

O resultado foi igual ao grego. O PSOE de Zapatero perdeu as eleições para o PP, de Mariano Rajoy, ultraconservador. Mais uma vez, protestos de esquerda levaram a direita ao poder. A partir dali, os espanhóis descobriram que eram felizes com Zapatero e não sabiam.

Rajoy passou a implementar o mesmo receituário ultraliberal que se abateu sobre a Grécia e seu partido está politicamente arrasado pelo efeito desse receituário. E, como na Grécia, em dezembro deste ano é possível que o Podemos, que era um movimento jovem e em 2014 constitui-se como partido político, chegue ao poder assim como o Syriza.

Mais uma vez, um partido de ultraesquerda que promoveu protestos contra governo de centro-esquerda pode chegar ao poder. Lá chegando, encontrará o mesmo que o premiê grego, Alexis Tsipra: terra arrasada, e sem margem de manobra.

Tsipras convocou um plebiscito para saber se o povo grego aceita ou não as medidas de austeridade impostas pela “Troika”. Mas isso não mudará o fato de que decidam os gregos o que decidirem – e devem decidir contra a austeridade -, vão pagar um preço altíssimo.

Não honrando os compromissos externos, o país ficará sem crédito internacional e o baque sobre a atividade econômica será imenso. Exportações e importações serão reduzidas drasticamente, o nível de emprego irá despencar. A inflação deve disparar, pois com possível escassez de produtos que não podem ser importados ou produzidos internamente, o mercado irá cobrar preços cada vez mais caros pelo que falta.

E a alternativa de a Grécia adotar o receituário da União Europeia não é muito melhor. Em vez de passarem aperto por necessidade, os gregos passarão aperto por opção.

Tudo isso decorreu, nesses países, de uma situação que nos ameaça, aos brasileiros. Um ajuste leve e que pode ser ultrapassado é combatido ferozmente pela ultraesquerda e considerado “insuficiente” pela direita moderada. E muito mais pela direita radical.

O ex-futuro ministro da Fazenda que o Brasil teria caso Aécio Neves vencesse a eleição presidencial, Armínio Fraga, declarou, recentemente, que se o tucano tivesse vencido o ajuste fiscal seria muito mais duro.

A esquerda brasileira, assim como a grega ou a espanhola, não entende isso. Alguns esquerdistas de butique chegam a dizer que “tanto faz” o PT ou o PSDB no poder. Ledo e Ivo engano.

Afortunadamente, o Brasil escapou de repetir Grécia e Espanha. Por pouco. Tivemos sorte de Dilma ter vencido, mesmo que tenha sido para ter que aplicar um ajuste fiscal que não está sendo feito por maldade, mas porque não temos como conviver com receitas públicas menores do que a despesa.

Claro que se fizéssemos o que faria o PSDB os mercados passariam a “confiar” em nós, ao menos retoricamente, enquanto que mantêm reservas quanto a Dilma porque seu ajuste não é suficientemente impiedoso. Mas o que Grécia e Espanha ganharam com a “confiança” do mercado?

O que Mariazinha ganhou atrás da horta.

Seja como for, a opinião deste Blog é a de que se Dilma conseguir aplicar o ajuste fiscal chegaremos a 2018 com a economia em ordem e talvez até crescendo. Porém, a continuidade desse processo irá depender de quem a substituirá, caso não seja derrubada em pleno ajuste.

O que se espera é que o Brasil não caia na desgraça de Dilma ser derrubada e substituída por um tucano antes de completar o ajuste e a economia começar a andar de novo. Se isso ocorrer, assistiremos, nos trópicos, a uma reprise dos filmes grego e espanhol. Só que com final ainda mais triste.