Folha quer fazer crer que Lula está cercado de traidores
A guerra entre Luiz Inácio Lula da Silva e quatro empresas que dirigem a dita “grande imprensa brasileira” remonta a pouco mais de um quarto de século. Globo, Grupo Folha, Grupo Estado e Editora Abril declararam guerra ao líder petista em 1989 e essa guerra prossegue até hoje.
Alguns diriam que nem é bem uma guerra, mas um cerco. Afinal, durante os últimos 25 anos um lado sempre esteve no ataque e o outro, sempre na defesa. Lula nunca fez uma única denúncia contra esses grupos empresariais. Eles é que, nesse um quarto de século, nunca pararam de fazer denúncias contra ele.
Denúncias que, muitas vezes, chegam ao cúmulo do absurdo, como quando a Folha de São Paulo publicou, com chamada em sua primeira página, matéria acusando o então presidente da República de ter tentado estuprar um menor que dividiu com ele uma cela durante a ditadura militar, nos anos 1970.
É difícil dizer qual entre os quatro impérios de comunicação ataca com maior fúria. São estilos diferentes.
O circunspecto Estadão faz reiteradas acusações de “corrupção” – sempre com base em indícios fracos – e críticas ao que chama de “populismo” com que o petista faria política e à sua “falta de capacidade administrativa” e instrução formal
Os veículos das Organizações Globo divulgam qualquer ataque em seus mais diversos estilos, amplificando o que qualquer dos outros três outros grupos empresariais antilulistas produza e, claro, cria seus próprios ataques. O método Globo caracteriza-se pela massividade e pela repetição incessante.
A Editora Abril, através da Veja, mistura as mesmas acusações de corrupção, de incompetência, de populismo com imensa profusão de deboches e provocações.
Já a Folha, de longe, é o veículo que atua com maior inteligência, pois disfarça o ódio – os outros veículos antilulistas dão muito na vista. O grupo dos Frias produz menos ataques diretos – sejam de corrupção ou incompetência. Aposta mais em ataques dissimulados, sobretudo por meio de uma tática que os outros grupos de mídia usam bem menos, a tática de colocar palavras na boca do alvo, tentando fazer com que condene a si mesmo e/ou se indisponha com aliados.
Em verdade, a tática não chega a ser inteligente. É esperta. Para ser inteligente, teria que convencer pessoas inteligentes. Porém, o jornal aposta justamente na falta de inteligência. Não na burrice escrachada dos leitores da Veja, na burrice conservadora dos leitores do Estadão ou na burrice de manada do público das Globos, mas na pseudo inteligência de um público esnobe, mas que não pensa muito mais do que o público dos outros veículos.
Apesar de a Folha tentar vender que seu leitorado é mais inteligente, a incapacidade desse público para refletir sobre os ataques arrasadores que o jornal “informa” que “aliados” ou “pessoas próximas” a Lula “confidenciaram” denota que esse leitorado não pensa.
Há um par de meses, o Instituto Lula chegou a divulgar nota pública sobre esse método de ataque da Folha.
Não passa uma semana sem que o jornal relate supostas “confidências” de “amigos”, “interlocutores” ou “pessoas próximas” que, vindo a público, colocam o ex-presidente em maus lençóis. Na última segunda-feira, a Folha voltou à carga com um relato surpreendente, incrível para qualquer pessoa que se disponha a refletir por um minuto.
Lula teria dito a “aliados” que a recente busca feita pela Polícia Federal na empresa de seu filho denotaria “desgoverno” da presidente ou seria “prova de que Dilma orientou seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a unicamente protegê-la, ainda que seu padrinho político tenha que pagar o preço disso”. Lula também teria dito a esses “aliados” que, nos dois casos, a culpa pela devassa na empresa de seu filho seria “culpa de Dilma”.
O mais inusitado em tudo isso é que a Folha coloca palavras na boca de Lula que lhe teriam sido relatadas por pessoas que vivem em seu entorno, os tais “aliados”, “amigos”. Lula desmente. Passam-se mais alguns dias e os tais “aliados” voltam a relatar à Folha – e sempre à Folha – que Lula estaria lhes dizendo mais coisas que o comprometem.
Lula, então, lê na Folha as novas inconfidências dos “aliados”, dos “amigos”, das “pessoas próximas” que contaram ao veículo o que ele lhes dissera em segredo. Mas nunca, jamais, toma providências para que suas palavras voltem a ser “vazadas” por pessoas de sua “confiança”.
Quem seriam essas pessoas às quais Lula faz confidências mesmo sabendo que, em seguida, irão procurar a Folha para violar o que lhes foi segredado? Por que, após anos tendo suas conversas vazadas para a Folha por “amigos”, “aliados”, Lula não afasta essas pessoas de si?
Com “amigos” e “aliados” como esses, ele não precisa de inimigos, certo?
Nem eu ou você, leitor, seríamos tão incompetentes a ponto de fazer confidências a pessoas que soubéssemos que, em seguida, violariam nossa confiança. Imagine, agora, um político experiente como Lula…
Poucas pessoas sensatas ainda duvidam de que há um surto de fascismo no Brasil. Porém, não é o único surto que nos fustiga. A incapacidade de tantos de fazerem uma análise ridiculamente simples como a que você acaba de ler mostra que o Brasil também sofre um surto de burrice.