Petista “arrependido” (ou hesitante) é pior que ex-marido ou ex-mulher

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É preciso muita força moral para manter convicções políticas e ideológicas minoritárias nos dias de hoje e não se vergar na direção que as conjunturas impõem aos ventos da opinião pública, para não desdizer a si mesmo quando a conveniência requer.

A fila diante do altar antipetista cresceu muito. Cristãos-novos chegam todos os dias, aterrorizados com o som das panelas do vizinho de cima ou de baixo ou da parentada e dos “colegas” de trabalho, ou, terror dos terrores, com o som das panelas douradas do patrão.

Algum nível de antipetismo, antilulismo ou antidilmismo há que exibir para não se mostrar “alienado”.

O meio de se desvincular de responsabilidades pelas próprias opiniões é simples, não requer prática ou habilidade: você critica “todosuspuliticu” e tudo bem, ganha um passaporte moral que lhe dá direito a passear em paz por aí sem ser chamado de “ladrão” por ter uma opinião política diferente da da maioria.

Esse tipo de canalhice caracteriza petistas e “petistas” arrependidos (as aspas diferenciam os simpatizantes dos filiados ao PT), dos quais o exemplo máximo, hoje, é Marta Suplicy, quem, com uma desfaçatez de fazer vomitar, desfere críticas ao ex-partido como se jamais tivesse sequer passado perto dele.

Mas o exército dos que ou viraram a casaca ou adotaram a tática do morde e assopra (para não parecerem petistas demais) não para de crescer.

O petista arrependido profere insultos pesados àqueles que apoiava ou com os quais caminhava, dizendo-os, eufemisticamente, “críticas construtivas”, como se fosse admissível engrossar o atual coro dos linchadores sem se tornar um deles.

Esse ser transmudado intelectualmente parece ex-marido ou ex-mulher: não rompe de vez com o ex-cônjuge porque ainda tem algum tipo de laço com ele, mas não perde oportunidade de espicaçá-lo.

O petista arrependido justifica sua mudança de atitude lembrando afagos que fazia a Lula, a Dilma ou ao PT quando os presidentes petistas tinham 60, 70, 80 por cento de popularidade e, então, era fácil defendê-los e/ou elogiá-los.

Ser petista ou “petista” antes da conjuntural “derrocada” do petismo ou do lulismo – fenômeno que os oportunistas enxergam de forma superdimensionada – rendia bons contratos e muitos contatos, prestígio, muitos cliques, curtidas e compartilhamentos.

Hoje, a conjuntura impõe uma situação diferente. Quem não fizer algum nível de profissão de fé no antipetismo, no antilulismo ou no antidilmismo se expõe a ser caracterizado como alheio à “realidade”.

Hoje, virou moda menosprezar os feitos de Lula. A inédita redução da desigualdade, da pobreza e da miséria que promoveu, a possibilidade que deu aos negros e aos pobres em geral de chegarem ao ensino superior, tudo isso se reduziu a dar bens de consumo aos que sempre estiveram alijados do mercado de consumo de massas.

A revolução no combate à corrupção que permite que hoje ninguém esteja acima da lei, virou mero acesso a geladeira ou a celular novos.

De líder político que governou de mãos dadas com o povo, Lula transformou-se em estelionatário que vence eleição pela esquerda e governa pela direita, como se fosse possível a qualquer governante administrar o Brasil só com dogmas esquerdistas.

A realidade imposta pela necessidade de maioria parlamentar para conseguir governar deixa de existir na retórica do petista arrependido ou do esquerdista que prega “revolução” enquanto se lambuza de caviar em seu condomínio-mansão contíguo ao de FHC.

Funciona assim: você se elege e não faz aliança com ninguém. Governa em minoria e, ainda assim, aprova tudo o que quer no Congresso. Como? Essa fórmula o discurso do petista arrependido não dá. Só diz o que há que fazer, não COMO fazer.

Só muda de convicção de acordo com a direção em que sopra o vento aquele que, em verdade, nunca a teve. Quem acredita mesmo no que diz, não muda hoje o que disse ontem, não passa a “enxergar”, do nada, o que jamais enxergou.

Voto em Lula e no PT desde 1989, quando eu tinha 30 anos. Hoje, tenho 56 anos e continuo pensando a política exatamente como pensava há um quarto e pouco de século porque o resultado dos governos do PT foi extremamente favorável a este país.

Dos 13 anos em que o PT está no poder, durante 12 o nível de emprego, a renda e os salários subiram como nunca, a desigualdade, a pobreza e a miséria despencaram como jamais se viu.

O “belo” discurso de ultraesquerda produziu o quê, ao longo dos últimos 500 anos? Sem alianças ao centro, os governos Lula e Dilma teriam conseguido aprovar medidas no Congresso de modo a lograrem tanta melhora no padrão de vida dos brasileiros?

Os governos petistas tiveram um ano de estagnação social contra doze de progresso que nunca se viu no país. E esse ano ruim decorre de quê, basicamente? Não existe sabotagem da economia?

Até se admite que Dilma possa ter esticado demais as desonerações fiscais, fazendo a arrecadação cair e produzindo o déficit fiscal que hoje há que combater. Mas elas foram feitas para preservar emprego e renda.

Reduzir a conta de luz ou os juros, investir montanhas de dinheiro público na economia, fazer o Estado ser indutor do crescimento, tudo isso é governar “pela direita”? Só se for no nariz (para usar um local decente da anatomia) de quem diz tal barbaridade.

Estou muito lúcido em minhas convicções. Debato com qualquer um, na hora em que qualquer um quiser. Mas só debato se o nível do debate for elevado. Não vou me meter em arengas porque elas não levam a lugar algum.

Quem quiser debater meus pontos de vista, faça-o de frente e de forma civilizada e respeitosa que terá em mim um debatedor leal, intelectualmente honesto, porém cheio, lotado de argumentos, o que, muitas vezes, levam o divergente a preferir o insulto.