Ódio ao amor: políticos de direita fazem homofobia crescer no país

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Na última sexta-feira (23), um casal de namoradas relatou ter sofrido preconceito em uma padaria no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo. As namoradas teriam sido advertidas por uma funcionária, também homossexual, que lhes pediu para pararem se de abraçar.

O relato (confira ao fim da reportagem) foi publicado no perfil da rede social de Tatit Brandão que namora Laura Baruffaldi.

Segundo Tatit, a funcionária que as abordou contou que dois clientes reclamaram do casal ao gerente. A atendente afirmou também ser homossexual, desde os 11 anos. “O gerente pediu pra eu vir aqui falar com vocês porque ele sabe que eu sou gay”.

Tatit também denunciou o assédio moral contra a funcionária. “A funcionária recebendo uma ordem do chefe não está em posição de argumentar, nem discutir, nem se negar a nada, ainda que a ordem seja oprimir pessoas iguais a ela, e a si mesma”.

O caso ganhou proporções nas redes sociais, e a padaria Delícia de Perdizes, próxima à avenida Afonso Bovero, publicou carta de retratação.

Queremos nos retratar publicamente com o casal Tatit Brandão e Laura M Baruffaldi. Por elas terem passado pela degradante situação de se sentirem erradas, quando não fizeram nada mais que demonstrar o sentimento que sentem uma pelo outra“.

O estabelecimento também respondeu às acusações de assédio moral contra a atendente. “A culpa não é da funcionária que as abordou. A culpa é da Delícia de Perdizes”.

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Confira, abaixo, o relato de  Tatit Brandão no Facebook

Manhã de sexta-feira. Um casal apaixonado demonstra amor e afeto enquanto toma café na padaria Delícia de Perdizes, no antigo bairro querido, a Pompeia. Duas mulheres comendo pão na chapa, café e suco de laranja enquanto conversam, se beijam, se abraçam, compartilham sonhos, sorriem e são felizes: eu e minha companheira Laura M Baruffaldi.

Uma funcionária da padaria se aproxima da mesa e me cutuca as costas. (Aqui, toda mulher que está amando outra mulher, como descrito ali em cima, conhece bem a qualidade do medo que surge imediatamente. O medo de estar prestes a sofrer mais uma vez a violência da homofobia.) A sensação do medo toma conta e faz com que pareça que virei meu corpo em câmera lenta pra ver quem me chamava.

“Olha, dois clientes já foram reclamar com o gerente o incômodo que vocês estão causando. Um deles, um senhor que estava com o filho e foi questionar que tipo de ambiente a padaria, que deveria ser um “ambiente familiar”, nesse momento está proporcionando. Então, eu peço a delicadeza de vocês serem discretas…”

Continuamos olhando e sugerindo, em silêncio, que ela continuasse a fala até concluir, mesmo em momentos em que a funcionária demonstrava querer parar de falar. Mas percebemos que estava bem difícil.

“Não é preconceito por vocês serem assim, nem nada, me desculpa, não é por mal, eu também sou gay e faz tempo, desde os meus 11 anos. Tem alguns lugares que eu me sinto bem à vontade… no Vermont, na República, no Arouche… mas é que lugares como aqui é bem complicado… Sabe? Meninas, me desculpem mesmo, a padaria quer receber e agradar todo mundo, o gerente pediu pra eu vir aqui falar com vocês porque ele sabe que eu sou gay e aqui nunca sofri nenhum preconceito em relação a isso, eles me aceitam normal…”

Falei que queria entender direito e perguntei o que ela estava nos pedindo. A moça tentou falar, continuou se embananando mais ainda, se emocionou, pediu desculpas e saiu da nossa frente chorando em direção ao banheiro. Essa cena se repetiu mais duas vezes. Ficamos, claro, paralisadas e incrédulas com o tamanho do horror a que NÓS TRÊS estávamos sendo submetidas.

Sofrer homofobia já é um horror sem fim. Sofrer homofobia e ao mesmo tempo presenciar um assédio moral descarado entre chefe-empregada sendo que a empregada sofre o mesmo tipo de opressão que você, é um horror elevado a enésima potência. A funcionária recebendo uma ordem do chefe não está em posição de argumentar, nem discutir, nem se negar a nada, ainda que a ordem seja oprimir pessoas iguais a ela, e a si mesma.

A questionamos sobre o posicionamento da padaria e perguntamos por que achava que a padaria não estava tendo uma postura homofóbica se pediram pra nos solicitar um disfarce de quem somos para satisfazer aqueles homens que não nos toleram, ao invés de anunciar aos mesmos que aquele era um lugar que acolhia a diversidade. A moça desmontou novamente, entre o que percebia que estava fazendo conosco (e consigo mesma) e o medo de não cumprir a função de forma satisfatória e correr risco de perder o emprego. Uma atrocidade!

Na sequência, saiu e voltou nos oferecendo um presente que, obviamente, não aceitamos. “Mas olha, esse é um pedido meu de desculpas, esquece a padaria, é meu presente pra vocês”. Explicamos que aceitamos o pedido de desculpas DELA, mas que não podíamos sair dali como se tivéssemos sido caladas por um panetone diante da postura HOMOFÓBICA SIM da padaria.

Saímos dali duas horas depois, paralisadas pelos infinitos minutos de violência. Em direção ao caixa, a passos lentos de um momento amargado, no chão de lama da nada delícia das Perdizes, com os olhos atentos a todos que nos olhavam e o coração entristecido.

Um verdadeiro assalto ao sabor do amor.

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