Cientistas políticos explicam por que a rejeição a Lula está caindo

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Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha em 29 e 30 de novembro mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança das intenções de voto para as eleições presidenciais de 2018. Com 34% da preferência dos entrevistados, o petista é seguido pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC), apoiado por 17%.

Além de mostrar Lula na dianteira – algo que outras pesquisas anteriores já faziam -, o Datafolha mostra uma contínua queda nos índices de rejeição ao nome do ex-presidente, que comandou o país entre 2003 e 2010.

Em março de 2016, auge da crise que atingiu o PT, 57% dos entrevistados diziam que não votariam em Lula de jeito nenhum. Na época, o juiz Sergio Moro havia divulgado grampos telefônicos com conversas do ex-presidente  com uma série de interlocutores, entre eles aliados políticos como a então presidente da República, Dilma Rousseff.

Na pesquisa de novembro de 2017, a rejeição a Lula caiu para 39%. Desde que Dilma foi afastada temporariamente da Presidência para responder ao processo de impeachment, em maio de 2016, e Michel Temer assumiu o cargo, o PT deixou de ser o maior alvo das denúncias de corrupção a partir de investigações da operação Lava Jato.

De março de 2016 para cá a crise política se alastrou. Depois do impeachment de Dilma ser concretizado, com a ascensão ao poder do vice Michel Temer, as suspeitas da Lava Jato se espalharam. Enquanto Lula era condenado em primeira instância, as denúncias da operação passaram a atingir mais diretamente membros da cúpula do PMDB, incluindo o próprio Temer, além de nomes importantes de partidos que integravam o governo, como o senador Aécio Neves, dirigente nacional do PSDB.

Lula é o único com menos rejeição na pesquisa de novembro de 2017 do que no levantamento de março de 2016.  A queda da rejeição ao nome do ex-presidente Lula ocorre a despeito de ele ser réu em 9 processos por corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, incluindo aí uma condenação.

Lula foi condenado no processo do tríplex do Guarujá a nove anos e meio de prisão, sob acusação de receber propina da empreiteira OAS, em sentença dada pelo juiz Sergio Moro em julho de 2017. Se a condenação for mantida em segunda instância, o ex-presidente pode ficar impedido de concorrer na eleição de 2018 por conta da lei Ficha Limpa.

O que explica a queda contínua da rejeição de Lula? Dois cientistas políticos buscam explicações,  Leonardo Avritzer, professor de ciência política da UFMG Adriano Oliveira, professor de ciência política da UFPE, e Leonardo Avritzer.

A rejeição do Lula cai por duas razões. Primeiro, o ex-presidente está em campanha. Segundo, a Lava Jato está sendo cada vez mais questionada, tanto os trabalhos conduzidos pelo juiz Sergio Moro quanto pelas ações da Polícia Federal.

Um dos sinais é a veiculação das contestações à Lava Jato na mídia. Nas últimas semanas portais de grande alcance, como UOL e sites dos jornais O Globo e Estadão, estão publicando artigos desfavoráveis à Lava Jato e aos atuais métodos de combate à corrupção.

Então, na realidade, existe um movimento de relativização com relação ao Lula, porque as provas contra ele são mais frágeis do que aquelas apresentadas em denúncias contra outros políticos. Há um certo ceticismo com relação à Lava Jato, aos trabalhos do juiz Moro.

A Rede Globo está mostrando os problemas nas relações pessoais de Moro que ainda precisam ser explicadas [o ex-advogado da Odebrecht Tacla Durán diz ter pago propina a um padrinho de casamento de Moro para conseguir um acordo de delação premiada mais benéfico].

Em um primeiro momento, a polêmica envolvendo Tacla Durán e Moro atinge a força-tarefa [da Lava Jato] de Curitiba, mas é claro que indiretamente vai afetar os trabalhos em Brasília também [sobre os políticos quem têm foro privilegiado].

Conjuntamente, a contestação à atuação de investigadores e o fato de Lula estar em pré-campanha pelo Brasil ajuda a diminuir a rejeição ao nome dele.

Nessa pesquisa, o dado relevante de fato é a rejeição a Lula, não aos outros pré-candidatos [com rejeição maior do que tinham há um ano].

O primeiro motivo para que a rejeição a Lula esteja caindo é o fato de que seus eleitores são contrários às medidas econômicas do governo Temer. A queda da rejeição do Lula está ligada diretamente à rejeição ao governo Temer e, consequentemente, à cristalização do voto do PT.

Isso significa que os eleitores de Lula, durante um determinado período, perderam a confiança na figura do ex-presidente, sobretudo por conta de denúncias de corrupção. Mas em um dado momento, com a apresentação de denúncias de corrupção contra políticos que fazem parte do governo Temer, a defesa de reformas [como a trabalhista e da Previdência] e a não melhora da economia – porque os mais pobres ainda não sentiram essa melhora – os eleitores voltam para o lado de Lula.

Essa volta do apoio ao Lula se dá muito por conta da lembrança de como era a situação durante os governos do ex-presidente [entre 2003 e 2010].

Há uma aposta enganosa de que a Lava Jato será a pauta para a eleição de 2018. Se a Lava Jato fosse a pauta da próxima eleição, o ex-presidente Lula não seria líder nas pesquisas de intenção de voto, a rejeição a ele não teria caído e o teto eleitoral dele não teria aumentado no segundo turno para mais de 50% [maior percentual de intenção de votos entre todos os cenários testados para 2018].

Ou seja, a Lava Jato não está batendo na porta das eleições. O que existe é um eleitorado que reprova as reformas, que ainda não sentiu no bolso nenhuma melhora decorrente das medidas econômicas do governo e que, mesmo que venha a sentir essa melhora no bolso, é um eleitor que tem identificação com o discurso e com a memória do governo Lula, mesmo que durante um período ele tenha se ressentido com o ex-presidente.

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