Golpistas descobrirão em uma esquina que perderam
Nasci em uma família de classe média alta. Estudei em escolas católicas de São Paulo como os Colégios São Luis e São Bento. No Brasil, passo por branco como tantos outros não-brancos brasileiros que, por terem a pele branca, ignoram seu DNA de raiz africana, comum a mais de 90% deste povo.
Não tenho motivos emergenciais para defender a redução da perversa concentração de renda do Brasil porque, como boa parte da classe média deste país, tenho o suficiente para viver com dignidade e até algum conforto.
Contudo, sempre fui socialista. Sempre defendi distribuição de renda, combate ao gigantesco preconceito racial vigente no país, sempre defendi reforma agrária, direitos trabalhistas e presença do Estado na economia.
Não sou exatamente um bom samaritano. Tenho razões próprias, egoísticas, para defender ampliação de direitos e oportunidades para todos e não só para os filhos da minha classe social e dos andares acima do meu.
Quando Lula chegou ao poder, em 2003, levantei as mãos aos céus e agradeci pela providencial eleição de alguém que impediria que sobreviesse uma convulsão social que já se tornara iminente devido à assustadora desigualdade que chegara a crescer na era Fernando Henrique Cardoso graças ao neoliberalismo obsceno a que o tucanato se entregara.
O povo não aguentava mais. A criminalidade estava explodindo e a idiotia pátria achava que poderia impor a paz social por meio da violência policial, de penas de prisão mais longas e do aprofundamento das torturas carcerárias a fim de “assustar” os bandidos.
Sempre tentei argumentar com essa gente que quem se arrisca a enfrentar a polícia que mais mata no mundo ou ser internado em um dos piores – se não no pior – sistemas carcerários do mundo, não pode ser intimidade. Está aí para matar ou morrer.
Se essas pessoas se dignassem a visitar uma comunidade pobre e conversar com esses jovens que com menos de uma década de vida já dizem que querem ser bandidos – não astronauta, médico ou jogador de futebol, mas bandido – talvez entendessem que não será com violência policial ou masmorras que a criminalidade seria reduzida.
Lula se elegeu em 2002 e nos oito anos seguintes trataria de se tornar algodão entre cristais. Suas políticas sociais impediram uma convulsão social no país. Muitos jovens pobres – paupérrimos – começaram a ter esperança – e quem apela à criminalidade é porque já perdeu a esperança de vencer honestamente na vida.
Convenhamos: um jovem pobre, negro, que estuda em escolas em que os professores não têm conhecimentos nem para si próprios, quanto mais para ensinar, e que ganham salários de miséria, sabe muito bem que jamais irá progredir na vida.
Claro que há exceções. Raras. São os que a loteria genética favorece e que, assim, nascem mentalmente superdotados. Esses conseguem até entrar em boas faculdades mesmo tendo tido um ensino fundamental e/ou médio de merda, mas são exceções das exceções.
Isso sem falar que negro já começa a vida com uma desvantagem que mesmo que tivesse um bom ensino, teria que superar: o racismo, o preconceito, a discriminação.
Isso em um país em que a maioria esmagadora do povo é afrodescendente.
A condenação de Lula, se vingar, e se a esquerda continuar dividida no processo eleitoral deste ano, tudo isso junto dará vitória a um segundo Michel Temer. Só que um Temer muito pior.
A centro-direita neoliberal tentará eleger o Santo, codinome de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, nas delações da Odebrecht.
Alckmin enriqueceu muito na política. Sua família flana pelo mundo afora torrando fortunas, e não há Ministério Público, Sergio Moro ou Globo que fique curioso com o bem-bom dos tucanos.
Se Alckmin virar presidente da República, poderá roubar o Banco Central que ninguém conseguirá denunciar. Será um governo Temer COM legitimidade das urnas, graças à campanha que Globo e cia. farão para si.
Continuará, então, o processo de tomar dos pobres tudo o que Lula e Dilma deram em 11 dos 13 anos do PT, antes de começar a sabotagem da economia pela Lava Jato.
Se Lula for preso, o tal “combate à corrupção” estará encerrado. Aliás, o Brasil voltará a ser o país de políticos probos, honestíssimos, que existia antes do governo Lula. É o que se depreende de um país que jamais tinha encarcerado um político até que o PT chegasse ao poder.
Ou seja: o povo vai voltar a ser massacrado, sem direitos trabalhistas, salários de fome como era até 2003.
Mas isso não vai ficar. Assim. As ruas cobrarão um alto preço. Em alguma esquina, em algum semáforo, um garoto de nove ou dez anos, portando uma arma grande demais para suas mãozinhas, vai dar um tiro na fuça de muitos desses fascistoides que ajudaram a trazer de volta tudo que estava acabando no Brasil.
A revolução virá, mas não será nem de direita, nem de esquerda. Será uma onda de criminalidade que obrigará quem tem dinheiro a contratar escoltas para andar pelas ruas ou para proteger sua casa. Se você não tem dinheiro pra isso, é melhor começar a rever os seus conceitos.