Ataque da Lava Jato à defesa de Lula é golpe mortal na democracia
A notícia de que a Lava Jato vai investigar a defesa do ex-presidente Lula é um daqueles fatos que, isoladamente, não diz nada porque todos os cidadãos são passíveis de terem que explicar acusações que contenham o mínimo de elementos necessários a uma suspeita fundamentada. Porém, dentro do contexto em que tal fato se insere, trata-se de um golpe mortal na democracia brasileira.
A imprensa noticiou na sexta-feira 23 de fevereiro que o escritório que defende o ex-presidente Luiz Lula foi acusado pela Operação Lava Jato de estar ligado a um esquema envolvendo o presidente da Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro), Orlando Diniz, preso também na sexta-feira 23 pela Polícia Federal.
De acordo com os procuradores da Lava Jato no MPF, o escritório Teixeira, Martins e Advogados recebeu R$ 68,2 milhões da Fecomércio entre 2012 e 2017, segundo dados levantados pela Receita Federal.
Quais as razões dessa acusação? É que o presidente da Fecomércio fluminense é acusado de utilizar verba pública federal do Sistema S –formado por Sesc e Senac, administrado pela Fecomércio– para gastar cerca de R$ 180 milhões com serviços de advocacia e o escritório que defende Lula foi o que recebeu a maior quantia.
Nesse momento, qualquer pessoa minimamente racional se pergunta: a suspeita sobre o escritório de advocacia que defende Lula é maior porque esse escritório foi o que mais recebeu da Fecomércico para advogar – atividade que costuma ser comum a escritórios de advocacia – ou por esse escritório defender alguém que a Lava Jato persegue obsessivamente?
Outro fato a contextualizar é a relação turbulenta entre os membros da Lava Jato – aí incluídos procuradores, policiais federais e, sobretudo, o juiz Sergio Moro – e a defesa do ex-presidente, com destaque para o advogado Cristiano Zanin Martins. A imprensa está repleta de notícias de conflitos entre esses agentes.
Se este Blog continuasse procurando as notícias sobre conflitos entre a defesa de Lula e a Lava Jato, enxeria dezenas ou até centenas de páginas porque essa relação vem sendo notoriamente conflituosa além, inclusive, do que seria esperável em um processo legal sério, pois advogados não se tornam inimigos de juízes por vontade própria, já que terão suas causas julgadas por eles.
Tudo que se pode depreender dessa notícia lamentável é que os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins estão sendo retaliados pela Lava Jato não só por conflitos com procuradores e o juiz Sergio Moro, mas, também, por terem tido a ousadia Suprema de querer defender alguém que é alvo de um processo político que nada tem que ver com “justiça”.