Facebook encolheu esquerda e vitaminou direita no Brasil
As recentes polêmicas envolvendo o Facebook decorrentes da mudança da política da empresa norte-americana para divulgação de notícias e controle do alcance das postagens naquela rede social podem contribuir para que a militância de esquerda no país escape de uma armadilha: o próprio Facebook.
A maior rede social do mundo começou a se popularizar com mais força no Brasil por volta de 2010. E ela acabou se tornando o mecanismo que ressuscitaria a extrema-direita no Brasil e, em seguida, agigantaria os adeptos dessa ideologia nefasta que, no maior de seus desatinos, gerou o nazismo.
A esquerda caiu como um patinho nas mãos do Tio Sam. O Facebook reintroduziu o poder econômico no acesso à comunicação de massa – entendendo assim a rede social de Mark Zuckerberg.
Antes do Facebook, a centro-esquerda dominava a discussão política na internet através da Blogosfera.
Acima, o resultado do Prêmio Ibest de 2008 de melhor blog político do país
Depois veio o Facebook e o público dos Blogs migrou em grande parte para lá. Qualquer post em um Blog tinha centenas de comentários e as pessoas liam os textos. Hoje, o público do Facebook é movido a memes mal-escritos e sua relação com textos de verdade se resume a compartilhar links que levam a eles após ter lido apenas os títulos das matérias.
Mas esse não foi o pior resultado. Nos últimos dias, o Blog fez matérias sobre mais um dos desatinos em série de Jair Bolsonaro e o que se viu foi que ele tem uma tropa engajada voluntariamente numa luta feroz para elegê-lo presidente.
Não se pode negar que há um aspecto positivo nos seguidores de Bolsonaro: eles são incansáveis.
Sim, são mal-educados, agressivos, não entendem minimamente os conceitos de cidadania e Estado de Direito – e não entendê-los não é ideologia, é ignorância -, mas estão lutando idealisticamente pelo que acreditam.
Em um momento em que a esquerda se calou, abriu mão de lutar pelo que acredita, é preciso respeitar – sem apoiar – quem luta pelo que acredita, mesmo que esteja errado.
Claro que considero uma insensatez apoiar Bolsonaro, alguém que pregou tortura, assassinatos em massa, golpe de Estado, sonegação de impostos, violência policial, mas essas pessoas que o apoiam acham que estão fazendo o certo.
As propostas de Bolsonaro e seus seguidores são alucinadas e perigosas. Precisam ser combatidas. Mas quem luta pelo que acha correto não é totalmente culpado pelo que apoia, mesmo sendo o mal encarnado.
O Facebook, agora, puxou o tapete de todos. Instrumento de uso de poder econômico por vender – em dinheiro, cheque ou cartão – audiência e popularidade, essa rede social decidiu dar um beiço em que investiu fortunas para conseguir o que não conseguiria sem pagar.
E quem tem muito mais dinheiro, como se sabe, é a direita. Grandes grupos econômicos financiaram grupos de direita para montar páginas no Facebook para atacar políticos de esquerda e consolidar o golpe.
A derrubada de Dilma nasceu no Facebook em junho de 2013 graças à proverbial falta de juízo da esquerda alegadamente “autêntica”, ou seja, partidos, movimentos sociais e pensadores que ainda falam em “revolução proletária” e outros bichos.
Mas essa derrubada de Dilma foi expropriada da ultra-esquerda pela extrema-direita – pró ditadura militar, pró concentração de renda, anti direitos trabalhistas, anti diversidade étnica e cultural, anti direitos das mulheres, dos negros, dos homossexuais e anti nordestinos… Entre outros.
Agora, porém, o Facebook vai chutar todo mundo e vai privilegiar a turma que usa aquela rede para divulgar fotos de família, gatinhos, florzinhas etc.
Melhor assim. Quem investiu muito dinheiro no Face para tratar de política, dançou. Mas o risco é tirarem a política do Facebook e, assim, tirarem a política da cabeça de um público que se viciou no FB de uma forma alucinada.
Pelo jeito, porém, ainda vai demorar para a militância de esquerda – e a de direita também – entender que o Facebook foi ruim para a política e jogou de volta no colo dos americanos a comunicação de massa em nosso país.
Os Blogs vão esperar a volta dos reféns do Facebook. Essa é a esperança de higienizar um pouco o debate político na internet.