Intervenção no Rio começa com censura no Carnaval

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A madrugada de domingo foi agitada por um fato que nem deveria chegar a ser surpreendente, mas que acaba surpreendendo devido à ousadia dos autores.

A TV Globo, detentora dos direitos de transmissão do desfile de escolas de samba do Carnaval carioca, abriu mão de transmitir o desfile das campeãs no sambódromo da Marquês de Sapucaí entre a noite de sábado (17) e a madrugada do domigo (18), apesar de que essa transmissão certamente produziria audiência muito maior nesse horário.

Nada que ver com os interesses políticos da Globo (sic).

Tudo que ver com os interesses políticos da Globo. A emissora abriu mão de ganhar dinheiro para não constranger não especificamente Michel Temer, mas as hordas fascistas que foram à rua envergando a camiseta da Seleção e pedindo o impeachment de Dilma e a infame reforma trabalhista que a Globo e todo o resto da mídia apoiam.

Até aí, a Globo pode decidir o que transmitir ou não, pois é uma empresa privada.

Porém, o mesmo não se dá com a TV Brasil, que assumiu a transmissão do desfile, o que é ótimo porque se a tevê privada não quer transmitir, nada mais justo que a  TV pública transmita sem custo para o erário, como deve ter sido.

Porém, tudo começa a ficar pior com um belíssimo trabalho de reportagem da  Mídia Ninja, que entrevistou o ator e professor de história Leonardo Moraes, que encarnou o “vampiro neoliberalista” que, na verdade, era Michel Temer. 

Na entrevista, Moraes fala, várias vezes, sobre estar “assustado” e com “medo” e que não sabia se “a escola permitiria” que ele usasse a faixa presidencial no segundo desfile oficial da Paraíso do Tuiuti em 2018.

Ele desfilou sem a faixa

O vídeo está sendo viralmente assistido na internet, mas precisa ser mais escrutinado no que diz respeito à grave denúncia que contém.

Tanto o professor que encarnou o “vampirão neoliberalista” quanto o carnavalesco Jack Vasconcelos, que idealizou o vitorioso samba-enredo da Tuiuti,  dizem-se  assustados.

Além disso, a transmissão da TV Brasil tratou de completar a censura  não transmitindo cenas incômodas do desfile – ou transmitindo apenas flashes de apenas algumas dessas cenas.

As alas das carteiras de trabalho e dos fantoches manipulados apareceram muito rapidamente, durante poucos segundos, enquanto que a ala dos patinhos fantoches não apareceu em momento algum.

Ou seja, a tevê pública brasileira praticou censura.

Tudo isso, a autocensura da Paraíso do Tuiuti e a censura da TV Brasil, constituem um recado: a nova fase do golpe, representada pela intervenção federal-militar na cidade em que esses fatos ocorreram, envolve inclusive censura.

Se esses atos de censura passarem em branco, se não houver reação da sociedade, a censura irá se disseminar e generalizar em nosso país. É dever de cada um de nós lutar para que esse abuso ocorrido na madruga de domingo 18 de fevereiro não fique por isso mesmo.

O Blog da Cidadania não ficará parado olhando a censura tosca dos idos da ditadura militar sejam reimplantados no Brasil. Vamos lutar  com as (poucas) armas de que dispomos. Voltaremos ao assunto antes do que se pensa.