Casal com “Down” critica desembargadora fascista
Do portal G1
Guilherme Campos, de 24 anos, trabalha na cozinha de um restaurante de São Paulo. Sua namorada, Francine Lima, de 23 anos, é assistente em um banco na capital paulista. Eles têm síndrome de Down e garantem: podem, sim, ter uma vida profissional e contribuir com a sociedade.
O casal repudia a declaração da desembargadora Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, a respeito de Débora Seabra, a primeira professora com síndrome de Down do Brasil. No Facebook, a juíza afirmou: “(…) Me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”
Débora escreveu uma carta em resposta ao post da desembargadora. “Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças (…).
Guilherme, após ler sobre a ofensa dirigida à professora, afirma que palavras como as de Marília Castro Neves “machucam quem têm síndrome de Down”. “Isso é falta de educação. Não quero que a Débora fique chateada, porque ela sabe que podemos fazer a diferença na sociedade. Temos total capacidade de trabalhar e com muito esforço”, diz.
Ele, inclusive, se formou em gastronomia na Universidade Anhembi Morumbi e trabalha há um ano na cozinha de um restaurante em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Prepara risotos e carnes no fogão e na grelha. “Amo o que faço. Tenho colegas que me apoiam e ganho meu salário. Guardo a maior parte do dinheiro, porque quero poder comprar presentes no Dia dos Namorados e no Natal, viajar e ter minha própria casa”, conta.
O jovem quer morar, no futuro, com Francine, que conheceu na infância, quando ainda tinham “uma amizade colorida”. Anos depois, em um grupo de passeios para pessoas com síndrome de Down, o casal se reaproximou e começou a namorar. Em 28 de março, os jovens comemorarão 3 anos de união.
Francine também economiza o dinheiro que ganha no banco para realizar o sonho “de comprar uma mansão”. “Trabalho há mais de um ano. Faço apresentações em PowerPoint e planilhas no Excel (programas de computador). Fiquei muito emocionada quando consegui essa oportunidade. O clima é ótimo e adoro todos os meus colegas”, diz.
Francine também comenta a declaração da desembargadora. “Queria dizer para ela que a gente que tem síndrome de Down tem muito a ensinar. A começar por respeito. Não ter preconceito, independente da deficiência”, diz.
No Dia Internacional da Síndrome de Down (21), Guilherme conta que tem duas possibilidades de atuação profissional no futuro. Pode trabalhar como chef de cozinha e garçom em restaurantes, mas também brilhar nos palcos. “Gosto dessa parte artística. Faço aula de teatro toda quarta-feira e aprendo a interpretar e a cantar em musicais”, diz.
“Mas não importa, o que quero é ter uma especialidade. Ganhar cada vez mais prática, porque assim mais portas se abrirão.”