Marielle está na primeira página do jornal espanhol El País desta sexta

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Fato incomum em jornais europeus e norte-americanos, uma foto da vereadora e ativista Marielle Franco, executada a tiros no Rio na noite de quarta-feira, estampou a primeira página do diátrio espanhol El País desta sexta-feira 16 de março. Leia a matéria do jornal espanhol, traduzida pelo Blog da Cidadania.

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El País

16 de março de 2018

Comoção no Brasil pelo assassinato de Marielle Franco, vereadora e ativista do Rio

A onda de violência que convulsiona o Rio de Janeiro subiu uma escala na noite de quarta-feira, devido ao assassinato da vereadora e ativista pelos direitos humanos Marielle Franco, em um ato com todas as características de atentado.

Franco, de 39 anos, estava em um carro com seu motorista e uma assessora quando outro veículo se pós ao seu lado e nove tiros foram disparados antes de fugir em pleno centro da cidade.

A vereadora e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, morreram no ato enquanto a assessora teve lesões leves.

O assassinato provocou um manancial de reações e protestos em todo o país contra ação que o próprio presidente Michel Temer qualificou de “atentado à democracia”.

Marielle Franco vinha de intervir no ato por direitos humanos de mulheres negras no bairro da Lapa, centro do Rio. Poucos minutos depois os assassinos a interceptaram na rua Joaquuim Palhares, região conhecida como Estácio, e começaram a disparar pela janela de trás do carro com o claro objetivo de atingir a vereadora, que recebeu cinco disparos, segundo o jornal carioca O Globo.

Ocorrido em uma cidade tão acostumada à violência como o Rio, o crime provocou uma forte comoção já que apresenta características inéditas até agora.

Se bem que os mortos se contam por dia e na maioria das vezes produtos de enfrentamentos entre a política e o grupo de traficantes em disputa por um território que muitas vezes cobra as vidas dos vizinhos da favela como vítimas colaterais.

Tem havido assassinatos de ativistas e políticos do bairro, mas nunca se havia produzido o que os companheiros da vítima e a própria polícia não tiveram dúvida em qualificar como “execução” de uma pessoa com tanta notoriedade pública e em pleno coração da cidade.

Palavras como “mexicanização” começaram a inundar as redes sociais nas horas seguintes ao crime.

O assassinato é um golpe à nova política de segurança do governo federal, que, mês passado, decidiu entregar ao exército o controle da ordem pública no Rio ante a irrefreável escalada de violência.

Marielle Franco e seu partido, o esquerdista Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), faziam as maiores críticas à intervenção militar. A própria vereadora tinha sido designada pela comissão constituída recentemente na Câmara Municipal do Rio para fiscalizar a atuação do Exército.

Franco também havia denunciado nos últimos dias a atuação policial na favela de Acari, onde jovens têm sido mortos, segundo os vizinhos, por agentes das forças de segurança.

A denuncia dos abusos policiais nos bairros mais pobres da cidade e a defesa dos direitos das mulheres negras eram uma das principais atividades de Franco, nascida ela mesma na Maré, um enorme complexo de favelas castigado como poucos pela miséria e violência.

Nas últimas eleições municpais, fue a quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro.

Na mesma  noite d e quarta, foram se concentrando no lugar do crim outros ativistas e companheiros do PSOL, em meio a cenas de grande comoção. Marcelo Freixo, candidato do partido a prefeito nas últimas eleições, explicou que Franco não tinha recebido ameaças, mas também deixou clara sua convicção de que o crime  foi um ato perfeitamente premeditado, como apontam todos os indícios.

Uma multidão, na tarde de quinta-feira, tomou o entror do Rio para acompanhar os restos mortais da política assassinada até a Câmara Municipal, onde se instalou o velório. Também ocorreram outros atos públicos pelo país, como em São Paulo.

Desde o governo federal até o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, as  organizações de defesa dos direitos humanos e todo ditpo de personalidades públicas se sucederam em reações de condenação por todo país durante a mesma madruga de quinta-feira.

O presidente Temer qualificou o acontecido de “atentado ao Estado de Direito e à democracia” e prometeu que “o crime não nos destruirá, antes destruiremos a criminalidade”.

“Estou impressionada, estremecida e indignada”, declarou a presidente anterior, Dilma Rousseff.

A Anistia Internacional e a OAB exigiram do governo uma investigação rigorosa para esclarecer as motivações do assassinato.

É um crime contra toda a sociedade e ofende diretamento os valores do Estado de Direito, afirmou em um comunicado a Ordem dos Advogados do Brasil.