Os 10 posts da tabela acima concentram 10% do volume total de compartilhamentos alcançados pelas 41 páginas ao longo desse período. O recurso mais usado foi o vídeo (60%), seguido pela foto (40%).
O ranking dessa semana apresenta uma peculiaridade. Embora o volume total de postagens e compartilhamentos do monitoramento tenham se mantido estáveis, observamos uma diminuição significativa na quantidade de compartilhamentos dos posts que o compõe. Prova disso é que o primeiro colocado dessa semana registra metade dos compartilhamentos do primeiro colocado da semana anterior.
O vídeo mais compartilhado é do UOL. Nele, a atleta olímpica Rafaela Silva denuncia o episódio de racismo e abuso policial que viveu no Rio de Janeiro. Ao chegar na cidade, o táxi que a conduzia do aeroporto até sua casa foi parado pela polícia somente pelo fato dela ser negra.
O segundo post do ranking pertence ao Vem Pra Rua Brasil. Por meio de foto, o movimento pressiona o ministro Dias Toffoli para que desengavete o pedido feito pela Polícia Federal em abril de 2017 de ouvir a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). O apelo é reforçado pelo nono post da lista, também assinado pela página, só que em forma de vídeo.
O terceiro post é de Marco Feliciano, que volta ao ranking após duas semanas. O deputado comenta o sucesso da cantora Pablo Vittar atacando a comunidade LGBT. No vídeo, Feliciano alerta, “em nome da família, moral e bons costumes”, que a mídia e o grupo político defensor da “ideologia de gênero” aproveitam-se desse tipo de personalidade para projetar suas lideranças para as eleições de 2018, com o objetivo de fazer “desfalecer a família tradicional”.
O quarto post, do Movimento Brasil Livre (MBL), consiste numa fotomontagem de várias crianças e adolescentes ostentando armas sob a seguinte legenda: “É um absurdo militar estar revistando mochila de criança”.
O quinto post, do Juventude Contra Corrupção, é uma imagem que elenca os presidenciáveis “envolvidos em escândalos”, “segundo o Datafolha”. Constam na lista: Marina, Aécio, Lula, Temer, Alckmin, Ciro e Serra. Seus nomes vêm acompanhados de informações genéricas, como “delatado”, “investigado” ou “réu”, mas que não detalham os processos nos quais os políticos estariam supostamente envolvidos. É importante notar que apenas um dos presidenciáveis não foi listado, Bolsonaro.
O sexto post é de Lula. Trata-se da transmissão ao vivo do evento de sua pré-candidatura à presidência em Minas Gerais. No vídeo, que possui 1h28min, Lula aparece sendo ovacionado em um auditório lotado. As pessoas gritam: “Eleição sem Lula é golpe”. Participam do evento também outros membros do PT, como sua presidente Gleisi Hoffmann e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e representantes da Frente Brasil Popular. Após diversas falas de seus apoiadores, Lula começa a discursar aos 48 minutos do vídeo, discorrendo sobre sua trajetória, as contingências do destino que o levaram à Presidência da República, e a responsabilidade do cargo. O ex-presidente reafirmou seu compromisso com o amadurecimento político do povo e a representação dos seus interesses, denunciou as elites brasileiras por tentarem imputá-lo na história como “o coitadinho inábil”, devido à sua origem pobre, e versou sobre os feitos ao longo de seus mandatos, como o pleno emprego, a democratização do acesso ao ensino superior e a distribuição de renda. Lula frisou também como, a despeito do desejo da elite de aniquilar o PT, ele é considerado o presidente mais popular do país, Dilma se elegeu e se reelegeu e ainda elegeu um governador no estado de Aécio. Lula revela ainda que após esses revezes, as elites, junto à parte do Judiciário, do Ministério Público e da Rede Globo, passaram a se dedicar à destruição de sua imagem por meio de acusações sem provas. O ex-presidente finaliza dizendo que não é “possível prender sonhos, nem esperanças”, que não abaixará sua cabeça e que “vai voltar”.
O oitavo e o nono post são assinados por Jair Bolsonaro. No primeiro, Eduardo Bolsonaro, seu filho, manifesta apoio ao cantor Gusttavo Lima, amplamente criticado por publicar um vídeo disparando um fuzil na Flórida e defendendo a revogação do Estatuto do Desarmamento. Na mesma semana em que o vídeo foi postado em sua página de rede social, um jovem portando fuzil de repetição matou 17 pessoas em uma escola daquele estado norte-americano . Eduardo afirma que tudo não passa de uma estratégia da Rede Globo para endossar o desarmamento no Brasil, proposta a qual se opõe veementemente. Ele manipula dados para tentar mostrar que o desarmamento contribui para o aumento da violência, se coloca favorável ao que chama de “cultura do guerreiro” e defende o porte de armas por parte de civis. O nono post consiste em uma jovem, evidentemente transtornada, presa pela polícia por portar drogas. No vídeo, a moça profere muitas palavras de baixo calão e afirma “amanhã já estarei na rua, não vai dar nada”. Posteriormente, um policial comenta a cena, chamando os dependentes químicos e traficantes de “vagabundos”, deprecia “a galera do mimimi”, que argumenta sobre a origem social do problema das drogas, e defende mais cadeia para as pessoas nessa condição.
O décimo post é da Mídia Ninja. Esse consiste em uma charge crítica à intervenção federal no Rio de Janeiro intitulada: “O que é a verdadeira ameaça a ser combatida pelo exército?” Na imagem, militares revistam estudantes e apreendem um livro de história.
Em resumo, observamos que os posts mais compartilhados da semana tiveram como tema principal a Segurança Pública, motivados sobretudo pela intervenção federal no Rio de Janeiro. Os posts se dividiram entre defender o punitivismo e o armamentismo, ou criticar o policiamento e a intervenção. Outros assuntos que garantiram a viralização dos posts foram a corrupção, o judiciário e as eleições de 2018. Nesse âmbito, o PT continua protagonizando o debate, seja pela defesa de sua candidatura, seja pelos ataques da oposição. Já o discurso moralista homofóbico, embora tenha retornado ao ranking representado por Feliciano, volta com menos força do que em outros momentos. Nossos dados sugerem que não há um consenso estabelecido entre os brasileiros no Facebook acerca desses assuntos no momento, pois o volume de compartilhamentos se divide de modo mais ou menos equilibrado entre as posições. Porém, parece que os debates, de modo geral, seguem polarizados em torno de duas candidaturas, à dizer, a de Lula e Bolsonaro, e os ideais dos grupos que representam. As posições intermediárias não estão presentes nos posts de grande circulação. Será que tal estado de coisas tem a ver com a natureza propriamente da comunicação nas mídias sociais, que supostamente premia o radicalismo e mitiga as opiniões mais complexas e balizadas? Ou será que elas alcançarão o ranking em algum momento? Vale a pena manter essa questão em mente na leitura dos relatórios futuros.
[1] Tendo em vista os objetivos de nosso monitoramento, foram substituídos 2 posts no ranking dessa semana: 1 Portal R7 e outro de Adilson Barroso (PEN).