Paulo Coelho ataca Lula, mas diz ser farsa caso do triplex
Em entrevista à Folha de São Paulo, o escritor laureado e expatriado Paulo Coelho, da Suíça, faz duríssimas críticas ao ex-presidente Lula por, supostamente, ter “abandonado” o ex-ministro José Dirceu e por ter sido uma “decepção”.
Paulo Coelho pertence àquela esquerda que se afastou dos governos do PT enquanto a direita tratava de derrubar o único projeto progressista vitorioso em 500 anos de história brasileira e que tirou DEZENAS DE MILHÕES da miséria e outros tantos da pobreza e que organizou a economia como jamais ocorrera, permitindo que, pela primeira vez na história, o Brasil acumulasse reservas cambiais suficientes para resistir a crises externas.
Só como registro, o Brasil tinha US$ 37,7 bilhões, ao fim de 2002, e Dilma Rousseff deixou US$ 370 bilhões – em 2010, Lula deixou US$ 288 bilhões.
A história é diferente. Lula não tinha o que fazer em relação a José Dirceu. E José Dirceu sempre entendeu isso, assim como José Genoino e o PT.
Paulo Coelho não quer aceitar isso, mas não pensa como político ou militante. Porém, suas críticas a Lula são entremeadas por uma visão absolutamente lógica em relação ao caso do triplex, que só sendo muito canalha para dizer que faz sentido.
A reprodução desse trecho da entrevista de Paulo Coelho faz sentido porque mostra como é absurdo que alguém, em sã consciência, diga que tem algum sentido acreditar na sentença de Moro e no referendo dessa sentença pelo TRF4.
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Na Folha de 30 de abril
Você postou, no dia da prisão do Lula, uma ironia contra o Judiciário e a Lava Jato, dizendo que agora era como se toda a corrupção do Brasil estivesse resolvida.
Foi na condenação dele. No dia da prisão eu chamei o Lula de babaca. Já tive minhas ilusões com esses caras todos. E vi erro após erro após erro —não estou falando de tríplex, mas de erro político.
Você acha que o impeachment foi golpe?
Não vou falar de política. Vão dizer que eu sou isentão.
Você já falou muito de política até agora.
Não é irritante esse negócio de manifesto? Todo dia eu recebo um.
Você acha a prisão do Lula justa?
Não vou falar. Mas não me põe [no jornal] como isentão.
Você pode responder algo.
O Lula foi uma profunda decepção. Lamento muito. Era uma pessoa que eu achava que podia fazer muita diferença, que seria o melhor político. Se fosse, seria que nem o Salvador Allende. Foi isso que eu postei: o Lula vai se entregar? Porra, o cara é um babaca. Ele está no sindicato cercado.
A prisão é justa?
Essa história do tríplex é mal contada. O Poder Judiciário no Brasil ficou visível demais, quando ele não o é em nenhum país. As pessoas [os juízes] terminam tendo que atender a certos clamores. Você acha que essa história do tríplex [faz sentido]?
Não sou o entrevistado aqui, não é? Esse livro parece ter um desencanto com a esquerda…
O desencanto já tinha ocorrido [quando escrevi]. Se tiver que resumir a história da minha vida: esquerda, passeatas, gás lacrimogêneo, Marx, Engels, Heidegger. Depois, manual de guerrilha, aquelas coisas, e então a fase hippie. Logo em seguida o Raul [Seixas, de quem foi parceiro musical]. Não teve uma volta minha para a esquerda.
Você fez campanha para o Lula. Você é de esquerda, não?
Quem era a alternativa? Fazer campanha por uma pessoa em quem você acredita e depois desacredita… É um mundo de desilusões, cara. [Coelho pede para o repórter desligar o gravador para falar em privado, depois a entrevista recomeça.]
Você já teve decepções pessoais com o PT também, não?
Houve uma vez em que Lula visitou o morro do Pavão-Pavãozinho e não foi ao projeto social que você tem lá. Como você se sentiu? Eu nunca fui prestigiado pelo PT. Um belo dia [em 2006] eu fui convidado para visitar a rainha [Elizabeth 2ª]. Lula era presidente. Vinha no convite o traje: gravata branca [nível mais formal do traje masculino de gala]. Aí vi uma matéria dizendo que a delegação brasileira ia de terno e gravata. Pensei: “Estou livre! Não vou ter que ir de white tie!” Aí me responde o Palácio [de Buckingham]: “Você não é convidado do seu governo, não te colocaram na lista, você é convidado da rainha. Tem que vir de white tie, sim”.
Mas o que aconteceu lá?
Estava fumando com uma amiga minha da realeza, chega um assessor do Lula e diz: “O presidente quer falar com você”. Vamos lá. Atravessamos aquele palácio, uma cena inesquecível. Vou aos aposentos do Lula pensando: “Porra, por que o Lula me chamou?”. No meio da conversa, ficou claro que ele estava se justificando para mim, por eu ter apoiado o José Dirceu, e ele não.
Isso foi em 2006, logo após Dirceu ser cassado, no Mensalão, e quando passou Réveillon na sua casa e vocês se aproximaram.
Ele jogou o José Dirceu como boi de piranha. Viu que eu apoiei o Zé Dirceu, que eu nem conhecia —vi esse cara sofrendo. Era um ano que quem queria ir lá para casa era o Hugo Chávez! [risos] E o Lula se justificou, o que eu acho uma declaração muito esquisita. Ele pode até negar, mas dona Marisa estava junto. Ele jogou o Dirceu aos cães. Ele foi cassado?
Foi, perdeu o posto de deputado em 1º dezembro de 2005.
Foi minha grande decepção com o Lula. Uma das qualidades que eu prezo é a lealdade. Nessa entrevista [de Dirceu à Folha, publicada em 20/4], o Zé diz que dedicou a vida dele ao Lula. Como é que o Lula deixa isso acontecer? E sentiu necessidade de me explicar, o que é meio bizarro.