Posto à venda por Moro pelo dobro do preço, triplex encalha
Motoqueiro grita e buzina ao passar diante do condomínio Solaris, na praia das Astúrias, no Guarujá. Do outro lado da rua, no calçadão, um casal ajeita o pau de selfie para tirar uma foto. A câmara do celular está de costas para o mar.
O ponto turístico ali é outro: o prédio onde fica o famoso triplex atribuído ao ex-presidente Lula e que levou o petista a prisão no início do mês.
Cenas como essas começaram a fazer parte da rotina do local desde que o imóvel foi apontado pelo juiz Sérgio Moro como prova que o ex-presidente recebeu propina da OAS em troca de superfaturamento de contratos da empreiteira com a Petrobras.
Na última segunda-feira, no entanto, o movimento em frente ao condomínio foi um pouco diferente. Logo no início da manhã, cerca de 30 pessoas do MTST e a Frente Povo Sem Medo, pularam o muro do edifício, subiram correndo pelas escadas até o 16º andar, arrombaram a porta do triplex e instalaram na sacada bandeiras de protesto contra a prisão do petista.
“Se é do Lula é nosso. Se não, por que prendeu?”, dizia uma das faixas.
A ocupação, que durou cerca de três horas, assustou os vizinhos do condomínio, até então, acostumados com manifestações – contra e a favor do petista – apenas do lado de fora.
Para outra vizinha, que preferiu não se identificar, os dias de paz e sossego à beira mar no fim de semana parecem não ter mais volta. “São muitos curiosos, gente tirando foto, já não temos privacidade de ficar na piscina do prédio. Agora já não sabemos nem o que esperar das manifestações”, diz.
José Ramón Rodrigues, de 67 anos, também morador do condomínio conta que, desde que as denúncias contra Lula começaram, o seu desejo é sair dali. Quando comprou o apartamento no edifício há cinco anos, soube pelo corretor que o ex-presidente tinha um imóvel no local.
“Foi um dos fatos que a corretora usou para falar do prédio, como uma vantagem. Mas isso aqui virou um mico. Se alguém quiser comprar pela metade do preço, eu vendo. Virou uma palhaçada.
O [juiz Sérgio] Moro botou [o triplex] a venda por 2 milhões e pouco, nem um idiota dá 500.000 reais por isso”, diz.
Ainda que alguns moradores, assim como José Ramón, estejam preocupados com a desvalorização do imóvel, corretores avaliam que é cedo para calcular o impacto da presença do triplex no edifício.
A corretora Ana Elisa, da Aliança Imóveis, afirma que a imobiliária possui cinco apartamentos no condomínio Solaris para venda e aluguel, mas que os preços não sofreram alterações.
Os valores variam: os apartamentos do fundo valem cerca de 750.000 reais e os do bloco da frente podem chegar a 850.000 reais, segundo a corretora.
“Tudo é muito recente, talvez agora com essa invasão que houve, pode haver algum tipo de desvalorização no local, mas é difícil prever”, diz.
Uma parte de vizinhos, no entanto, tem opinião contrária. Acredita que, por ter se tornado um prédio famoso e “histórico”, talvez no futuro se valorize no mercado.
O triplex foi confiscado pelo juiz em julho do ano passado, na sentença em que condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão – a pena acabou aumentada para 12 anos e um mês pelo Tribunal Regional federal da 4ª Região.
Desde 15 março, Moro autorizou o leilão do imóvel avaliado em 2,2 milhões de reais. Apesar dos lances onlines já estarem liberados, nenhum comprador realizou até agora nenhuma oferta.
O MTST divulgou fotos do imóvel e não há sinais das reformas alegadas por Moro e que teriam feito o preço do imóvel dobrar.
A curiosidade, entretanto, é grande. Até este sábado (21), mais de 28.000 pessoas já tinha visitado o site em que ele está sendo oferecido.
O leilão está marcado para 15 de maio, às 14h. Caso não seja fechado o negócio no dia, há um segundo pregão previsto para 22 de maio, no mesmo horário, quando cai para 80% do inicial, ou 1,76 milhão de reais.
O valor obtido com o leilão será depositado em conta judicial até o trânsito em julgado da sentença. Se o veredito for confirmado nos tribunais superiores, o montante será revertido à Petrobras para ressarcir os prejuízos nos contratos com a OAS.
Para evitar que curiosos agendassem visitas ao triplex apenas para conhecer o local, Moro determinou cobrança de 1.000 reais de caução para quem quiser ir ao apartamento.
“Apesar da curiosidade que o imóvel deve suscitar, é necessário limitar as visitas àqueles com real interesse na aquisição do imóvel”, afirmou o juiz no despacho.