Ciro não entende o PT nem com reza brava…
Nos últimos dias, produziu-se uma polêmica boba entre Ciro Gomes e Gleisi Hoffmann. Comentando especulação do ex-governador Jaques Wagner sobre a possibilidade de o PT indicar o vice em uma hipotética chapa à Presidência da República com o pré-candidato do PDT, a presidente do PT disse que Ciro não “passaria” no PT “nem com reza brava”.
Neste sábado, em entrevista à Folha de São Paulo, Ciro teve a reação que todos esperam dele nesses momentos e, para variar, explodiu:
“Vou ter paciência, respeito e compreendo o drama do PT. E tenho pena de uma pessoa da responsabilidade da presidente nacional do PT dizer uma coisa dessas. Para se ver como é questão de dar pena, meu partido, o PDT, portanto, eu, estou apoiando quatro dos cinco dos principais candidatos a governador do PT. Minha crença é que a população brasileira não é um eleitorado de cabresto, nem meu nem de ninguém. Eu vou tocar o meu bonde“
Ciro Gomes é um homem sério, não conheço a fundo as suas propostas políticas, mas não existem ataques sérios à sua honra e críticas concretas a posições suas contrárias à necessidade prioritária no Brasil de promoção acelerada e decidida de Justiça Social e combate à pobreza. Porém, Ciro não serve para a política…
Imagino Lula em uma situação (hipotética) como essa, caso Ciro se recusasse a uma aliança com o PT. No mínimo, diria que deveria haver diálogo e que seria interesse do Brasil que políticos com preocupações sociais e humanistas como ele e Ciro se entendessem.
É preocupante que um político que postula tão alto cargo da administração pública seja tão infantil.
Não que eu ache que contribui para a situação calamitosa que se abateu sobre este país que a corajosa senadora petista dê essas declarações publicamente. Ela deveria ter se entendido diretamente com Jaques Wagner e pedido a ele comedimento nas declarações, para não criar saias-justas no partido de ambos.
Mas o que preocupa mesmo é Ciro não ser capaz de entender o que Gleisi disse. Ao falar em “eleitorado de cabresto”, ele insinua que Gleisi acha que o PT manda no seu eleitorado. Ciro não se deu nem ao trabalho de mensurar o que diz a militância petista nas redes sociais, por exemplo…
Quem não aceitaria ser vice em uma chapa com Ciro seria a militância, não a direção do PT. Gleisi não falou que o eleitorado do PT não aceitaria uma chapa com Ciro, falou que O PT não aceitaria.
Ciro não é burro. É óbvio que tentou distorcer as palavras de Gleisi.
A estratégia de Ciro é clara: chegar ao segundo turno com Bolsonaro ou com um dos tais “candidatos de centro” – eufemismo para candidatos de direita. Ali, não restaria opção à esquerda de A a Z: ou Ciro ou o fascismo.
Não se pode descartar… É óbvio que, se essa situação se materializasse, não haveria, realmente, alternativa. Mas essa situação se concretizar é algo muito distante.
Primeiro, há que prestar muita atenção à estratégia de Lula. Ciro não entendeu. Ou entendeu e torce para não funcionar. Mas pode funcionar. E o pedetista poderia se beneficiar dela, mas Ciro é Ciro. Um homem sério, mas que está na atividade errada. Ciro pode até ser um bom gestar, mas tem que ser nomeado a algum cargo importante. Como líder político, não rola.