Em cartilha,Temer tenta vender boa aparência de um governo falido
O governo Michel Temer divulgou, nesta terça-feira, 15, uma cartilha que será será distribuída durante cerimônia, no Palácio do Planalto, para celebrar os dois anos da gestão emedebista à frente do País.
O documento reúne “ações e resultados” de medidas tomadas entre 2016 e 2018, mas usa dados desatualizados de “população ocupada”, ignora o combate à corrupção e destaca a “privatização da Eletrobras” antes de sua aprovação no Congresso.
Apesar de ter 36 páginas recheadas de gráficos e ilustrações, a cartilha com o slogan “O Brasil voltou” — criado no ano passado pelo publicitário Nizan Guanaes — o documento não menciona o combate à corrupção como “vitórias” do governo Temer, neste período à frente do Executivo. A única menção à Polícia Federal, por exemplo, aparece na página 30, quando o texto destaca o “recorde histórico” de apreensão de drogas.
Em outro trecho da cartilha, destinada a destacar a “volta dos empregos”, o Palácio do Planalto bate bumbo para a nova lei trabalhista. Os dados enaltecem o saldo positivo de contratações em em janeiro, quando foram registradas 77.822 contratações. Em seguida, o governo destaca o saldo positivo de março, de 56.151 contratações.
Apesar disso, a gestão emedebista utiliza um dado desatualizado para a população ocupada. No documento, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) prefere mencionar que, no trimestre de outubro a dezembro de 2017, “aumentou em 1 milhão e 842 mil o número de pessoas ocupadas em comparação com o mesmo trimestre de 2016”, o que totaliza 92,1 milhões de pessoas ocupadas.
Os dados são da PNAD Contínua do IBGE. No entanto, o mesmo órgão mostrou em março que o número de pessoas ocupadas caiu para 90,5 milhões no primeiro trimestre de 2018.
No trecho em que destaca a modernização da Eletrobras, a cartilha conta que o Ministério de Minas e Energia “comunicou a proposta” de reduzir a participação da União no capital da Eletrobras. O texto cita que, em janeiro de 2018, mensagem do Poder Executivo enviou ao Congresso um projeto de lei que propõe a modernização da estatal. A proposta, no entanto, ainda está em comissão e enfrenta impasse para ser aprovada de fato.
Um assunto que o governo dizia ter prioridade em sua gestão, mas ganhou pouco espaço no documento foi a intervenção federal no Rio de Janeiro. A ação é mencionada na página 30, no final da cartilha, e resume em apenas um parágrafo que houve “redução” nos casos de homicídio doloso, roubo de carga e roubo de veículos.
O grande destaque do documento são as medidas econômicas. Já no início do texto, a cartilha diz que “o Brasil voltou a ocupar papel central como uma das maiores economias do mundo”. Afirma, ainda, que “depois de vencer a pior recessão econômica da história, o País retomou o crescimento, colocou a pauta da inclusão social novamente na agenda e passou a criar oportunidades para todos os brasileiros”. Por fim, destaca que “a criação de condições para o desenvolvimento econômico e social é uma vitória do Governo Federal, alcançada em apenas dois anos de gestão”.
A letra V de “Avançamos” é apresentada como um “V” de vitória feito com dois dedos por um homem sorridente. Na lista de “ações e resultados” são citados “Fila Zerada no Bolsa Família”, “Mais de 38 mil casas novas por mês no Minha Casa Minha Vida” e “Quase R$ 1 bilhão de economia aos cofres públicos com combate a fraudes no seguro-desemprego”.
Apesar de o governo ter completado dois anos no último dia 12, no rastro do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a comemoração será realizada apenas nesta terça, 15, às 15 horas. Quinze também é o número do MDB na campanha eleitoral.
O convite para a cerimônia marcada para esta terça-feira, 15, com o objetivo de celebrar os dois anos do governo de Michel Temer, no Palácio do Planalto, provocou uma crise interna e teve de ser alterado de última hora. Expedido pelo cerimonial do Planalto, o convite trazia o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.
O mote foi considerado desastroso por aliados de Temer porque, sem a vírgula após o verbo, poderia passar a impressão de que o País regrediu duas décadas sob a gestão do MDB.
O Estado apurou que a trapalhada desagradou a Temer. Contrariado, ele convocou o marqueteiro Elsinho Mouco e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, para acertar os ponteiros da comunicação do governo. Os novos convites para a cerimônia voltaram, então, a ter os dizeres dos primeiros exemplares: “Maio de 2016 – Maio de 2018 — O Brasil Voltou”.
Com a mudança nos convites, foram expedidos dois textos. Meirelles, por exemplo, recebeu a primeira versão. “Incumbiu-me o senhor presidente da República de transmitir convite a Vossa Excelência para participar do evento ‘O Brasil voltou, 20 anos em 2’”, diz o documento, assinado pelo chefe do cerimonial da Presidência, Pompeu Andreucci Neto.
Outros ministros, porém, receberam o convite onde se lê “(…) para participar do evento Maio de 2016/Maio de 2018 — O Brasil voltou”, sem qualquer menção ao lema “20 anos em 2”, que lembra o mote do programa do ex-presidente Juscelino Kubitschek – 50 anos em 5, com metas de um projeto desenvolvimentista.
Com informações do Estadão