Maior ato após prisão de Lula ocorre em 1º de maio

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Os grandes atos políticos de esquerda brasileira costumam respeitar uma espécie de esboço pré-programado.

Na tentativa de seguir o rito das pequenas assembleias baseadas no centralismo democrático leninista, onde todos devem falar, mesmo os representantes das correntes minoritárias e numericamente inexpressivas têm direito a usar o microfone, ainda que por poucos segundos.

Discursam representantes do movimento estudantil, de sindicatos, lideranças comunitárias e assim por diante, em uma ordem clara, ainda que não explicitada de importância. De praxe, fecha-se o evento com a figura mais proeminente. Sempre que presente, essa figura era o ex-presidente Lula.

A ordem natural foi mantida, ainda que sem Lula, nesta terça-feira (1), na comemoração unificada do Dia do Trabalho, em Curitiba.

Promovida por diversas centrais sindicais com a participação de movimentos sociais, como MST e Frente Brasil Popular, e representantes de partidos, como PT, PCO, PSOL e PCdoB, o evento foi o maior ato da esquerda brasileira desde a prisão de Lula, em sete de abril. Reuniu 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar do Paraná, e 40.000, de acordo com a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

É possível que mais de 5.000 pessoas tenham passado pelo ato, provavelmente durante o show da cantora Beth Carvalho, ápice do público durante a tarde.

Já um público de 40.000 pessoas seria suficiente para encher várias quadras do centro de Curitiba e, no entanto, nem a própria Praça Santos Andrade estava completamente tomada.

Números à parte, o ato conseguiu reunir diversos setores da esquerda brasileira que por anos promoveram suas comemorações do Dia do Trabalho separadamente.

O evento começou cedo, nas proximidades da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, onde Lula está preso. A presença de caravanas de outras cidade e estados deu peso a uma vigília que vem murchando, com pouco público, hostilidades aos moradores e à imprensa e alvo da violência de alguns detratores, que chegaram a atirar contra os militantes na madrugada do último sábado.

O ato ao redor da PF foi o ponto alto da manifestação de primeiro de maio.

À tarde, a militância rumou à Praça Santos Andrade, ao lado do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde o ex-presidente encerrou sua caravana pela região Sul, no dia 28 de março.

Na oportunidade, Lula subiu ao palco já tarde, com uma militância cansada e enfastiada por uma sequência de discursos repetitivos.

Nesta terça-feira, do mesmo modo, o ato unificado levou uma dezena de sindicalistas para cima do palco. As grandes centrais promoveram um ato conjunto, mas continuaram disputando sua fração de poder dentro de cada categoria profissional, dentro de cada partido e dentro do jogo político de maneira geral.

Para manter esse tênue equilíbrio, um dirigente não pode falar mais que o outro e nenhum quer parecer menos aliado de Lula que o outro. O resultado é uma sequência de quatro ou cinco palavras-chave repetidas à exaustão. Houve aplausos protocolares e uma militância dispersa, que foi descansar na grama, comer ou simplesmente conversar.

Em alguns pontos da praça, nesta terça, pequenos atos paralelos se formaram a despeito do que ocorria no palco. Militantes do Levante Popular da Juventude, ligado ao PSOL, por exemplo, chegaram a tocar seu tambores e entoar seus cânticos, sem nenhuma preocupação com o som que vinha das caixas.

A parte política do ato, já na metade final do evento, não alterou muito o panorama. Discursaram os presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Aldo Rebelo, recém-filiado ao Solidariedade.

Em discursos rápidos, Boulos falou de de sua viagem à Cisjordânia e da “opressão do exército de Israel” e Manuela elogiou Lula e defendeu a “resistência” em Curitiba. Rebelo, pelo contrário, quase não conseguiu discursar. O mais novo aliado do deputado Paulinho da Força (SD-SP) foi vaiado do começo ao fim e xingado de golpista enquanto discorria sobre unidade política.

Escolhida por Lula como sua principal interlocutora, Gleisi Hoffmann falou um pouco mais, cerca de 17 minutos. Ela elogiou o ato e seus participantes e leu uma carta em que o petista comparava seu governo com o do presidente Michel Temer (MDB).

A senadora paranaense terminou seu discurso pedindo para que as pessoas não acreditassem na “mídia” que diz que o PT terá outro candidato nas eleições.

“Se falarem em ‘Plano B’, não acreditem”, disse Gleisi, contrariando a declaração dada horas antes pelo ex-governador da Bahia Jaques Wagner, para quem o PT pode indicar o vice na chapa de Ciro Gomes (PDT).

Quando a presidente do PT assumiu o microfone, Wagner e outros líderes petistas já tinham ido embora. Gleisi reuniu quem havia restado sobre o palco para uma foto, enquanto uma mestre de cerimônia pedia rapidez para todos descerem. Caberia a cantora Ana Cañas fechar a noite.

Com informações da Veja