Dodge e Cármen Lúcia sambando na cara do povo

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A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apareceram hoje felizes e contentes num vídeo que está circulando na internet. A cantora Alcione publicou em seu Instagram um vídeo com as duas, cantando a música “Não deixe o samba morrer”.

Isso aconteceu hoje pela manhã, no seminário Elas por Elas, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília, cujo tema era Mulher no Poder Estatal e na Sociedade.

Sério, Cármen e Raquel?

Depois de ver a cena, fiquei pensando. Já que vivemos um golpe de estado (no qual ambas têm um papel central), não seria o caso de o povo cantar de volta uma nova versão desse clássico? Minha sugestão é: “Queridas, não deixem o povo morrer, não deixem a democracia acabar!”.

Gostaria de dizer às ilustres figuras que nós, mulheres, queremos mais democracia, pois dignidade e igualdade de oportunidades não acontecem porque as fofas resolveram cantar e sambar… Jamais dignidade e igualdade de oportunidades conseguem florescer em um estado de exceção. Muito menos num governo golpista, corrupto, composto por velhos brancos e ricos – como o atual, que, finalmente, está por acabar.

Gostaria de dizer a essas duas mulheres (que, para serem grandes, deveriam ao menos honrar os cargos que ocupam) que mulheres e crianças brasileiras estão chegando aos hospitais por causa de queimaduras graves, devido ao uso de lenha, já que  o gás de cozinha virou coisa de gente fina.

Também é bom lembrar que milhares de mulheres deste país, que recebiam o Bolsa Família para alimentar seus filhos, estão vendo novamente a fome ocupar a cabeceira da mesa devido aos cortes do governo ilegítimo. O prato e a barriga vazia tornam indignas as vidas de milhares de mães, que sentem a dor da fome e a dor humilhante de não ter o que dar de comer aos filhos.

Sambem, riam, cantem! Hoje vocês estão aí, representando mal e porcamente as mulheres, gravando vídeos divertidos enquanto as políticas de combate à violência contra a mulher estão sendo desmontadas por um governo que vocês ajudam a sustentar. Aproveitem, divirtam-se! Isso mesmo!

Mas saibam de uma coisa: num país em que um golpe de estado impera (com a anuência, a ação e a omissão de vocês), muitas são as mulheres de LUTA. E nenhuma delas vai esmorecer. Dias melhores virão, pelas mãos daquelas de fibra, guerreiras que não desistem da democracia. E, pelas mãos dessas mulheres, a biografia de vocês, golpistas, será jogada no lugar de direito: a lata do lixo da história.

Meire Cavalcante é jornalista, mestra e doutoranda em educação e editora do Blog da Cidadania.