Em SP pode haver militarização do Poder Legislativo
Na esteira de candidaturas de militares como a do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), membros de forças de segurança dobraram entre os que disputam uma das 94 vagas para deputado estadual de São Paulo.
O percentual de policiais e militares que pleiteiam um lugar na Assembleia Legislativa passou de 44 (2% do total), em 2014, para 88 (4%), segundo levantamento com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A alta nos candidatos da chamada ‘bancada da bala’ é uma das poucas alterações em um cenário que deve reforçar o establishment político, com estagnação de candidaturas femininas e de não brancos, por exemplo.
O maior responsável pelo aumento de agentes de segurança na eleição paulista é o partido de Bolsonaro, o PSL, com 32 candidaturas.
O próprio presidente estadual da sigla, deputado federal Major Olímpio, vem da Polícia Militar. “O fato de eu estar no partido acabou sim atraindo mais profissionais da segurança pública e até das Forças Armadas. Mas a grande alavanca sem a menor dúvida foi o Jair Bolsonaro”, afirma ele, que concorre a uma vaga ao Senado.
De acordo com Olímpio, dos 66 PMs paulistas que se afastaram para disputar as eleições, 22 são do PSL. “Com o descrédito na política, há uma mobilização nacional pela participação mais efetiva das forças de segurança no processo eleitoral, pois a tendência é a população se espelhar em quem tem mais credibilidade”, disse.
O levantamento da Folha inclui candidatos que se declararam como policiais militares, civis, militares da ativa e aposentados e bombeiros. O percentual de agentes de segurança pode ser ainda maior, já que alguns desses candidatos podem declarar outras profissões ao TSE —no caso de policiais que entraram para a política e se identificam como vereadores, por exemplo.
Para Maria do Socorro Braga, professora de ciência política da Universidade Federal de São Carlos, em meio à sensação de insegurança no país, candidatos ligados ao combate à violência podem levar vantagem.
“Há aumento da violência na sociedade e os governantes, especialmente estaduais, não conseguiram reduzir essa criminalidade”, afirma. “Nessa conjuntura, representantes desses setores acabam tendo a percepção de que eles podem ter vantagem e espaço num eleitorado que está muito descrente”.
Entre os policiais que se inspiraram em Bolsonaro para concorrer está Luiz Carlos de Paula (PSL), 43, cujo nome de urna é Capitão América de Paula. Em evento recente do presidenciável no começo do mês, ele apareceu caracterizado como o herói —fantasia que usa em ações de apoio a crianças com câncer.
Baleado há cinco anos durante uma tentativa de assalto, ele defende uma política de segurança mais linha dura. “Acho que a gente tem que parar de dar tanto crédito para bandido. Me identifico totalmente com os ideais do Bolsonaro”, disse.
Outras demandas sociais, como a maior participação de mulheres na política, permanecem estagnadas. Há quatro anos, 31% dos candidatos a deputado estadual eram mulheres. Neste ano, houve alta de apenas um ponto percentual.
Essa fatia é muito próxima do piso estabelecido pela legislação, que prevê que ao menos 30% dos candidatos devem ser do sexo feminino nas disputas aos cargos proporcionais –deputado federal, deputado estadual e vereador.
Para a professora Maria do Socorro, ainda falta poder das mulheres dentro da estrutura intrapartidária. Isso pode acarretar, por exemplo, que as decisões sobre quais mulheres disputarão a eleição continuem passando pelo crivo apenas de homens, que ainda escolhem pessoas próximas a eles.
O perfil padrão de quem tenta entrar na Assembleia é de homens brancos beirando os 50 anos (veja quadro ao lado). Dos atuais 94 deputados, 83% tentarão a reeleição –são 68 homens e apenas 10 mulheres.
Na liderança da maior bancada da Assembleia, o PSDB, Marco Vinholi admite que o índice de renovação será baixo, mas afirma que o partido deve aumentar significativamente a participação feminina. Hoje, só três dos 19 deputados tucanos são mulheres.
As apostas femininas do tucanato devem entrar na disputa usando o recall de sobrenomes de homens conhecidos do partido. “É Carla Morando, esposa do Orlando Morando [prefeito de São Bernardo]. É Sandra Santana, candidata do Celino Cardoso [deputado estadual]. É a filha do [deputado federal] Ricardo Tripoli, que é a Giovanna”, diz.
Vinholi afirma não ver de maneira negativa a pouca mudança na Casa. “Eu acho que a turma que vai se reeleger tem um bom trabalho.
Sem doações de pessoas jurídicas, as grandes legendas estão investindo em nomes mais mais conhecidos, com condições de se eleger com menos dinheiro.
O PSDB, por exemplo, reduziu em 41% o número de candidatos, que passaram de 94, em 2014, para 55 neste ano.
Já os partidos menores têm estratégia distinta. O top 5 de legendas com mais candidatos é formado por Pros, Avante, Podemos, Patriota e PSL.
Da FSP.