Polícia investiga obras do metrô de São Paulo
A Polícia Civil investiga se assistentes de um perito designado pela Justiça negociaram com a Andrade Gutierrez um acordo para favorecer a empreiteira em um processo que a companhia move contra o Metrô de São Paulo.
A perícia balizará uma decisão judicial sobre uma disputa de cerca de R$ 400 milhões entre as duas empresas.
A construtora processou o Metrô em 2016, depois de ter sido multada e afastada das obras da linha 17 -Ouro, devido ao atraso em sua execução.
Em fevereiro deste ano, o departamento jurídico da companhia de transporte recebeu uma denúncia de Paulo Henrique Mendes, que dizia ser engenheiro de uma prefeitura.
Segundo ele, dois assistentes do perito indicado pela Justiça teriam negociado com representantes da Andrade Gutierrez elaborar um relatório favorável à empreiteira.
Além disso, o perito oficial, Ivan Maya de Vasconcellos Jr., não poderia realizar esse serviço por estar senil, conforme Mendes.
O Metrô, então, encaminhou uma notícia crime ao Ministério Público, que pediu à Polícia Civil a abertura de um inquérito. As investigações começaram em junho pelo departamento de crimes contra a administração da polícia de São Paulo.
Em março, a peritagem foi suspensa pela juíza que assumiu o processo, Maricy Maraldi, por haver “hipótese de mácula no procedimento”, segundo informou o Tribunal de Justiça de São Paulo.
A linha começou a ser construída em 2012, e hoje a previsão é que fique pronta em dezembro de 2019. O custo total estimado é de R$ 3,7 bilhões.
Outro lado
A acusação encaminhada pelo Metrô ao Ministério Público recai sobre os assistentes do perito, que teriam procurado a empresa para negociar um acordo de favorecimento.
Há três especialistas listados no processo. Procurado pela coluna, Joaquim Feneberg afirmou que como a “situação está indefinida”, não se sente à vontade para dar declarações.”
Jan Feneberg, seu filho, diz não ser assistente do perito do caso, mas, sim, de seu pai. “Enquanto não houver solução [para o inquérito], não vou responder.”
O terceiro profissional, Guilherme Toscano, afirma que não só não teve contato com a Andrade Gutierrez como só foi incluído entre os assistentes recentemente, após o Ministério Público ter recebido a acusação.
O perito titular, Ivan Maya de Vasconcellos Jr, diz que não comenta porque o caso está em julgamento. Funcionários de seu escritório relatam que Vasconcellos Jr. tem 86 anos e sofre de mal de Parkinson.
Apesar dessas circunstâncias, Vasconcellos Jr. consegue fazer seu trabalho, desde que lhe sejam passadas informações que ele mesmo não tem condições de recolher, diz Toscano, o assistente que foi procurado após a denúncia.
A Andrade Gutierrez afirmou, em nota à coluna, que “não houve qualquer tipo de ‘contado indevido’ com o perito contratado” e que está à disposição das autoridades para “sanar qualquer mal entendido em relação ao tema”.
O Metrô, por sua vez, informou que enviou uma representação ao Ministério Público para que os fatos fossem investigados por órgãos competentes, e que tem acompanhado a investigação da polícia.
Banco de peritos
A perícia sob suspeita foi orçada em R$ 535 mil, a ser paga inicialmente pela Andrade Gutierrez, que pediu a prova. Os peritos apontados são de um banco de auxiliares da Justiça.
As partes podem tentar impedir a indicação de um profissional no decorrer da ação e solicitar a sua suspensão. O Metrô diz ter discordado do perito designado, mas que o primeiro juiz encarregado do caso não aceitou seus argumentos.
Com informações da Folha de S. Paulo.