Ato pró Haddad leva milhares de pessoas aos arcos da Lapa no Rio
O candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, e sua candidata a vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), participaram de um ato político na noite desta terça-feira na Lapa, região central do Rio de Janeiro. Segundo os organizadores, o evento, denominado Ato da Virada, reuniu cerca de 70 mil pessoas no largo dos arcos. A PM não fez estimativa de público.
O clima de festa e de esperança da militância por uma vitória contra Jair Bolsonaro (PSL), que tem liderado todas as pesquisas de intenções de voto, só foi quebrado durante discurso do rapper Mano Brown, que admitiu chance de derrota petista.
Com a voz rouca e depois de seguir uma agenda cheia no Rio, Haddad foi o último da noite a falar. Ele rebateu uma declaração dada de manhã por Bolsonaro em um ato no Piauí, em que o candidato do PSL disse que é preciso acabar com o “coitadismo” de negros, mulheres, homossexuais e nordestinos.
“Hoje no Piauí ele falou que vai acabar com o coitadismo. Quero dizer a ele que ‘coitado é você’. É vazio, não é nada, é um soldadinho de araque que só fala grosso porque tem gente armada a sua volta, não pode ver jornalista livre”, discursou Haddad, relembrando também outro episódio desta manhã, em que o jornalista Juremir Machado abandou um programa da Rádio Guaíba por não poder fazer perguntas a Bolsonaro durante uma entrevista.
“Hoje um jornalista se demitiu no Rio Grande do Sul por sofrer censura dele. [Bolsonaro] é uma pessoa vazia que não teve nada a dizer em sete mandados. Dinheiro público jogado fora, só vomitando ódio”, discursou o petista para uma plateia empolgada. Em seguida, ele afirmou que Bolsonaro precisa de “tratamento”. ”
Não sai nada dele, só o pior do ser humano. Tem como ídolo não quem vocês têm como Lula, Mandela e Martin Luther King, mas tem o torturador Ustra como ídolo. Um sujeito desse deveria estar recebendo recursos da Câmara Federal para tratamento psicológico”, completou.
O ato foi organizado por artistas e o movimento Vira Voto, que também acontece em outras cidades do país, com o objetivo de conquistar o voto de indecisos ou mesmo de quem apoia o candidato do PSL.
Encabeçados por Caetano Veloso e Chico Buarque, outros artistas também estiveram no evento, como o dramaturgo Aderbal Freire Filho, os atores Marieta Severo, Tônico Pereira, Juliana Alves, Leticia Sabatela, Humberto Carrão, Mariana Lima, Chico Diaz, Caco Ciocler, Leticia Colin, Danilo Mesquita e Luís Miranda, a cantora Zélia Duncan, a escritora Conceição Evaristo, o humorista e escritor Gregório Duvivier, entre outros.
O discurso do rapper Mano Brown chamou a atenção, mas pelo tom pessimista que gerou uma saia justa e chegou a provocar vaias dos presentes.
“Vim representar a mim mesmo e não representar ninguém. Não gosto de clima de festa, e a cegueira que atinge lá atinge cá também. Tem mais 30 milhões de diferença de votos, não tem margem para alcançar. Não estou pessimista, estou realista”, declarou Mano Brown.
“Gente que me servia café, que atende meu filho no hospital, viraram monstros [de raiva]. Falar bem do PT é fácil, tem que falar pra uma multidão que precisa ser conquistada, senão vamos cair no abismo”, disse o músico, que começou a gerar vaias na plateia.
“Prometi que não ia subir em um palanque. Tenho amigos se separando e uns que não posso mais olhar no olho por causa de política. O Partido dos Trabalhadores tem que entender o povo”, completou.
Logo em seguida, Caetano Veloso tomou o microfone e contemporizou a fala de Mano Brown. “Ele trouxe complexidade [aos discursos]. Há meios de dizer àqueles que se deixaram hipnotizar por essa onda. Estou aqui por isso, assim como vocês e Mano Brown. O que estamos para defender aqui é dignidade de cada brasileiro”, disse o baiano.
Chico Buarque também defendeu Mano, mas com uma postura mais otimista. “Entendo o que Mano disse, tendo a concordar, mas ainda tendo a acreditar que podemos virar o jogo. Cristãos e coxinhas votaram no fascista, e vendo as barbaridades, a matança de gays, de capoeiras e outros, podem votar no PT. Acredito que o povo da periferia que votou contra si mesmo talvez vire o voto. Queremos paz e alegria”, completou Chico.
Haddad disse que era preciso ouvir com atenção as palavras de Mano Brown. “Entendo e respeito muito o que você disse, Mano Brown, e primeiro porque veio aqui. O que ele disse é sério, as pessoas da periferia estão com ódio. Estão desempregadas, tiveram que deixar a universidade, precisamos abraçar e conversar com essas pessoas, não são nossos inimigos. É sério o que ele disse, essas pessoas precisam de acolhimento”, discursou Haddad.
O candidato, porém, emendou uma fala mais otimista do que a do músico. “Vamos ganhar a eleição. Não tenho dúvida”, bradou. “Bolsonaro disse em discurso transmitido na Avenida Paulista no domingo que, depois das eleições, eu teria dois destinos: a prisão ou o exílio. Resolvi derrotar Jair Bolsonaro no domingo.”
Na noite de 28 de julho, o mesmo lugar reuniu milhares de pessoas em um show do Festival Lula Livre, em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com Gilberto Gil, Beth Carvalho, Chico César, Chico Buarque, entre outros artistas.
Alguns dos artistas discursaram em defesa da continuidade da democracia, atacando o oponente de Haddad. “Liberdade é isso aqui. Sou da zona norte do Rio. Liberdade é andar de carro na favela e não tomar tiro. Vamos conseguir nosso direito e liberdade. As mulheres negras não vão se calar”, declarou a atriz Juliana Alves.
Gregório Duvivier também aproveitou para dizer que apoia a eleição de Haddad, mas que fará oposição ao governo dele, por ser uma função dos humoristas.
“Estou aqui porque nem todo humorista é de direita. Humor não é ofensa, não tem nada a ver com isso. Se Haddad ganhar vamos fazer oposição a ele no Greg News mas se o outro ganhar talvez a gente não possa. Tento virar voto todo dia. Tô um chato do 13”, disse Gregório que ouviu durante sua fala “fora Gentili”, do público, em referência ao humorista Danilo Gentili, apoiador de Bolsonaro.
Na noite de 28 de julho, o mesmo lugar reuniu milhares de pessoas em um show do Festival Lula Livre, em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com Gilberto Gil, Beth Carvalho, Chico César, também Chico Buarque, entre outros artistas.
Além das referências a Marielle Franco, vereadora assassinada em março no Rio, não faltou a “presença” de Lula no evento em bandeiras. Camisetas, broches e até copos do ex-presidente eram vistos e vendidos.
Victor Hugo Maulaz, 33, universitário, fez mil copos com o rosto de Lula. Durante toda campanha de Haddad em São Paulo e no Rio, já vendeu 700. Em pouco mais de uma hora de evento na Lapa, ele já tinha vendido 80 unidades a R$ 10.
“Só faço faculdade de engenharia por causa do PT. Sou autônomo e tenho Fies [financiamento estudantil]. Estou investindo em mim”, disse.
O público lotou não só o largo dos Arcos da Lapa como também os trilhos do bonde sobre o monumento.
Da UOL