Bolsonaro vira candidato dos banqueiros
Os mercados, em geral, não gostam de extremos. Mas, quando há um extremo muito contra suas convicções, o efeito natural é o mercado se ligar ao polo oposto, independentemente de qualquer outro critério razoável de análise.
Assim, o antipetismo do mercado olha Bolsonaro com muito bons olhos.
É o extremo viável na eleição que barraria as sandices econômicas que já sabemos que virão do PT.
De fato, Haddad não tem dado sinais de convencer o mercado de que fará algo muito diferente do que se viu em 13 anos de governo. O problema maior é que não há tempo a perder.
Se em 2011 era possível aceitar Dilma com toda sua inoperância política, agora a crise já está instalada nos porões da casa. Sem a reforma da Previdência, todo o regime fiscal que começou a ser criado em 2016 vai por água abaixo.
Não ajuda no discurso petista dizer que vai parar as concessões de óleo e gás para esperar a Petrobras se fortalecer, revogar a reforma trabalhista e taxar o spread bancário.
Ou seja, mais do mesmo, e isso o mercado sabe muito bem onde dará. É crise na certa.
Bolsonaro, por outro lado, agrada ao mercado pelo seu provável superministro da Fazenda, Paulo Guedes.
A agenda ultraliberal do candidato é o ar de continuidade das políticas que Michel Temer começou a fazer em 2016.
Vale dizer que Bolsonaro não é o candidato dos sonhos do mercado. Alckmin sempre teve esse papel, mas essa terceira via se provou malfadada e o mercado vai com o que é possível, literalmente.
Não há nesse cálculo nenhum componente político. O encanto pela agenda liberal é na economia, só que a grande dúvida é qual a viabilidade disso tudo.
Guedes ainda parece errático em suas propostas. Vai vender as estatais ou não? Qual a reforma tributária afinal? A reforma da Previdência é a que está no Congresso ou vai para o regime de capitalização?
São dúvidas que o mercado não ignora, mas que para ele parecem mais razoáveis do que a agenda petista.
Mas a curva de aprendizagem de Guedes e Bolsonaro no governo coloca a dúvida também se haverá tempo hábil para errar. Atrasar as reformas coloca a agenda fiscal em rota de colisão não muito diferente do que o PT entregaria.
Se o candidato é autoritário ou não e se seu vice-presidente aludiu a um autogolpe se necessário, não são questões relevantes para o mercado.
Se ele acha que as reformas vão ser feitas é o que importa, mesmo com toda a irrealidade das propostas.
Por isso, há uma grande chance de a lua de mel do mercado com Bolsonaro acabar em divórcio nada amigável se ele não mostrar viabilidade política real para sua agenda.
Da FSP.