Comandante da PM rebate Doria: PM não existe para matar, mas para proteger vidas

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Um dia depois de João Doria, candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, ter afirmado que a polícia deve atirar para matar, o coronel Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da PM (Polícia Militar), afirmou ao UOL, nesta terça-feira (2), que a corporação tem como principal matriz a preservação da vida e que, para isso, os policiais devem atuar de forma técnica e legal.

Doria afirmou nesta segunda-feira (1º) que, a partir do ano que vem, caso seja eleito, a polícia deve ser letal. “Não façam enfrentamento com a Polícia Militar nem a Civil. Porque, a partir de 1º de janeiro, ou se rendem ou vão para o chão”, disse em entrevista à Rádio Bandeirantes. “Se fizer o enfrentamento com a polícia e atirar, a polícia atira. E atira para matar”, complementou o ex-prefeito da capital.

O comandante-geral da PM afirmou que não opinaria diretamente a respeito do que disse o candidato tucano, mas, sim, sobre a técnica que a PM deve utilizar independentemente de quem seja o governador. “Qualquer polícia do mundo é feita para conter a violência. É um instrumento do estado, a representação física para conter a violência”, argumentou.

“Sendo muito técnico, porque a polícia é uma instituição apartidária, devo dizer que a opção do confronto é do infrator da lei, não do policial. O policial só deve fazer uso da força, de forma progressiva, quando se vê numa situação em que deve se defender ou preservar a vida de um terceiro”, disse o comandante à reportagem.

O comandante se diz preocupado com a sociedade que aplaude a letalidade policial, que bateu recorde em 2017. Com 939 mortos pelas polícias civil e militar, o ano passado foi o que a letalidade policial bateu recorde histórico desde o início da contabilização dos dados, em 1996. Em contraposição, o ano passado registrou o menor número de policiais mortos.

“Temo muito quando fazem esse tipo de declaração e a própria sociedade que a aplaude. Essa sociedade é a mesma que vai condenar o policial no júri. As pessoas não sabem o que acontece depois de um evento morte. O PM é processado, tem que constituir advogado. É ruim para ele [policial] e para a sociedade. Ninguém ganha com isso”, afirmou o comandante.

“Acho que os candidatos poderiam se preocupar em defender o policial que está em serviço e aprimorar o sistema de segurança como um todo. Uma das colunas mestres da instituição é a preservação da vida”, complementou o coronel. Nenhum dos três primeiros colocados nas pesquisas aponta a letalidade policial como problemática. As medidas propostas por ambos têm como principal função manter a queda nos homicídios e fortalecer os policiais.

Comandante da PM desde 26 de abril deste ano, Salles é amigo do candidato à reeleição Márcio França (PSB), que o nomeou. Ele é considerado, por colegas do oficialato, como defensor dos direitos humanos e agregador.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que a “Polícia Militar não comenta declarações dos candidatos sobre suas propostas de governo”, mas salientou que sua postura “sempre será legalista”. A campanha de João Doria disse que o candidato não tem interesse de se manifestar sobre o assunto.

Da UOL.