Das 123 fake news encontradas por agências de checagem, 104 beneficiaram Bolsonaro
Em cerca de 70 dias desde o início da campanha eleitoral, as iniciativas de checagem de fatos tiveram de desmentir mais de 100 boatos contra o candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) e seu partido. Levantamento do Congresso em Foco mostra que, ao todo, foram 123 checagens de boatos diretamente ligados a Haddad e ao candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) desmentidos desde 16 de agosto.
As agências de checagem Lupa e Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do Grupo Globo, tiveram de desmentir pelo menos 104 “fake news” contra Haddad e o PT e outras 19 prejudiciais a Bolsonaro e seus aliados.
A reportagem procurou ambas as campanhas. A assessoria de Haddad afirmou que não se manifestaria e a de Bolsonaro não respondeu aos contatos até a publicação. O espaço está aberto para ambas as partes.
O total de 123 checagens de notícias falsas é equivalente a quase dois boatos desmentidos por dia até esta quinta-feira (25). Algumas das mentiras mais espalhadas tiveram de ser esclarecidas pelas três iniciativas de checagem.
É o caso do boato que atribui a Haddad uma declaração que nunca existiu. A mentira espalhada afirmava que o petista tinha dito que crianças passam a ser “propriedade do Estado” ao completarem cinco anos. O candidato, que nunca disse isso, conseguiu uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 25 de setembro, que determinava a retirada imediata do post com a mentira. Contudo, dois dias depois, a Lupa verificou que a imagem continuava em posts no Facebook.
Contra Bolsonaro, as principais notícias falsas estavam ligadas à facada da qual foi vítima no dia 6 de setembro. Entre as mentiras espalhadas estavam a de que o candidato teria chegado andando ao hospital em Juiz de Fora (MG) após ter sofrido o atentado. A imagem, em que ele aparecia com a mesma roupa que usava ao ser esfaqueado, foi tirada mais cedo naquele dia.
Uma teoria da conspiração também afirmou que a facada foi uma armação para esconder um câncer do candidato – doença que os médicos que trataram o candidato desmentiram.
Os candidatos a vice nas chapas de ambos os candidatos à Presidência também foram alvos de notícias falsas. A mais recente foi reproduzida pelo próprio Haddad, que mais tarde reconheceu o erro. Durante sabatina a veículos do grupo Globo, o petista disse que Mourão foi um dos torturadores do cantor Geraldo Azevedo.
No dia 19 de outubro, durante show em Jacobina (BA), Geraldo Azevedo disse que foi preso duas vezes na ditadura e que foi torturado. O músico acusou Mourão de ser um de seus torturadores em 1969. Mas, naquela época, o hoje general tinha 16 anos e não estava nas Forças Armadas. Após constatar que havia se equivocado, Geraldo pediu desculpas pelo “transtorno causado”. Mourão afirmou que processará ambos.
A vice de Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB), foi alvo de manipulações de imagens e declarações falsas atribuídas a ela.
Uma das mentiras usou a frase do cantor John Lennon, ex-vocalista dos Beatles, sobre ser mais popular que Jesus. A agência Aos Fatos e o Fato ou Fake desmentiram que a deputada gaúcha tenha dito “somos mais populares que Jesus”. Na realidade, Lennon disse a frase há 52 anos, em 1966, para um perfil publicado no jornal inglês London Evening Standard.
Entre as manipulações de imagens, uma camiseta usada por Manuela, em que se lia “rebele-se!” foi digitalmente alterada para “Jesus é travesti”.
Entre os boatos mais compartilhados nas redes está a foto que supostamente seria de um “ato pela saúde de Bolsonaro”, após o candidato ser esfaqueado durante ato de campanha. Segundo levantamento da Agência Lupa, essa foi a “notícia” falsa mais compartilhada no Facebook durante o período do primeiro turno, com 238,3 mil compartilhamentos.
A própria Lupa, Aos Fatos e Fato ou Fake mostraram que a foto registrando milhares de pessoas em uma avenida era, na verdade, de torcedores assistindo a um jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo em Campinas (SP), e não na porta do hospital onde Bolsonaro estava internado, como diz a legenda.