Em município da Bahia, 8 em cada 10 habitantes votam no PT
No município de Teodoro Sampaio (BA), a 96 km de Salvador, achar algum eleitor que não seja admirador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT é tarefa difícil. Do bêbado do bar da praça central ao agricultor montado em uma égua, a ampla maioria faz questão de manifestar o voto “no candidato do Lula” ao primeiro sinal de que a política é o tema do bate-papo.
“O nordestino é PT. O povo é Lula doente, porque gosta de ter moto, carro, pobre também gosta de estudar”, disse a comerciante Ana Clara dos Santos, de 48 anos. Ela diz que até conhece “um ou outro” teodorense que votou em Bolsonaro “porque o PT se estacionou muito e não cuidou do desemprego e da segurança”, mas esse eleitor é artigo raro na cidade.
Na cidade de 7.895 habitantes, conforme o IBGE, e uma economia baseada exclusivamente na agricultura – 345.º PIB entre os 417 municípios da Bahia, e com IDH baixo (0,594) – o candidato do PT, Fernando Haddad, teve 81,98% dos votos válidos, contra 7,33% de Jair Bolsonaro (PSL) e 5,47% de Ciro Gomes (PDT).
A vantagem do petista é explicada em poucos minutos e econômicas palavras por gente como o aposentado Nelson Pereira Costa, de 58 anos: “Lula deu muitas condições para a gente que é fraco, ele deu as coisas a nós”. “Eu voto no PT porque ele dá condições ao pobre. Não voto no Haddad, eu voto é no PT, no Lula, no 13”, completa o aposentado Wilson Vaz da Silva, cadeirante, de 47 anos.
Pelo menos em Teodoro Sampaio a tensão entre petistas e bolsonaristas não chegou. Mas manifestações como a de apoiadores de Bolsonaro oferecendo capim a nordestinos repercutem até mesmo nos grotões. “A gente não é cavalo, não é boi, como eles pensam”, lamenta o vaqueiro José Costa, de 28 anos.
A equipe de reportagem do Estado conversou com mais de 20 pessoas da cidade durante a sexta-feira, em pleno feriado de 12 de outubro, entre entrevistas e pedidos de informação, até encontrar um eleitor que não fosse do PT. Era José Ives Cerqueira, de 49, conhecido como Ives da Câmara por causa do trabalho que exerce na Câmara Municipal, que votou no Bolsonaro.
Filho de um ex-vereador do MDB da década de 1970 e eleitor do PSDB, ele recorreu ao problema da segurança para justificar o voto no presidenciável do PSL. E criticou o PT por supostamente tentar “implantar nas escolas infantis” o que os bolsonaristas chamam de “kit gay”, um livro sobre orientação de gênero que a bancada evangélicacriticou quando Haddad era ministro da Educação de Dilma Rousseff (PT).
Ives viu a informação no WhatsApp e no Google, que ele afirma usar, assim como a TV, para ficar por dentro das notícias. É por esses meios que chegam até ele, também, os discursos do candidato sobre gays, negros e mulheres. Ives, no entanto, diz que não acredita “que ele vá matar ‘viado’, como estão dizendo por aí”. Para ele, o que importa “é que Bolsonaro tem projeto para resolver o que estamos vivendo na segurança”. “Ele tem a palavra dura que as pessoas não gostam de ouvir”, acredita o homem.
Ives foi um dos 335 teodorenses que depositaram o voto candidato do PSL – no município, Haddad teve 3.749 sufrágios e Ciro Gomes 250. Na média da Bahia, Haddad teve 60,28% dos votos, contra 23,41% de Bolsonaro nas eleições 2018.
Da FSP.