Fábrica de armas nega que suas ações subiram graças a Bolsonaro
As ações da fábrica de armas Taurus dispararam devido a proposta e Bolsonaro de aumentar o comércio de armas no país. A empresa nega que suas ações tenham subido por isso, mas a valorização de 160% ocorreu exatamente no período eleitoral.
O salto de mais de 160% nas ações da principal fabricante de armas brasileira se explica pela forte transformação na administração da empresa, diz Salesio Nuhs, presidente da Forja Taurus.
Analistas atribuem, porém, a valorização da companhia na Bolsa à expectativa do mercado pela vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na eleição.
A defesa que o candidato faz das Forças Armadas e da reformulação do Estatuto do Desarmamento poderia elevar a demanda no setor.
Nuhs não cita o cenário eleitoral local como explicação para a alta das ações e se limita a dizer que esse é um “fator externo sem nenhuma gerência por parte da companhia”.
Segundo ele, em entrevista por email à Folha, a Taurus vem passando por uma forte transformação em 2018, motivada pelo processo de reestruturação iniciado pela nova administração, com foco em melhoria nos processos produtivos, financeiros e comercias.
“Essas melhorias, bem como a restruturação da dívida, podem ter colocado a Taurus em perspectiva”, diz.
Ele acrescentou que a empresa apresentou o melhor resultado operacional desde 2009.
Nuhs assumiu a Taurus no início deste ano, após a renúncia de executivos em meio à situação financeira crítica da companhia, envolvida ainda em investigações sobre falhas em seus equipamentos.
Ele destaca o aumento de 22,9% na receita líquida no primeiro semestre do ano, ante mesmo período de 2017, a redução de quase 8% nas despesas, bem como o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) positivo de R$ 73,1 milhões, diante do resultado negativo de R$ 200 mil no ano passado.
O nível de endividamento da empresa, no entanto, ainda preocupa analistas. Chegou a R$ 805,7 milhões em junho, alta de 12,1% em relação a 2017.
Nuhs diz que a dívida é proveniente de administrações passadas. Ele destaca que neste ano realizou o reperfilamento da dívida da companhia com seus principais credores, incluindo alongamento de cinco anos, sendo um de carência, e juros 50% menores.
Com 84% das vendas destinadas ao exterior, sobretudo aos EUA —onde já tem uma fábrica e iniciou a construção de uma segunda em abril—, Nuhs afirma que “o mercado americano atravessou um período de normalização de demanda em 2017” com a eleição de Donald Trump.
Para o executivo, diminuir a dependência do Brasil é fundamental para a estabilidade da companhia, mas ele diz que investimentos em segurança pública —uma das principais bandeiras de Bolsonaro — impactariam positivamente a Taurus.
“Existe uma necessidade da formulação de políticas adequadas para enfrentar os problemas estruturais do setor, como a carência de produtos para operação e para treinamento das instituições policiais.”
Sobre a quebra do monopólio que detém no fornecimento de produtos considerados estratégicos à defesa nacional, hipótese também já levantada por Bolsonaro, Nuhs afirma que a Taurus não teme a concorrência porque já compete com empresas no exterior.
“Não acreditamos em grandes impactos, desde que a entrada de novos fabricantes no Brasil ocorra em iguais condições oferecidas para a empresa, sujeitando-se a todas as regulações, restrições e dificuldades, além da alta carga tributária que quem produz no Brasil enfrenta.”
Da FSP.