Haddad não ligará para Bolsonaro e diz que irá “olhar para o futuro”.
Fernando Haddad já não falava de uma possível virada sobre Jair Bolsonaro (PSL) na manhã deste domingo (28). Perto das 9h, quando chegou para tomar café da manhã com aliados, respondia ao otimismo de vários deles com o discurso de que a campanha do PT havia sido “vitoriosa independente do resultado”.
Dez horas depois, em um dos quartos do décimo quinto andar do mesmo hotel, repetiu a retórica e afirmou aos apoiadores que era preciso “manter a cabeça erguida”.
Nos últimos dois dias, a vantagem entre Bolsonaro e Haddad caiu de 12 para 10 pontos, segundo as pesquisas, e deu ânimo à militância. Nos bastidores, porém, o grupo mais próximo ao petista admitia que uma virada inédita na corrida presidencial era “muito difícil”. A opinião era também compartilhada pelo candidato.
Haddad saiu sereno da suíte que passou o fim da tarde e o início da noite deste domingo. Preferiu ficar a maior parte do tempo apenas com a família mas, vez ou outra, saía para falar com assessores, parlamentares, e até com a ex-presidente Dilma Rousseff, que ocupavam o quarto reservado para sua equipe.
Depois de assistir pela TV que, com 90% das urnas apuradas, Bolsonaro estava eleito presidente da República, Haddad conversou com os apoiadores, consolou alguns que estavam chorando e disse que era preciso “olhar para o futuro”.
Em seguida, reuniu-se reservadamente com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outros auxiliares para definir o tom de seu discurso. Falaria que era preciso ter “coragem” para defender a democracia e os direitos de quem votou nele, apresentaria-se como líder da oposição e diria que sua vida estava “à disposição do país”.
Antes de ir para o palco em que falaria por dez minutos, o herdeiro de Lula explicou aos mais próximos porque não telefonaria para Bolsonaro para cumprimentá-lo pela vitória.
Justificou que foi atacado pessoalmente pelo adversário e que o capitão reformado alimentou a disseminação de notícias falsas contra ele, a mais recente, e que deixou o petista indignado, dizia que ele havia estuprado uma menina de 11 anos.
Ao lado da mulher, Ana Estela, da mãe, Norma, e dos filhos, Frederico e Ana Carolina, Haddad não chorou.
Assessores dizem que ele estava com a sensação de “missão cumprida”, após ter sido ungido por Lula há 47 dias para concorrer ao Planalto.
Após uma derrota histórica —o PT voltou ao patamar de votos que teve na eleição de 1989, quando Lula disputou contra Fernando Collor—, Haddad não quer sair da vida pública, deve ganhar projeção no partido, e insistir na formação de uma ampla frente contra Bolsonaro.
Para chegar até aqui, dizem aliados, o herdeiro de Lula entendeu que é preciso ir além de seu partido se quiser ser o líder da oposição.
Da FSP