Mídia conservadora deu golpe na esquerda e foi esmagada pela direita

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A grande semelhança entre as bem-sucedidas campanhas eleitorais do americano Donald Trump, em 2016, e de Jair Bolsonaro, em 2018, é que os dois políticos conseguiram “matar” o mensageiro. Trump e Bolsonaro contornam a mídia tradicional e se comunicam diretamente com o eleitor de forma eficaz e conveniente.

No começo de 2016, quando a campanha presidencial nos EUA estava esquentando, Trump tinha 6,5 milhões de seguidores no Twitter (hoje tem 55 milhões).

Sua forma preferida de se comunicar com os eleitores era por vídeos, pelo Twitter e por entrevistas a jornalistas amigáveis, muitas vezes em sites que antes só eram conhecidos na blogosfera da direita, como Info Wars e BreitbartNews.

Ele também elege alguns âncoras —como Sean Hannity, da Fox News— para verbalizarem suas opiniões e passarem recados. E frequentemente faz transmissões ao vivo, pela internet, de seus comícios, escapando dos filtros jornalísticos.

O americano se provou um gênio na manipulação do ciclo de notícias. Toda vez em que uma notícia negativa começava a dominar as redes, ele conseguia mudar o assunto com um simples tuíte, normalmente em caixa alta e depreciando alguém.

Bolsonaro vai na mesma linha, com a diferença que o WhatsApp —ferramenta muito mais difícil de rastrear— é sua principal arma de campanha (nos EUA, a penetração do aplicativo é baixa).

Uma equipe de marketing distribui vídeos, mensagens e memes do candidato e de seus filhos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, para cerca de 1500 grupos de WhatsApp. Esse mesmo conteúdo digital é compartilhado pelos milhões de seguidores do candidato nas redes sociais.

Assim, a campanha consegue passar sua mensagem sem se submeter ao escrutínio de jornalistas, citar fontes nem ter que explicar eventuais contradições.

Bolsonaro tem hoje 1,6 milhão de seguidores no Twitter, 7,49 milhões no Facebook e 4,2 milhões no Instagram. Em comparação, seu adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT) tem 742 mil no Twitter, 808 mil no Facebook e 528 mil no Instagram. O ex-presidente Lula tem 3,9 milhões de seguidores no Facebook.

Nesta segunda (8), em entrevista a jornalistas em Curitiba, Haddad propôs a Bolsonaro um “pacto ético” contra as noticias falsas que proliferam na campanha.

Fiel a seu estilo, o candidato do PSL respondeu pelo Twitter: “O pau mandado de corrupto me propôs assinar ‘carta de compromisso contra mentiras na internet’. O mesmo que está inventando que vou aumentar imposto de renda pra pobre. É um canalha! Desde o início propomos (sic) isenção a quem ganha até R$ 5.000. O PT quer roubar até essa proposta.”

Bolsonaro não foi ao último debate do primeiro turno, na TV Globo, e deu uma entrevista à TV Record transmitida no mesmo horário, após o dono da emissora, bispo Edir Macedo, ter anunciado apoio a ele.

O brasileiro e o americano frequentemente demonizam a imprensa tradicional.

Nos EUA, Trump chamou a imprensa de “inimiga do povo”, evocando a retórica stalinista. Jornalistas eram rotineiramente hostilizados nos comícios de Trump, com estímulo do republicano.

Bolsonaro é crítico contumaz da Rede Globo e, neste domingo, apoiadores do candidato expulsaram uma equipe da emissora que fazia cobertura em frente ao condomínio onde vive o capitão reformado.
O brasileiro adotou ainda a conotação que Trump dá à expressão “fake news” —no léxico trumpista, críticas e notícias desfavoráveis são “fake news”, notícias falsas.

Para os bolsonaristas, isso inclui da revista Economist, bíblia do neoliberalismo, até o diário britânico Guardian, mais à esquerda, e, obviamente, todos os grandes veículos brasileiros. O candidato do PSL também conta com o apoio de sites obscuros amigáveis, como Conexão Política e Terça Livre.

Trump e Bolsonaro cultuam a imagem de líder linha dura, que fala o que pensa e não está nem aí para o politicamente correto. Personificam a rejeição aos políticos tradicionais, que não conseguiram resolver problemas de segurança, corrupção e da economia. É um modelo em ascensão no mundo: Rodrigo Duterte nas Filipinas, Viktor Orban na Hungria e Recep Tayyip Erdogan na Turquia são alguns exemplos.

Nos EUA, como no Brasil, o centro tecnocrático foi o grande perdedor das eleições como  produto dessa nova tendência –lá, na figura da democrata Hillary Clinton; aqui, com Marina Silva e Geraldo Alckmin (e o PSDB).

Economicamente, porém, há diferenças: Bolsonaro se vende como adepto do liberalismo e tem um guru econômico egresso ultraliberal; já Trump se apoia no nacionalismo e protecionismo.

Da FSP.