Moradores de áreas violentas votaram no PT
Os eleitores que moram nos municípios mais violentos do Brasil, onde as taxas de homicídio alcançam índices alarmantes, não votaram majoritariamente no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno da eleição presidencial. Embora dê enorme ênfase à questão da segurança pública em sua campanha, o candidato obteve resultados bem menores que os de Fernando Haddad (PT) nessas áreas.
Em todo o país, Bolsonaro concluiu o primeiro turno com 46,1% dos votos válidos, ante 29,3% de Haddad. Curiosamente, o cruzamento dos resultados da eleição com os dados do Mapa da Violência mostra números que contrariam o senso comum, de que Bolsonaro foi beneficiado pelo voto contra a criminalidade.
Caso a eleição fosse disputada somente nos municípios que registram mais de cem homicídios por ano a cada 100 mil habitantes, o candidato do PSL teria sido superado pelo petista pelos mesmos 17 pontos percentuais que conseguiu sobre Haddad no primeiro turno.
No polo oposto, ocorre o inverso. A vantagem eleitoral de Bolsonaro teria sido ainda maior se a eleição tivesse sido disputada apenas nas cidades que ostentam menos de dez homicídios por 100 mil habitantes. De maneira geral, quanto menos violento o município, melhor foi o desempenho do capitão da reserva.
Para chegar a essas conclusões, a reportagem do Valor agrupou os mais de 5.500 municípios brasileiros conforme a taxa de homicídios.
O pesquisador responsável pela elaboração do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, se disse surpreso com os resultados e arriscou uma explicação: o discurso agressivo de Bolsonaro “parece pegar mal nos municípios onde a violência homicida é uma realidade cotidiana”.
Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, diz que a sensação de insegurança, medo e fatores subjetivos associados à violência podem ser mais determinantes na definição do voto que a própria violência.
Da Valor Econômico.