Seja quem for o presidente eleito, terá baixo apoio no Congresso

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Seja Jair Bolsonaro (PSL) seja Fernando Haddad (PT) o vencedor do segundo turno, o próximo presidente da República terá uma base de apoio inconteste de apenas 10% da Câmara dos Deputados, o que aponta para a necessidade de composição para a aprovação de projetos e para a administração do país.

Apesar da onda de direita que multiplicou a bancada do nanico PSL de Bolsonaro, os partidos de esquerda conseguiram um leve aumento em sua representação na Câmara e vão ter até mais cadeiras que os de direita a partir de 2019. Nenhum dos dois lados seria, porém, capaz de assegurar sozinhos a maioria a qualquer que seja o presidente eleito.

No caso da vitória de Bolsonaro, é certo que a esquerda fará oposição ferrenha na Câmara e no Senado, com chance remotíssima de composição.

Já no caso de êxito de Haddad, a bancada bolsonarista se aliará aos parlamentares antipetistas, notadamente PSDB e DEM, em também presumível forte oposição.

Como nos anos anteriores, o fiel da balança será formado pelos partidos de centro, que têm histórico maleável o suficiente para compor com ambos os lados.

A Câmara que toma posse em fevereiro terá cerca metade das cadeiras renovadas. Em 2019, a fragmentação partidária será maior que a de agora, o que, para o governo, implica lidar com mais interlocutores. Atualmente, 25 legendas têm representação na Câmara; em 2019, serão 30.

Os sete partidos de esquerda e de centro-esquerda, atualmente ocupantes de 127 cadeiras, vão passar a ter 141. O PT elegeu a maior bancada, mas seus representantes vão cair de 61 para 56.

O aumento do número de integrantes da frente vermelha se deve ao progresso de PDT, PSB e PSOL, que vão ganhar, respectivamente, dez, seis e quatro integrantes.

Já cinco partidos de direita, alinhados com o ideário de Bolsonaro,mais que dobraram sua representação, passando de 43 para 104 deputados.

O salto se deve principalmente ao PSL, cuja bancada aumentou de 8 para 52 integrantes, e ao também conservador PRB (21 para 30).

A bancada de centro perdeu espaço para essas siglas, mas continua numerosa e representa 52% da Casa (268 deputados).

As baixas se deram nos maiores e mais tradicionais partidos. O PSDB, por exemplo, passará de 49 para 29 deputados; o MDB, encolherá de 51 para 33.

PP, PR e DEM, que atualmente formam um bloco com mais oito partidos, o chamado centrão, também minguaram.

A despeito de manter um discurso de campanha de que não negociará cargos e outras benesses da administração com os partidos, Bolsonaro já recebeu apoio das poderosas bancadas ruralista e evangélica da Câmara.

“Tem mais de 250 deputados apoiando ele, apoio sem negociata, mas com negociação. Se o partido vier com negociata, aí tá fora”, afirma o deputado Carlos Manato (PSL-ES), um dos aliados de Bolsonaro.

“Ele nunca foi inimigo do baixo clero e nunca levantou a voz contra Eduardo Cunha [ex-presidente da Câmara, hoje preso]. A tendência é que ele ceda ao sistema da qual faz parte e faça as negociatas que todo mundo fez. Até porque a ética dele é de fachada, ele sempre foi um deputado do fisiologismo”, diz o deputado Chico Alencar (RJ), do oposicionista PSOL.

Haddad também já faz acenos ao centro, buscando apoio contra o adversário.

Em fevereiro, Câmara e Senado elegerão seus novos presidentes. O novo ocupante do Palácio do Planalto tende a indicar um candidato.

O do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode tentar a reeleição. Mas deputados dizem que ele perdeu força ao embarcar na candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB), que ficou em quarto lugar. Um dos mais votados em São Paulo, o líder do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri, que é do DEM de Maia, disse nesta segunda (8) que vai tentar a presidência da Casa.

No Senado, a correlação de forças deve se manter estável. Quatro partidos de esquerda e centro-esquerda terão 17 nomes em 2019, contra 18 agora.

PT e PSB vão encolher, PC do B e PV deixarão de ter representantes. Mas Rede e PDT vão ganhar cadeiras e compensar essas baixas.

Haverá seis senadores de três partidos de direita. O PSL não tinha nenhum representante e estreará com quatro.

Os partidos de centro continuam tendo maioria (57 senadores na nona legislatura, contra 60 atualmente), mas agora os representantes estão pulverizados em mais partidos.

A possibilidade de um governo Bolsonaro colocou em alerta a bancada do MDB, que continua sendo a maior da Casa, apesar de ter reduzido de 19 para 12 parlamentares. Nos últimos meses, com sinais de insatisfação da bancada com a condução do atual presidente, Eunício Oliveira (MDB-CE), entraram em discussão os nomes de Renan Calheiros (MDB-AL) e Romero Jucá (MDB-RR) para o mais alto posto da Casa.

Na eleição, porém, Eunício e Jucá não foram reeleitos, o que fortaleceu o nome de Renan. A avaliação é de que ele teria trânsito fácil em eventual governo de Fernando Haddad (PT) por ter se alinhado com os petistas. O cenário com Bolsonaro (PSL) na presidência, porém, é incerto.

Há parlamentares que acreditam, inclusive, na possibilidade de o militar reformado não respeitar a regra dos tamanhos das bancadas e tentar impôr um nome do PSL à presidência do Senado.

Da FSP.