Sinal do fim dos tempos: modelos negras sofrem ataques racistas
Jovens negras entre 16 e 25 anos, moradoras do Distrito Federal e do Entorno da capital federal, foram alvos de ofensas raciais, no último sábado (13/10), em um grupo do aplicativo de mensagens WhatsApp.
Cerca de 180 moças participavam da seletiva de beleza do Top Cufa, no Shopping JK, em Taguatinga.
As mensagens criminosas foram postadas na internet. Nelas, um jovem identificado como Alex começa com os comentários racistas. “Está tendo um desfile só de negra aqui no (Shopping) JK. Coisa horrorosa”, diz. Uma pessoa participante do grupo pede, em seguida, para ele parar de falar ‘merda’.
Mas uma outra pessoa identificada apenas como Muniz aparece apoiando as ofensas e solta gargalhadas. “Mas é horroroso mesmo. Black moda week”, escreve.
Em seguida, a mesma pessoa publica foto de escravos enfileirados e compara a imagem com as jovens. Mais duas pessoas aparecem zombando das modelos.
Uma pessoa não identificada questiona em seguida: “achar preta bonita?”. Em seguida, o homem identificado como Alex ainda posta uma outra foto de um papel de parede totalmente preto, diz que são imagens do desfile e pede desculpas porque “a qualidade do celular é ruim”.
Uma discussão toma conta do grupo. Uma pessoa sem identificação demonstra uma indignação com as ofensas. Mas um dos integrantes defende os autores, justificando o ato como uma piada. “Só fizeram um comentário sobre o desfile está feio, em um sentido de brincadeira”, comenta.
Assim que as ofensas vieram a público, a Central Única das Favelas do Distrito Federal (Cufa-DF), que é organizadora do evento, emitiu nota repudiando o episódio. “A organização do Top Cufa-DF foi informada de atos de racismo realizados em um grupo de WhatsApp com ofensas direcionadas a nossas candidatas negras. Ressaltamos que nosso concurso tem um recorte territorial, porém apenas as candidatas negras foram alvo de ataques, demonstrando que os agressores têm com objetivo promover ataques racistas ao concurso.”
Os organizadores afirmam que o concurso busca o empoderamento de mulheres de comunidades e Entorno do DF e entende ser primordial o trabalho de autoestima e valorização da pluralidade em nossa sociedade. “Lembramos que injúria racial está especificado no artigo 140 do Código Penal, terceiro parágrafo. É quando se ofende uma ou mais vítimas por meio de ‘elementos referentes à raça, cor, etnia, religião e origem’. É um crime inafiançável. E racismo também está previsto em lei específica, a 7.716/1989. É um crime contra a coletividade.
O crime de racismo é inafiançável e imprescritível. A pena também vai de um a três anos e multa.
Por último, a Cufa-DF diz que é possível identificar todos os envolvidos. “Informamos também que crimes realizados em redes sociais são passíveis de identificação e punição e que estar em rede não significa estar invisível ou não passível de punição. Lamentamos que esse fato tenha ocorrido e nos solidarizamos com as vítimas afirmando que não somos nem jamais seremos coniventes com esse tipo de atitude e que continuaremos fortalecendo nossos projetos com a certeza que essa missão é necessária para a sociedade”, finaliza na nota.
Os organizadores registraram boletim de ocorrência na segunda-feira (15/10). O crime foi registrado como discriminação racial e está sendo investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, Orientação Sexual, Pessoa Idosa ou com Deficiência.