Bolsonaro causa turbulência diplomática antes mesmo de assumir posse

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Após o governo da França ameaçar não assinar um acordo comercial com o Mercosul caso o Brasil deixe o Acordo Climático de Paris, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não vai sujeitar o território brasileiro a colocações de outras nações.

“Sujeitar automaticamente nosso território, leis e soberania a colocações de outras nações está fora de cogitação. É legítimo que países no mundo defendam seus interesses e estaremos dispostos a dialogar sempre, mas defenderemos os interesses do Brasil e dos brasileiros”, escreveu no Twitter.

Nesta quinta-feira, 29, em Buenos Aires, o presidente da França, Emmanuel Macron, lembrou que houve um “compromisso claro” de que, em um eventual acordo com a União Europeia, todos os países do Mercosul teriam que respeitar os princípios do Acordo de Paris. Macron está na Argentina com líderes de todo o mundo para o encontro do G-20.

“Esses acordos comerciais contemporâneos precisam responder aos desafios contemporâneos. Ocorre que há uma mudança política maior no Mercosul que acaba de ocorrer no Brasil. Portanto, é do lado do Mercosul que a questão está colocada para saber qual é a natureza do impacto que essa mudança vai ter”, alertou.

Ele reforçou que não é favorável à assinatura de um acordo comercial amplo com potências que não respeitam o Acordo de Paris e que anunciam que não vão respeitar o Acordo de Paris. “Por uma razão simples: isso significa que eu me coloco numa situação em que eu demando de meus trabalhadores e a meus atores econômicos, a meus industriais a fazer esforços para se adaptar ao Acordo de Paris. É um sacrifício. Do outro lado, assinaríamos acordos comerciais com países que dizem abertamente que não há problemas de aquecimento climático, eu não faço esforços e continuamos”, disse. “Não avançaremos jamais assim. É uma questão de mudança do contexto geopolítico”, lamentou.

Nesta semana, o governo do Brasil anunciou que não irá mais sediar a COP25 em 2019, o que criou um mal-estar diplomático, obrigando a ONU a se apressar para procurar um novo lugar disposto a receber o evento.

A retirada da candidatura do Brasil foi decidida pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, que também indicou que o seu governo resistiria às propostas de compromissos climáticos. “Houve participação minha nessa decisão”, disse Bolsonaro, na quarta-feira. Ele explicou que existe a possibilidade de o País sair do acordo do clima e não quer “anunciar uma possível ruptura dentro do Brasil”.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro falou em sair do acordo do clima e, nesta semana, insistiu que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente. “Não pode uma política ambiental atrapalhar o desenvolvimento do Brasil”, ressalvou. “Hoje a economia quase está dando certo apenas – quase – na questão do agronegócio. E eles estão sufocados por questões ambientais que não colaboram em nada para o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente.”

Do Estadão