Brics veem Bolsonaro como “Cavalo de Troia” dos EUA

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Ao longo da última semana, veículos dos Brics se voltaram ao que Jair Bolsonaro pode representar para o grupo de emergentes —que o Brasil deve presidir em 2019.

Análises agressivas surgiram em sul-africanos e russos, chamando-o de “candidato da Manchúria, um político usado como boneco por outra potência”, os EUA, e até de “cavalo de Troia nos Brics”. A agência Tassouviu especialistas brasileiros para arriscar que “Brasil vai reduzir sua participação nos Brics”.

Já indianos e chineses não parecem saber bem o que esperar. O Hindu, em perfil, listou a sua coleção de ofensas, acrescentando, no final: “Mas agora ele é governo”.

Outros jornais chineses foram mais ameaçadores, mas o estatal China Daily, voltado a leitores no Ocidente, ouviu dois especialistas em América Latina, da Academia de Ciências Sociais e da Universidade de Nanquim, para concluir que o “futuro econômico do Brasil ainda não está claro”, sobretudo quanto aos Brics.

Em meio à desconfiança, Bolsonaro recebeu o embaixador Li Jinzhang e, no destaque da agência Xinhua, “disse que vai fortalecer ativamente a cooperação com a China”.

No destaque da Bloomberg, para a entrevista desta terça (6), “Bolsonaro volta atrás em propostas controversas”. Mais precisamente, “ele disse que quer expandir o comércio” com a China —e que mudar a embaixada em Israel para Jerusalém “não é ponto de honra”.

Até mesmo em países cortejados por Bolsonaro surgem dúvidas. Artigo no site Taiwan News sugere “cuidado na aproximação” com o brasileiro “de extrema direita”. Lembra que é “altamente improvável” que o Brasil troque a China por Taiwan e que sua visão sobre a democracia conflita com aquela dos líderes taiwaneses —e o aproxima da “ditadura chinesa”.

E até o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, apresentado no Ocidente como modelo mais próximo de Bolsonaro, parece querer distância. Seu porta-voz, Salvador Panelo, deu coletiva que resultou em títulos como “Não há comparação entre Duterte e o presidente eleito do Brasil”, do  Inquirer. Aquela que vem sendo feita por “comentaristas internacionais é inteiramente especulação”.

O centro de estudos Brookings, um dos mais influentes dos EUA em política externa, publicou análise de Harold Trinkunas, de Stanford, destacando que Bolsonaro “provavelmente vai acabar com o que resta de ‘soft power’ do Brasil no exterior”.

Em relação a Duterte, por exemplo, ele é ainda “mais explicitamente tingido de racismo, sexismo e homofobia”, o que reduz seu apelo internacional. Quanto às “relações carnais” com os EUA, repetindo a Argentina de Carlos Menem, o texto lembra que a estratégia não mudou a desatenção ao país característica de Washington —que abandonou Buenos Aires na crise financeira de 2001. Fechando o texto:

“As instituições brasileiras fariam bem em conter os voos mais selvagens de Bolsonaro, mostrando o ‘soft power’ inerente à democracia do país. Mas apostar nisso agora seria um erro.”

Da FSP